18 de Julho de 2014
Descida, perfeitamente inesperada, da cotação dos porcos na primeira quinzena de Julho em Portugal (-0,013€/kg carcaça). Após as 5 semanas de subidas das cotações os porcos desceram em função do que se passou no mercado alemão que acabou por afectar todo o mercado Europeu do porco.
Os porcos têm pesos baixos (e agora que apareceu o calor, os pesos demorarão mais a subir) e são procurados no mercado interno o que são factores que, por si só, deveriam impelir a cotação para uma subida, tão esperada quanto necessária para os suinicultores. Mas, infelizmente para todos os agentes da fileira, não foi isso que aconteceu.
Por outro lado, e como já venho a referir há várias semanas a esta parte, continuam as promoções da carne de porco nos grandes supermercados a "preços verdadeiramente de arromba". Quem paga estas promoções e estes preços?
Deixo mais uma questão no ar: se o preço médio dos porcos recebidos pelos produtores anda em cerca de 1,90€/kg (até dou de barato que seja 1,85€ ou mesmo 1,80€/kg), como é possível que haja costeletas e bifanas a 2,24€/kg (também dou de barato que sejam a 2,85€/kg)?
Com preços destes ao consumidor, dificilmente se conseguirá que a cotação dos porcos possa subir acima dos 2,00€ e mesmo que suba, que se mantenha nesse patamar durante várias semanas. Esperemos, portanto, para ver a evolução do mercado interno (e já agora do Europeu que tem sempre grande influência no mercado português).
A Espanha também desceu a sua cotação nesta quinzena (0,005€/kg PV, cerca de -0,006€/kg carcaça) ficando a sua cotação em 1,47€/kg PV (cerca de 1,96€/kg carcaça).
Os pesos baixaram neste país cerca de 300gr PV nesta quizena o que é demonstrativo de algum equilibrio entre a oferta e a procura já que a oferta dos suinicultores individuais não integrados tem subido pesos (estes suinicultores têm retido os seus porcos para que ganhem mais algum peso já que o preço da ração tem baixado e o preço que recebem pelos seus porcos compensa bem a ração que comem para aumentar o peso).
De todas as formas o que tem afectado fortemente o mercado Europeu é a proibição de exportação para a Rússia, apesar deste país nas últimas semanas ter dado uma demonstração de querer baixar as exigências relativas à importação de carne de porco proveniente da U.E..
Será que a Comissão Europeia irá dar resposta positiva às novas exigências russas?
Uma coisa é certa, de acordo com as novas imposições russas, Portugal é um dos países que pode exportar produtos de carne de porco e seus derivados para a Rússia, além da Espanha, Dinamarca, Holanda e Bélgica.
Nem com estas nuances o mercado alemão conseguiu subir ou mesmo manter a sua cotação. Na realidade, baixou fortemente a sua cotação (-0,08€/kg carcaça) nesta quizena.
Os alemães foram campeões do mundo de futebol e também foram, infelizmente, campeões da descida da cotação dos porcos na Europa pois a proibição do envio de carne para a Rússia tem afectado de sobremaneira o mercado alemão, ainda para mais havendo dificuldades, desde Setembro do ano passado, com o envio de carne alemã para a China que é o mercado que permite ir absorvendo os excedentes europeus (Dinamarca e Espanha têm-se servido do mercado chinês para escoar a carne que não vendem para a Rússia).
Neste momento a cotação alemã está em 1,67€/kg carcaça e este comportamento do seu mercado é idêntico ao que ocorreu na mesma semana do ano passado. Mas no ano passado, após a descida houve uma subida forte nas duas semanas seguintes e veremos se este ano ocorre o mesmo. Seria bom para todo o mercado Europeu do porco pois, como sabemos, o comportamento da Alemanha afecta todo o mercado da U.E., principalmente os seus vizinhos Holanda (-0,13€/kg carcaça nesta quinzena) e a Bélgica (-0,09€/kg PV nesta quinzena).
A Dinamarca também baixou a cotação dos seus porcos nesta quinzena (-0,05€/kg carcaça, cotação em 1,45€/kg carcaça) já que há alguma dificuldade no escoamento da carne para Países Terceiros. Sem vender para a Rússia e sem conseguir colocar todos os excedentes nos mercado asiáticos, a Dinamarca tem que manter as cotações baixas para poder vender mais carne no mercado interno da U.E. concorrendo com os restantes países excedentários. Para vender é necessário ter preço concorrencial e isso implica que os
porcos sejam pagos a cotações baixas para a carne ter preços mais competitivos. Não devemos esquecer, porém, que na Dinamarca os produtores recebem um bónus de preço no final do ano por parte do matadouro, bónus esse que poderá chegar aos 0,12€/kg carcaça.
A França desceu 0,019€/kg carcaça nesta quinzena (1,474€/kg). Esta descida é igual à subida da quinzena anterior (+0,020€).
A França teve mais um feriado nesta quinzena (14 de Julho) o que acabou por afectar o normal desenrolar dos abates, que a somar à descida alemã levou a uma descida das cotações nesta quinzena.
O mercado francês anda também a sofrer com o embargo russo e apesar dos pesos dos porcos serem normais, este constrangimento pressiona negativamente o mercado.
Por outro lado, há um factor francamente positivo para o mercado europeu no mercado mundial que é a existência da Diarreia Epidémica Suína nos Estados Unidos e no Canadá.
Estes são mercados que competem directamente com os países da U.E. no mercado mundial da carne e naqueles dois países, com as elevadas mortalidades de animais (os Estados Unidos têm menos 7 milhões de leitões do que o habitual) há muito menos oferta e as cotações dos porcos têm atingido níveis record nunca antes vistos. Porcos caros, carne cara e dificuldade em satisfazer pedidos de carne no mercado mundial.
Veremos quando chega ao mercado Europeu este factor positivo para o comércio da carne e, consequentemente, para as cotações europeias dos porcos.
O próprio mercado português terá que subir as suas cotações já que estamos numa das épocas de maior consumo em Portugal e isso tem que se reflectir nas cotações dos porcos.