Na produção suína intensiva, há já muito tempo que se generalizou o uso de produtos hormonais ou homólogos que realizam a mesma função, sempre usados nas reprodutoras. Os objectivos fundamentais do uso destes produtos são a programação de sucessos da porca (por exemplo, programação de cios ou partos para uma determinada data) ou provocar estados fisiológicos no caso de porcas que não sejam capazes por si mesmas de os produzir (por exemplo, induzir o cio nas porcas anéstricas).
Em seguida, apresenta-se um caso concreto de uso intensivo de hormonas numa exploração de pequeno tamanho (325 porcas produtivas), que trabalha em bandas de 4 semanas e, portanto, com uma duração média da lactação de 21 dias.
Sincronização de cios
O uso das hormonas começa já nas nulíparas. Como se comentou, a exploração tem cobrições de 4 em 4 semanas. A tabela seguinte mostra como se conseguem cobrir as nulíparas agrupadas na semana de cobrição, sem inseminar nenhuma delas fora do períodos referido e atingindo sempre um número muito similar.
Tabela 1.- Cobrições por semana, período 16 semanas
Além do mais, esta mesma tabela mostra como não só as nulíparas, como também as restantes porcas da exploração (desmamadas, repetidas) se cobrem sempre dentro da semana de cobrição, pelo que se consegue uma manutenção das bandas. Ou seja, os cios tanto das porcas repetidas como das desmamadas programam-se para que ocorram nessas semanas. A distribuição das repetições é a seguinte:
Gráfico 1.- Distribuição das repetições por intervalo de repetição, período 1 ano
Como se observa, as repetições agrupam-se em dois intervalos, cerca dos 28 e dos 56 dias, coincidindo com uma ou duas bandas após a cobrição. Neste caso, as repetições acíclicas de entre 27 e 30 dias são cobertas directamente, enquanto que as restantes repetições (cíclicas 1, cíclicas 2 e tardias) não se cobrem sendo programadas mediante o uso de hormonas para ter o cio por volta dos 56 dias após a cobrição.
No caso das porcas desmamadas, a tabela seguinte mostra a distribuição do intervalo desmame-1ª cobrição dessas porcas.
Tabela 2.- Distribuição do intervalo desmame-1ª cobrição, período 1 ano
Intervalo desmame - 1ª cobrição | |||||||||
0-3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8-14 | 15-21 | 22+ | Total | |
1ª cobrições | 24 | 93 | 436 | 158 | 0 | 0 | 0 | 5 | 716 |
% de cobertas | 3,4% | 13,0% | 60,9% | 22,1% | 0,0% | 0,0% | 0,0% | 0,7% | 100% |
Intervalo desmame-cobrição | 2,8 | 4,0 | 5,0 | 6,0 | 61,6 | 5,4 |
O que mais se destaca neste caso é que não há cobrições tardias, praticamente 100% das porcas são cobertas antes do 7º dia pós-desmame. Neste caso, o que se faz é “obrigar” à entrada em cio de novo mediante o uso de hormonas; provavelmente estão a usar hormonas de nova geração tanto nas primíparas como nas multíparas já que têm todas as cobrições no mesmo dia.Com a aplicação destas hormonas após o desmame, induz-se a ovulação e sincroniza-se o cio de todas as porcas.
Pelos vistos até agora, a exploração controla e programa perfeitamente as entradas em cio de todas as suas porcas, com o que mantém de forma rigorosa as suas bandas de cobrição.
Sincronização de partos
O gráfico seguinte mostra como na maternidade também se programam de forma rigorosa as tarefas, neste caso o parto. O histograma de duração da gestação da exploração é o seguinte.
Gráfico 2.- Histograma de duração da gestação, período 1 ano
A duração média é baixa, 113.8 dias e a distribuição mostra claramente como a exploração programa todas as suas porcas (menos as que se adiantam) para que param no dia 114 de gestação.
Porquê sincronizar? Primeira parte
Ainda que na maioria das explorações se usem hormonas, é muito pouco habitual encontrar explorações com um nível tão intensivo de uso. Dado que a utilização destes produtos tem um custo, para além de um maior maneio relativamente a outros sistemas mais “naturais”, poderíamos colocar algumas perguntas como: porque se optou, nesta exploração, por este maneio? ou porque, por exemplo, se programam os partos para tão cedo?
Pois bem, o gráfico seguinte explica muito bem a razão de ser deste maneio. O referido gráfico mostra a distribuição, por dia da semana, das principais tarefas da exploração (cobrições, partos e desmames).
Gráfico 3.- Distribuição das tarefas por dia da semana, período 1 ano
Vê-se claramente que as principais tarefas da exploração sucedem entre 2ª e 4ª feira, não havendo praticamente sucessos importantes desde 5ª feira até Domingo:
- As cobrições, independentemente do dia do desmame, programam-se para ocorrer sempre à 2ª feira (com efeito, as poucas cobrições que acontecem ao Domingo também foram programadas assim). Desta forma, as porcas são inseminadas durante os primeiros dias da semana.
- Dado que as cobrições são às 2ªs feiras, os partos programam-se para os 114 dias para ocorrerem às 4ªs ferias. Desta forma, a exploração tem as 4ªs feiras para assistir aos partos e os primeiros dias de vida dos leitões, nos quais requerem mais atenção, vão desde 4ª até 6ª feira, ficando fora do fim-de-semana.
- Os desmames são, na sua grande maioria, à 4ª feira (ainda que este seja o único ponto em que a exploração tem alguma mudança esporádica, podendo também desmamar à 3ª ou à 5ª feira). De novo, ao desmamar à 4ª feira, os dois primeiros dias após o desmamte dos leitões coincidem de 4ª a 6ª feira, uma vez mais, fora do fim-de-semana.
Com esta programação tão restritiva, conseguem-se concentrar todos os sucessos importantes, e os períodos em que é necessária maior atenção/trabalho, fora do fim-de-semana, pelo que se atinge uma óptima programação das tarefas. Em consequência, garante-se uma organização adequada do trabalho que redundará no bem-estar dos trabalhadores já que se podem planificar desde as semanas que se dedicarão a tarefas de manutenção até às férias do pessoal.