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Desmame: as primeiras horas após a chegada

Javier Lorente diz-nos como fazer com que o leitão recém desmamado fique confortável e, acima de tudo, como fazê-lo começar a beber e a comer o mais depressa possível.

No artigo anterior e seguindo a ordem temporal dos acontecimentos, falámos da importância do processo de desmame com um único objectivo: reduzir o stress do leitão durante o processo de desmame.

Agora temos o leitão na sala de transição ou de criação, com uma densidade recomendada de 0,3m2/ leitão, e já os separámos, se necessário, por sexo e tamanho.

Foto 1. Leitões em transição.
Foto 1. Leitões em transição.

O nosso próximo objectivo é que o leitão se adapte muito rapidamente à sua nova localização, que se sinta confortável e, sobretudo, que comece a beber e a comer o mais cedo possível, embora de forma controlada para evitar problemas digestivos.

Para atingir estes objectivos, e recordando novamente que o peso do leitão no desmame é o factor fundamental, concentramo-nos em três aspectos:

1. Limpeza e desinfecção: salas preparadas e revistas

Antes de qualquer animal entrar, a sala:

  • deve estsr devidamente lavada, de preferência com água quente, desinfectada, seca e livre de matéria orgânica. Isto deve incluir todo o equipamento (tulhas, pratos, etc.), fossas e sistemas de abastecimento de água. Aqui pode rever alguns artigos relacionados com a limpeza das explorações.
  • deverá ter tido um vazio sanitário de 1 semana;
  • deverá ter os comedouros e bebedouros em boas condições de funcionamento;
  • deve estar pré-aquecida a 28ºC para a entrada de leitões e as mantas térmicas ou focos de calor devem estar ligados e a funcionar.
Foto 2. Esquerda: Imagem termográfica de um aquecimento por piso radiante a funcionar correctamente. Direita: Imagem termográfica de um piso radiante com defeito de funcionamento com uma área praticamente inactiva.
Foto 2. Esquerda: Imagem termográfica de um aquecimento por piso radiante a funcionar correctamente. Direita: Imagem termográfica de um piso radiante com defeito de funcionamento com uma área praticamente inactiva.
  • deve ter a ventilação verificada e a funcionar correctamente.

Periodicamente, o isolamento da sala deve ser verificado para ver se está correcto ou se perdeu as suas propriedades e tomar as decisões apropriadas.

2. Conforto ambiental

O leitão, ao entrar na transição, deve ter condições térmicas muito semelhantes às que tinha na maternidade, para isso é aconselhável:

  • ajustar a temperatura das mantas térmicas ou conseguir uma temperatura com os aquecedores de 28ºC-30ºC à altura do leitão e diminuí-la em 1ºC todas as semanas;
  • observar os animais para ter a certeza de que a temperatura pretendida está efectivamente a ser atingida.
Foto 3. Superior: Leitões a descansar devidamente. Inferior: Fonte de calor insuficiente
Foto 3. Superior: Leitões a descansar devidamente. Inferior: Fonte de calor insuficiente
  • não procurar a temperatura certa, limitando a ventilação. Esta deve ser sempre feita, mesmo minimamente, para manter um nível de humidade não superior a 70% e níveis de CO2 não superiores a 2000-2500ppm;
  • tentar minimizar as oscilações de temperatura.

Actualmente existem sondas que permitem monitorizar todos estes parâmetros em tempo real.

3. Alimentação: água e ração

O outro ponto fundamental para uma boa e rápida adaptação do leitão à sua nova casa é conseguirmos que comece a beber e a comer o mais depressa possível e que o faça de uma forma adequada.

Água: continua a ser um ponto fraco em muitas das explorações, embora cada vez menos. No consumo de água, temos de abordar duas variáveis:

Quantidade de água: leitões recém desmamados devem beber entre 3 e 5 litros de água e, para isso, temos de considerar:

  • caudal disponível;
  • altura dos bebedouros;
  • número de pontos de água.
Recomendações para o bebedouro dos leitões recém desmamados
Recomendações para o bebedouro dos leitões recém desmamados

A quantidade de água consumida depende também de como conseguimos estimular os leitões a beber e o tipo de bebedouro é decisivo a este respeito. Actualmente, nas explorações, estão a ser utilizados bebedouros com múltiplas bocas com uma válvula de nível constante, embora existam também outros tipos de bebedouros, tais como bebedouros pendurados. Estes últimos encorajam os leitões a começar a beber rapidamente porque brincam com eles, mas geram um grande desperdício de água.

Foto 4. Bebedouro amplo com válvula de nivel.
Foto 4. Bebedouro amplo com válvula de nivel.

Também se pode recomendar a utilização de tulhas ou pratos adicionais apenas com água, de modo a que esteja facilmente disponível para o leitão.

Qualidade da água: Ter sistemas de tratamento que garantam uma qualidade físico-química e microbiológica da água adequada e constante é, actualmente, e ainda mais na ausência de óxido de zinco, uma medida absolutamente essencial. Como recomendação, penso que é importante poder trabalhar com um pH da água de cerca de 5.

Ração: Agora que os leitões já estão em desmame e para começar a comer o mais depressa possível, mas de uma forma controlada, as minhas recomendações seriam:

  • recordar a importância do Creep Feeding na maternidade para uma rápida adaptação dos leitões à alimentação sólida;
  • iniciar a transição com a mesma ração que os porcos já estavam a comer na maternidade. Lembre-se que o olfacto é o mais desenvolvido nos porcos, pelo que adicionar um aroma à ração durante os dois primeiros dias, ou pequenas quantidades de outra ração com estas características, pode ajudar a estimular o consumo.
  • dar espaço suficiente de comedouro por animal:
    • tulhas em seco: 5 cm/leitão
    • tulhas em seco-húmido: 2,5 cm/leitão

Para mim não é necessário que todos os leitões tenham uma tulha extra durante os primeiros dias. Normalmente os leitões são separados em três grupos: grandes, médios e pequenos, pelo que uma opção seria:

  • leitões grandes: sem tulha extra
  • leitões médios e leitões pequenos: com tulha extra
Foto 5. Grupo de leitões de pequeno e médio porte com tulha extra.
Foto 5. Grupo de leitões de pequeno e médio porte com tulha extra.
  • Mas para que a tulha adicional tenha sentido, tem que:
    • estar limpa
    • ter ração fresca → pouca quantidade e várias vezes por dia
    • estar bem localizada → que todo o seu espaço seja aproveitado
Foto 6. Tulha mal posicionada, demasiado próxima da separação entre compartimentos, de modo que um dos seus acessos é praticamente inutilizável. Grupo de leitões de pequeno e médio porte com tulha anexa.
Foto 6. Tulha mal posicionada, demasiado próxima da separação entre compartimentos, de modo que um dos seus acessos é praticamente inutilizável. Grupo de leitões de pequeno e médio porte com tulha anexa.
  • Está demonstrado que a ração visível e à disposição é sempre mais atractiva para o leitão que a ração pela qual tem que lutar.

  • O que não pode acontecer é que os leitões cheguem à transição e não haja ração ou não a consigam tirar da tulha.
Foto 7. Tulhas sem ração à chegada dos leitões à transição.
Foto 7. Tulhas sem ração à chegada dos leitões à transição.
  • Por último, mas não menos importante, é essencial regular bem os comedouros para que o leitão possa aceder à ração, mas sem desperdiçar nada dela. Além disso, com leitões grandes, é necessário ser restritivo para que nas tulhas haja pelo menos 70% da superfície vazia e se evite um consumo excessivo nas primeiras horas.
Foto 8. Tulha com demasiada ração.
Foto 8. Tulha com demasiada ração.

Se temos que desmamar precocemente ou em desmames de 24-26 dias onde hajam grupos de leitões com menos de 4,5 kilos, é bom trabalhar com sistemas adicionais de leite artificial e/ou papas durante os primeiros dias após o desmame. O maneio destes sistemas pode ser complicado, pelo que serão iremos falar sobre eles em artigos futuros.

Foto 9. Sistema de papas e pratos com leite para os leitões mais pequenos ou débeis.
Foto 9. Sistema de papas e pratos com leite para os leitões mais pequenos ou débeis.

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FAQs

Qual é o nosso objectivo principal à chegada do leitão às baterias após o desmame?

Uma vez que temos os leitões recém-desmamados na sala, o objectivo principal é assegurar que se adaptem ropidamente ao seu novo ambiente, que estejam cómodos  que comecem a beber e a comer o quanto antes ainda que de maneira controlada para evitar problemas digestivos.

Qual é a densidade recomendada para alojar os leitões nas baterias?

A densidade recomendada para alojar os leitões nas baterias é de 0,3 m2 por leitão.

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