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Subida da cotação dos porcos coloca-a a mais de 2 euros apesar do Coronavirus

Mais uma subida de 0,08€/kg carcaça definida pela Bolsa do Porco na primeira quinzena de Março dá consistência ao mercado do porco.

13 de Março de 2020

Mais uma subida de 0,08€/kg carcaça definida pela Bolsa do Porco na primeira quinzena de Março dá consistência a um mercado do porco que tem mais procura de porcos para abate do que oferta e que se encontra com a incerteza do que ainda lhe reserva o Coronavírus.

Num dos meus anteriores comentários de mercado, logo no início do aparecimento dos primeiros casos na China, eu referi que teríamos que esperar para ver a dimensão do problema e quais os impactos para o mercado do porco a nível global e para a economia mundial. Infelizmente, não me enganei.

Na realidade, as pessoas têm que continuar a comer e na China um dos produtos preferidos é a carne de porco (a mais consumida de entre todas as disponíveis no mercado chinês). Por isso mesmo, de todos os navios que se encontram acostados e ao largo dos portos chineses para descarregar, para além dos que têm medicamentos são prioritários para descarregar os que têm contentores com carne de porco. Nesta perspectiva, menos mal para o mercado mundial do porco. Mas há um senão, há muito menos pessoas a trabalhar nos portos, ou porque adoecem e não o podem fazer ou porque estão sãs e não querem ir trabalhar para não adoecer. Isto acontece, não apenas na China, mas também na Coreia do Sul, no Japão e restantes países asiáticos.

Apesar de toda esta situação, a China continua a comprar carne de porco, não só à U.E. (o seu maior fornecedor), mas também ao Brasil e, principalmente, aos Estados Unidos onde se bateram records de produção e em que o preço da carne de porco é muito baixo. Os norte-americanos estão a exportar, como nunca, para a China e este pode ser o apoio que os chineses necessitam para pressionar a descida do preço de compra da carne de porco europeia (tal como aconteceu em Dezembro passado). Esperemos para ver.

Entretanto, na Europa cada vez aparecem mais casos de Coronavirus e com as medidas de contenção que se prevêem aplicar (suspensão de laboração em locais onde apareçam casos positivos, receio em movimentar e deslocar pessoas para fazerem transportes com entregas) este poderá ser um factor altamente negativo para o mercado do porco.

Por exemplo em Portugal, imaginemos que fecha um (ou mais) matadouro devido ao aparecimento de algum caso positivo de Coronavirus. Essas empresas deixarão de laborar e de abater porcos, aportando dificuldades aos produtores no escoamento dos seus animais e como terão, seguramente, produtos transformados e refrigerado/congelados que não podem distribuir acabam por ter prejuízos pela não venda e pela obrigação de armazenar produto.

E a montante, imaginemos que começam a encerrar fábricas de ração por terem trabalhadores doentes (as medidas de contingência definem esse tipo de protocolo). Como fica o fornecimento de alimento às explorações suas clientes? Como se irá resolver o problema? Quem em Portugal afirmava, há umas semanas atrás, que o Coronavírus até poderia ser bom para a economia do País estava bem longe da realidade.

Esperemos para ver a evolução, nas próximas semanas, do Coronavírus quer em Portugal quer no resto da Europa.

Apesar de todas estas dúvidas, o mercado do porco, em toda a Europa, teve um sinal bem positivo havendo subidas de cotação em todos os países e levando alguns deles (Alemanha, Holanda, Espanha) a ficarem com as suas cotações, em carcaça, acima da barreira psicológica dos 2,00€/kg. Excelentes notícias, portanto, para os suinicultores.

Todavia, a indústria europeia está com grandes dificuldades em fazer repercutir no preço da carne, as subidas na cotação dos porcos. Vai-lhe valendo a exportação para a Países Terceiros (China, Coreia do Sul e Japão) já que o consumo interno anda relativamente fraco. Bem vistas as coisas, entrámos na Quaresma que é um período em que os consumos de carne são usualmente mais fracos (nada de novo, portanto), apenas melhorando após a Páscoa.

Com toda esta volatilidade e incerteza, o mercado lá vai fazendo o seu caminho e os pesos de abate na Europa, têm vindo a baixar apesar de continuarem bem acima dos pesos de 2019 nesta mesma altura. Há alguma retenção de porcos, por parte dos produtores, para tentar rentabilizar as margens de lucro na venda dos porcos e para compensar a compra de leitões (quem teve que os comprar) a preços muitos elevados.

No que dia respeito aos mercados, a Espanha voltou a subir a sua cotação nesta quinzena, desta feita foram 0,053€/kg PV (+0,07€/kg carcaça) para 1,54€/kg PV (2,053€/kg carcaça). Os pesos baixaram cerca de 300g mas mantêm-se 3kg acima do peso do ano passado. Há maior capacidade de abate do que porcos para abater e isto favorece as posições dos produtores espanhóis sobre os matadouros.

Seguindo o comportamento do mercado de anteriores semanas, a cotação dos leitões continua a subir (até quando e até que preço?) no mercado de Lérida, onde os leitões de 20kg subiram 5,00€/unidade e valem agora 70,50€, tendo-se mantido em 82,00€ no mercado de Zamora para leitões do mesmo peso.

Na Alemanha, a cotação subiu 0,06€/kg carcaça para 2,02€/kg carcaça. A oferta de porcos continua a ser limitada e a procura dos matadouros mantêm-se acima da oferta. O peso situa-se sem alterações nos 97kg carcaça. Há dificuldade na venda e na valorização da carne, mas isso não tem impedido a subida da cotação dos porcos. Há dois anos atrás, era comum haver abates acima de 1 milhão de porcos por semana na Alemanha. Neste momento os abates andam em redor dos 900 mil porcos semanais (-10%).

Na Holanda a cotação subiu 0,07€/kg carcaça passando para 2,05€/kg carcaça. Há pedidos de porcos holandeses por parte dos matadouros alemães, mas, de uma maneira geral, os holandeses preferem abatê-los nos seus matadouros em vez de os enviarem para a Alemanha. Por outro lado, há alguma preocupação com os envios de carne para a China, já que houve alguns negócios que não avançaram e também com algumas desistências de compras de carne por parte de empresas transformadoras italianas, o que poderá trazer dificuldades ao mercado visto que os matadouros holandeses estão renitentes a congelar mais carne devido Às incertezas existentes no mercado.

Na Bélgica a cotação subiu 0,05€/kg PV para 1,41€/kg PV.

Na Dinamarca a cotação subiu 0,04€/kg carcaça fixando-se em 1,91€/kg carcaça. Os dinamarqueses referem que o Coronavírus está a afectar o mercado da carne de porco fresca na Europa. Devido às incertezas com a propagação do vírus e com aquilo que será o comportamento dos consumidores, a grande maioria das empresas trabalha com compras num horizonte temporal de 1 semana deixando poucas perspectivas de compras futuras. Apesar disso, as cotações têm até subido o que deixa o mercado com um moderado optimismo.

Em França a cotação subiu 0,038€/kg carcaça passando a cotação para 1,569/kg carcaça. Os pesos desceram 130g para 96,13kg (menos 130g que na mesma semana de 2019). As vendas de porcos são bastante difíceis. Os agrupamentos de produtores vão retirando lotes de porcos nas sessões do MPB devido a preço insuficiente.

As próximas semanas serão cruciais no que diz respeito à evolução do mercado europeu devido à evolução do Coronavírus. Veremos o que nos reserva o futuro.

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