Creep feeding e dias de lactação

São múltiplas as causas que intervêm num bom arranque dos leitões ao desmame: idade, sanidade, temperatura ambiental, maneio, vazio sanitário, densidade, etc. De qualquer modo, não há que pôr de parte todas as boas práticas que igualmente possam ajudar a minimizar o stress desta mudança. Assim, ao longo deste artigo, vamos centrar a nossa atenção numa delas: o creep feeding.

A prática do creep feeding ou suplementar com ração a alimentação láctea de leitões nas maternidades, está bastante espalhada hoje em dia. Contudo, ainda existem algumas dúvidas sobre os seus benefícios em lactações de curta ou de longa duração. Ou sobre que tipo de ração utilizamos e durante quantos dias.

Tentaremos desfazer algumas destas dúvidas neste artigo.

Existem dois importantes motivos para suplementar com ração os leitões na materinidade:

• O leitão nasce com níveis altos de lactase e baixos de amilase. Este perfil enzimático inicial é ideal para digerir a proteína do leite mas não para a proteína vegetal e/ou animal das rações de desmame. Ao ingerir ração na maternidade inicia-se mais cedo esta alteração do perfil enzimático.

• O leite materno e o jejum pós-desmame (foto 1) afectam negativamente o comprimento das vilosidades intestinais, quanto mais cedo o leitão comece a comer uma dieta sólida, menos problemas diarreicos e de adaptação apresentará ao ingerir posteriormente a ração.

Foto1: Anorexia em leitões desmamados

Quando começar com o creep feeding?

Podem existir dúvidas sobre a necessidade de utilizar esta prática em lactações curtas (de 21 dias ou menos) e durante quantos dias.

Seguramente, nas duas primeiras semanas de lactação, não faz muito sentido o creep feeding, mas a partir daqui, aumenta a percentagem de leitões que ingerem ração. (Figura 1: cedida por Jordi Ventura)

Em lactações de mais de 3 semanas, é recomendável alargar o creep feeding durante 10-15 dias. Alguns estudos concluem que comparando 2-5 dias de creep feeding com 13 dias, aumenta 10% o número de animais que ingere ração.

Assim, a recomendação seria começar a partir dos 15 dias de vida independentemente da duração da lactação.

Chaves do êxito do creep feeding

Se decidimos dar ração aos leitões com a máxima eficácia na maternidade, é recomendável seguir algumas boas práticas que acreditamos serem úteis:

• Dado que a ingesta é baixa, devemos usar rações com aromas e sabores que atraiam a maior quantidade de leitões possível. Não é eficaz qualquer ração.
• Também devem ter proteína altamente digestível.
• De preferência em farinha, já que fica colada ao focinho e obriga-os a lamberem-se.
• Colocar a ração a partir dos 10-15 dias vida, em pouca quantidade (200 gr por ninhada) e oferecido em várias vezes, afastado de focos de calor, de cantos, da mãe e dos bebedouros.
• Utilizar pratos assegura a manter a qualidade da ração e também diminui o desperdício.
• Retirar a ração que não tenha sido ingerida mas que tenha mau aspecto. Ou ir buscar outra ração mais apetecível.
• A mãe come e deita-se para dar de mamar. É melhor não dar creep feed nesse momento, É preferível fazê-lo entre as refeições dadas pela mãe. (Foto 2)

• Manter a ração em local fechado e seco, evitando perda de aromas e para prevenir a rancificação.
• É recomendável que, ao desmamar, tenham acesso à mesma ração que tinham na maternidade para que, deste modo, a transição para as rações posteriores seja gradual e menos traumática. Uma boa maneira seria colocar a mesma ração da maternidade em pratos e a tolva dispôr já da ração seguinte.

Deve-se sublinhar que o creep feed não substitui o leite materno e que devemos aproveitar o potencial leiteiro materno ao máximo. O efeito sobre o peso da ninhada ou benefício sobre a perda de condição corporal da porca é, geralmente, insignificante ou inexistente respectivamente.

Definitivamente, o objectivo de suplementar os leitões com ração é diminuir o número de animais atrasados nos primeiros dias após o desmame e, ainda que com algumas diferenças, é benéfico tanto em lactações de 21 dias como de 28 dias.