Após os estudos realizados recentemente pela EFSA para determinar os níveis de infecção em porcs de engorda e em explorações de mães espera-se que em breve se publiquem os objectivos de redução de prevalência de Salmonella em suínos para cada Estado membro da UE. Posteriormente, num prazo de 18 meses, será obrigatório arrancar com programas específicos para a detecção e o controlo de Salmonella. Neste artigo colocam-se algumas das questões que deverão ter-se em consideração tendo em vista a definição e implementação de um futuro Programa Nacional de Controlo.
Três são os pontos fundamentais a definir na preparação de um programa de vigilância e controlo contra a salmonelose suína:
1) Objectivos
A diferença dos Países Nórdicos nos quais se lograram atingir níveis muito reduzidos de prevalência e que portanto ainda permite ser realista pensar em objectivos de erradicação de Salmonella, na maioria dos Países Europeus o enfoque dos programas é o de atingir reduzir os níveis de infecção. Ao se tratar de uma infecção tão dinâmica e de difícil detecção já que existe geralmente de forma subclínica, o controlo da salmonelose deve abordar-se com uma perspectiva a médio-longo prazo.
2) Métodos de amostra (e provas de diagnóstico)
É necessário que no programa se defina um método standartizado de amostras com a finalidade que os dados recolhidos sirvam para estudar o nível de partida da infecção e poder avaliar a eficácia das medidas implementadas.
De que ferramentas de diagnóstico dispomos?
As principas ferramentas disponíveis para o diagnóstico da salmonelose suína são o cultivo bacteriológico (diagnóstico directo) e a análise serológica (diagnóstico indirecto). As suas principais vantagens e inconvenientes resumem-se nas Tabelas 1 e 2.
Tabela 1. Bacteriologia
Vantagens |
? Informação da percentagem de excretores activos que chegam ao matadouro. ? Permite conhecer serotipo, fagotipo e perfil de resistência antimicrobiana. ? Especificidade próxima a 100%. |
Inconvenientes |
? Baixa sensibilidade (excreção intermitente e em muito baixo número). ? Laboriosa e consome muito tempo (3-5 dias). ? Cara (inclusive se se utilizam “pooles”). ? Opção não válida no matadouro para conhecer a prevalência na exploração (contaminação cruzada no transporte e espera). |
Tabela 2. Técnicas serológicas
Vantagens |
? Melhor relação custo-eficácia: fáceis e rápidas (2-6 horas) e mais baratas que outras provas de diagnóstico directo. ? Úteis em estudos a grande escala. ? Bastante sensíveis. ? Facilidade de standartização entre laboratórios. |
Inconvenientes |
? Pouco específicas. ? Não são úteis para avaliar a prevalência a nível individual (variabilidade na resposta de cada animal) apenas se devem utilizar a nível de rebanho. ? Não permitem detectar infecções muito recentes (1 ou 2 semanas antes da recolha da amostra). ? Não permitem determinar o momento da infecção. ? É possível obter um resultado negativo em porcos que se infectaram há mais de 3 meses. |
São comparáveis os resultados serológicos e os bacteriológicos?
A bacteriologia e a serologia são provas diagnósticas que medem conceitos distintos (infecção actual vs prévia exposição a Salmonella com ou sem infecção actual) pelo que os resultados não são comparáveis entre si.
Podem comparar-se os resultados obtidos com diferentes kits de ELISA?
Não é muito recomendável já que os ELISAs disponíveis no mercado apresentam sensibilidades e especificidades muito diferentes. No caso de utilizar vários ELISAs dentro de um mesmo programa é necessário standartizar os resultados de todos os ELISAs a utilizar com a finalidade de obter resultados comparáveis. Por outra lado, influi o ponto de corte utilizado para classificar os positivos, dado que a capacidade de detectar animais seropositivos reduz-se significativamente quando o ponto de corte se incrementa. Outro aspecto não menos importante é o tipo de amostra analizada. A análise de suco de carne tem uma sensibilidade algo inferior que a análise de soro sanguíneo.
Além do mais, devido a que as provas actualmente disponíveis só detectam anticorpos contra os serogrupos B, C1 e alguns por D1 e E, previamente à eleição de um tipo de teste é muito importante avaliar a capacidade de cada um para detectar os serotipos mais prevalentes nas explorações suínas da região ou País onde se pretende utilizar.
Que amostras podem recolher-se e onde?
Para identificar explorações que estejam infectadas pode optar-se pela recolha das seguintes amostras e localizações:
? Sangue: na exploração -no final da engorda- ou no matadouro.
? Suco de carne (suco muscular, obtido normalmente a partir de músculo diafragma após a sua congelação e descongelação): no matadouro.
? Fezes: na exploração -não são uma opção no matadouro devido às contaminações cruzadas que se produzem durante o transporte e a espera no matadouro-.
? Gânglios linfáticos mesentéricos: no matadouro.
Na maioria dos casos a eleição do método de amostra será determinada pelos aspectos logisticos. Nas condições espanholas, dada a presença de ADS que já têm sistematizada a extracção periódica de sangue, a obtenção de amostras de soro no final da engorda seria a opção mais fácil e recomendável. Como complemento à serologia, a bacteriologia é-nos útil para conhecer que serotipos estão presentes na exploração.
Com que periodicidade devem obter-se as amostras?
É indispensável realizar amostras periódicas e mais tratando-se de uma doença com um padrão de infecção tão cambiante como esta. A frequência das amostras variará em função do maneio particular de cada exploração. Se se quer seguir um esquema parecido ao que estão a ser aplicados na maioria de programas de controlo Europeus nos que classificam as explorações em três níveis de prevalência em função dos resultados serológicos, é aconselhável que a referida classificação se realize em função dos resultados obtidos após, pelo menos, um ano de amostras. A classificação das explorações baseada numa só amostra nos dará uma imagem sesgada do nível de infecção.
3) Alcance
Vão-se aplicar medidas apenas nas explorações ou também nos matadouros?
Estudos realizados na Dinamarca para avaliar e redefinir o seu programa Nacional de controlo decorridos dez anos desde o seu início demonstram que as acções centradas no matadouro, em especial o duche das carcaças com água quente, são as que maior impacto têm na redução do número de carcaças contaminadas e do risco para a saúde pública (Hurd et al., 2008). Nos últimos anos, vários estudos (Wonderling et al., 2003; Botteldoorn et al., 2004), incluindo um trabalho próprio (Creus, E. 2007), acentuaram a importância das contaminações sobrevindas pelo mesmo ambiente do matadouro. Inclusive o programa holandês de controlo de Salmonella recomenda especialmente que se aumentem as medidas de controlo no matadouro para reduzir de uma forma mais efectiva o risco de contaminação das carcaças.
A partir daqui tudo são perguntas que deverão ser respondidas a curto prazo pelas diferentes autoridades e administrações competentes (a nível central e autonómico) e em que será básico ter em conta os diferentes pontos de vista de todos os participantes da cadeia de produção de carne de porco:
→ Os programas vão ser voluntários ou obrigatórios?
→ O sector produtor de rações vai participar? E o sector dos transportes?
→ Como se vai incentivar os diferentes operadores? Existirão penalizações no preço, serão criadas marcas de qualidade…?
→ Quem vai recolher as amostras (autocontrolo ou controlo oficial) e quem as vai analisar (autorização e acreditação de laboratórios em número suficiente?)
→ Como será feita a repartição de responsabilidades neste programa, e o papel que podem desempenhar as ADS?
→ Que consequências vai ter a positividade para os suinicultores?…