30 de Março de 2023
A cotação da Bolsa do Porco continuou a subir nesta segunda quinzena de Março. A subida foi mais comedida que nas quinzenas anteriores, mas mesmo assim foi de 0,07€/kg carcaça, fixando a cotação nuns nunca vistos 2,782€/kg. A grande falta de porcos para abate implicará que as cotações continuem a aumentar, mas mais lentamente. Por outro lado, e como tem sido recorrente nos meus anteriores comentários, a carne continua a vender-se com muita dificuldade e a subida dos porcos parece um paradoxo. Na realidade, não é. Há grande redução da oferta de animais para abate em toda a Europa e apenas uma grande travagem no consumo de carne, a nível europeu e mesmo mundial, poderá conter a subida da cotação dos porcos.
O governo português irá aplicar uma taxa de IVA de 0% em vários produtos alimentares de primeira necessidade, formando assim um “cabaz de produtos”. Neste cabaz inclui-se a carne de porco (presumo que algumas peças e não toda a carne de porco fresca). No meu modesto entendimento, não me parece que esta medida faça descer os preços da carne ao consumidor até porque os porcos vão continuar a aumentar e, consequentemente, o preço da carne também irá subir. Veremos se a grande distribuição não alega que “não pode pagar mais pela carne aos matadouros porque negociou uma não subida de preços ao consumidor com o governo”.
Se isto acontecer, presumo que comece a faltar carne de porco nas prateleiras dos supermercados portugueses, porque imagino que os produtores nacionais, podendo vender os seus porcos a preço mais elevado para Espanha não os queiram vender mais baratos em Portugal. Mas isto é apenas uma leitura muito própria da minha parte. Veremos o que irá ocorrer no mercado com esta decisão do governo. O que também já sabemos é que a aplicação da medida de descida do IVA em Espanha não teve qualquer efeito sobre a descida dos preços ao consumidor, pois o aumento semanal da carne na origem, implicou o seu aumento ao consumidor.
Adicionalmente, a cotação das matérias-primas tem vindo a descer. Todavia, esta descida não se irá sentir de imediato, pois as fábricas de ração e os auto-produtores têm género comprado em futuros e a preços mais altos que os actuais e terão que o gastar antes de poderem produzir alimentos a preços mais baixos. Esta não deixa de ser uma boa notícia para o futuro e médio prazo da produção animal.
Com o aproximar da Semana Santa haverá alguma contenção nos abates (dias feriado) e nos consumos de carne. Apesar disso, e contrariamente ao que ocorria noutros anos, não há grande pressão para vender porcos por parte dos produtores, pelo que não deverá haver excesso de oferta que poderia implicar alguma tentativa de descida das cotações.
No norte da Europa continua a redução de efectivo reprodutor. Com o aumento dos custos de produção e a valorização das porcas de refugo (a cotação das porcas velhas está mais alta do que a cotação dos porcos nesta mesma semana do ano passado), os suinicultores vão abatendo porcas ao efectivo e não as repõem. Assim, para os próximos meses adiante, a oferta de porcos para abate ainda se vai reduzir mais nos países da U.E. o que, evidentemente, permitirá que se mantenham elevadas as cotações.
Nestes países, após quase 1 mês consecutivo sem alteração, as cotações recomeçaram a subir com algum significado, o que permitiu uma aproximação às cotações dos países do Sul, principalmente à cotação espanhola.
No que diz respeito à evolução das cotações europeias do porco, em Espanha a cotação subiu 0,048€/kg PV (+0,064€/kg carcaça) na primeira quinzena de Março, passando para 2,015€/kg PV (2,687€/kg carcaça). Pela primeira vez em toda a sua história, os porcos ultrapassaram a barreira dos 2,00€/kg PV em Espanha. Continua a haver muita falta de porcos para abate no país vizinho e isso reflecte-se na evolução do preço. Também há muita falta de leitões para engorda e o seu preço já passou os 100€ a unidade (quase o dobro do valor do ano passado). Os abates continuam abaixo do nível de 2022, mas os pesos estão 2kg acima do registado o ano passado, isto porque os produtores estão a fazer uma gestão mais parcimoniosa das saídas de porcos para abate pois com a cotação ao nível em que está e a subir semanalmente, estes preferem vender porcos mais pesados.
Na Alemanha, a cotação subiu 0,05€/kg carcaça para 2,33€/kg carcaça. O peso baixou 100g para os 97,1kg carcaça nesta quinzena. A oferta encontra-se equilibrada em relação à procura, se bem que os produtores insistam que há poucos porcos e que os matadouros refiram que as vendas da carne se encontram muito fracas. Tudo isto somado, dá uma subida da cotação dos porcos.
Nos Países Baixos a cotação subiu 0,02€/kg carcaça e fixou-se nos 2,35€/kg carcaça nesta quinzena. A situação do mercado neerlandês é algo diferente da situação do mercado alemão. Devido ao encerramento de um matadouro e de haver dificuldades nos abates por parte de um outro matadouro, há algum excesso de oferta que impediu uma subida mais significativa da cotação dos porcos. Mesmo assim, tem havido procura por parte dos matadouros espanhóis, o que evitou uma situação de maior pressão negativa sobre o mercado.
Na Bélgica a cotação subiu 0,05€/kg PV para 1,70€/kg PV na segunda quinzena de Março. As vendas de carne para o mercado belga estão algo paradas, mas as vendas de meias carcaças para Países do Leste da Europa estão em bom ritmo, pelo que permitiram a subida da cotação dos porcos.
Na Dinamarca a cotação teve uma subida significativa de 0,11€/kg carcaça para 1,72€/kg carcaça nesta segunda quinzena de Março. Apesar desta forte subida, a Dinamarca continua a ter a cotação mais baixa de todos os países da U.E.. A melhoria das exportações de carne para Países Terceiros aliada a uma redução da oferta de porcos para abate, fizeram subir a cotação na Dinamarca.
Em França, a cotação subiu 0,009€/kg carcaça para 2,38€/kg na segunda metade de Março. Nesta última quinzena houve uma forte desaceleração das subidas em função de uma menor procura por parte dos matadouros. Todavia, os produtores também reduziram a sua oferta de porcos, optando por abater porcos mais pesando para rentabilizar as suas explorações. Por isso mesmo, e pela primeira vez desde o início deste ano, o peso de abate é mais elevado que o do ano passado nesta mesma semana. Assim, e em relação à quinzena anterior, os pesos subiram 400g para 96,2kg e estão 500g acima do peso do ano passado.