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Controlo da salmonelose suína: estratégia Europeia

Seguindo a cronologia marcada pelo Regulamento (CE) nº 2160/2003 sobre o controlo da salmonela e outros agentes zoonóticos específicos transmitidos pelos alimentos, uma vez iniciados os Programas Nacionais de Controlo na avicultura neste momento, o foco de atenção situa-se no suíno.


Seguindo a cronologia marcada pelo Regulamento (CE) nº 2160/2003 sobre o controlo da salmonela e outros agentes zoonóticos específicos transmitidos pelos alimentos, uma vez iniciados os Programas Nacionais de Controlo na avicultura neste momento, o foco de atenção situa-se no suíno. Esta série de dois artigos sobre a estratégia que está a ser seguida pela União Europeia (UE) para o controlo da salmonelose suína centrar-se-á, numa primeira parte em detalhar e actualizar o estado das actuações que esta está a levar a cabo e que estão definidas pelo referido Regulamento e numa segunda parte serão levantadas as questões que deverão ser tidas em consideração na definição e implementação de um futuro Programa Nacional de Controlo.


Justificação

Nos Países industrializados a salmonelose é considerada como um grave problema de segurança alimentar. Segundo dados da EFSA (EFSA Journal 2010a), a maioria dos surtos de toxiinfecções alimentares em pessoas ocorridos na UE durante o ano 2008 foram causados por Salmonella (35,4%). Em Espanha no ano 2008 registaram-se 3.833 casos de salmonelose humana (8,5 casos / 100.000 habitantes). Contudo, esta cifra é provavelmente muito superior já que só uma percentagem dos casos de salmonelose em pessoas são declarados, em concreto, por um caso declarado estima-se que se produzem 11,5 casos.

Devido à implementação, nos últimos anos de programas de controlo da salmonelose aviar, os casos de salmonelose humana devidos a Salmonella Enteritidis (cuja origem são primordialmente as aves) têm-se reduzido significativamente em toda a UE. Pelo contrário, tem-se observado um aumento dos casos devidos a Salmonella Typhimurium, o serotipo mais predominante no porco e noutras espécies domésticas como o gado bovino. Além do mais, em 2008 o número de surtos de salmonelose humana associados à carne de porco superou os relacionados com a carne de ave (7,1% vs 3,9%, respectivamente). Estas cifras justificariam o papel que o porco parece ter como transmissor da infecção ao Homem.

Outro aspecto a ter em conta e que supõe um especial risco sanitário ao nível da saúde pública é o aumento de estirpes multiresistentes aos antimicrobianos. Em Espanha mais de 80% das estirpes de Salmonella isoladas de origem animal seriam resistentes a, pelo menos, um antibiótico.

Deve destacar-se também a problemática ao nível económico que trás a salmonelose. Não só pelos custos sócio-sanitários associados (em total estima-se que estes ascindam a 90 milhões de € na UE e a 2 milhões de € em Espanha), mas também pelas suas possíveis consequências desde o ponto de vista comercial: gera desconfiança no consumidor e poderia converter-se numa importante barreira comercial às exportações intracomunitárias.

Por último, o controlo da Salmonella também poderia estar justificado para o produtor. Alguns estudos parecem indicar que o controlo da infecção subclínica mediante a implementação de um plano de controlo que contemple a melhoria dos protocolos de limpeza e desinfecção, a adição de ácidos organicos, etc. poderia resultar a médio-longo prazo numa melhoria dos parâmetros produtivos dos animais.


Acções e calendário

Fig. 1 Esquema das acções segundo o Regulamento (CE) nº 2160/2003 para o controlo da Salmonella



Fig 2. Calendário de acções

Zoonose ou agente zoonótico População animal Fase da cadeia alimentar de controlo Data de fixação do objectivo Data de início do Programa Nacional de Controlo
Todos os serotipos de Salmonella com importância para a saúde pública Porcos de engorda Amostras em porcos abatidos no matadouro Estudo prevalência Outubro 2006 a Setembro 2007. Objectivo fixado em 2010 Aos 18 meses após fixação do objectivo. Em 2011 ou início 2012??
Todos os serotipos de Salmonella com importância para a saúde pública Porcos reprodutores Explorações de reprodutores Estudo prevalência Janeiro a Dezembro de 2008.
Objectivo fixado em 2010??
Aos 18 meses após fixação do objectivo. Em 2012??

Com a finalidade de dispor de dados comparáveis sobre a prevalência de Salmonella no efectivo suínicola Europeu (porcos de abate e porcas reprodutoras) e ao mesmo tempo servir de base para estabelecer um objectivo comunitário de redução da mesma, a primeira das acções definidas pelo Regulamento foram os estudos de prevalência comunitários levados a cabo pela EFSA e que tiveram um ano de duração. Em ambos estudos a Espanha apareceu como um dos Países com maior prevalência (29% de prevalência individual em porcos de engorda e 64% de prevalência de rebanho em explorações de mães), enquanto que a média comunitária foi de 10% e de 29%, respectivamente. Na Tabela 2 e na Tabela 3 indicam-se os serotipos de Salmonella isolados com mais frquência tanto nos porcos de engorda como nas reprodutoras em Espanha e na UE.

Tabela 1. Serotipos mais frequentes de Salmonella isolados em porcos de engorda

Europa Espanha
Serotipo de Salmonella
% Serotipo de Salmonella
%
Typhimurium
40,0
Typhimurium
36,1
Derby
14,6
Rissen
15,6
Rissen
5,8
4,[5],12:i:-
12,0
4,[5],12:i:-
4,9
Derby
10,2
Enteritiditis
4,8
Anatum
3,7
Anatum 2,4 Bredeney 3,5

The EFSA Journal (2008)

Tabela 2. Serotipos mais frequentes de Salmonella isolados em explorações de mães (porcas de reprodução)

Europa Espanha
Serotipo de Salmonella
% Serotipo de Salmonella
%
Derby 23,9 Rissen
15,6
Typhimurium 17,9 Typhimurium
11,6
Infantis 5,0
Anatum
12,6
Rissen 4,5 Derby 10,5

EFSA Journal (2009)

Após estes estudos o Regulamento estabelece que deverão fixar-se os objectivos de redução de prevalência comunitários e que este objectivo deverá cobrir todos os serotipos de Salmonella com importância para a saúde pública. No caso do porco, a decisão de que o objectivo se centre en Salmonella spp. ou só em alguns serotipos em concreto (os mais prevalentes) ainda não está nada clara. Dada a grande diversidade de serotipos que se isolaram nos gânglios linfáticos e segundo a opinião do grupo de peritos da EFSA de que todos os serotipos de Salmonella isolados nos porcos e na carne devem ser considerados como um perigo para a saúde pública é muito provável que os objectivos se estabeleçam ao nível da Salmonella spp.. Não obstante, esta e outras decisões chave para a definição dos futuros Programas de Controlo deverão estar suportadas pelos resultados de uma análise quantitativa de riscos (finalizado) e de uma análise custo/beneficio (em curso, esperavam-se os resultados para porcos de engorda em Junho de 2010 e para as reprodutoras a finais do mesmo ano). As conclusões do primeiro estudo, publicadas recentemente (EFSA Journal 2010b) foram que cerca de 10-20% dos casos de salmonelose em humanos na UE estariam associados ao consumo de carne de porco e que com uma redução da prevalência nos gânglios linfáticos de cerca de 80-90% a infecção em humanos poderia ver-se reduzida consideravelmente. Para atingir esta redução de prevalência nos animais, as medidas de controlo de maior impacto nas explorações seriam:

- A reposição: obtendo-se uma redução estimada de 70-80% nos Estados Membros com alta prevalência e de 10-20% em Estados Membros com baixa prevalência.

- A ração: obtendo-se uma redução estimada de 10-20% em Estados Membros com alta prevalência e de 60-70% em Estados Membros com baixa prevalência.

- As fontes externas de infecção (aves, roedores, etc.): obtendo-se uma redução estimada de 10-20% em Estados Membros com alta e baixa prevalência.

Uma vez se fixem os objectivos comunitários de redução, num prazo de seis meses os Estados Membros deverão apresentar à Comissão os seus Programas Nacionais de Controlo para a sua aprovação. Uma vez iniciados, a sua duração mínima será de 3 anos consecutivos e deverão ser revistos periodicamente para o seu reajustamento. Deve ter-se em conta que os métodos utilizados para a realização do estudo de referência comunitário (amostra gânglios linfáticos ileo-cecais) não necessariamente deverá coincidir com os que se recomendem para monitorizar a infecção nos programas Nacionais de controlo. No seguinte capitulo iremos aprofundar as questões que deveriam colocar-se previamente à implementação dos referidos programas.

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