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Detecção de agentes patogénicos entéricos em leitões recém-nascidos (2/2)

O principal ponto que não se deve esquecer é a abordagem global necessária para avaliar todas as possibilidades: devem-se recolher amostras e analisá-las para todos os agentes que possam causar a referida diarreia.

A avaliação histológica das secções intestinais mencionadas no artigo anterior deveria permitir suspeitar do possível agente envolvido no processo e, nalguns casos, definir a presença de agentes infecciosos. Por exemplo, a atrofia das vilosidades pode ser causada por coccidios (I. suis), Rotavirus, GETv, DESv, Deltacoronavirus ou inclusive C. perfringens tipo A. Se as amostras pertencem a leitões de mais de cinco ou seis dias, podemos encontrar formas sexuais ou assexuais de I. suis no citoplasma dos enterócitos da extremidade das vilosidades. Se não se encontram coccidios, pode realizar-se imunohistoquímica para detectar a presença de antigenes víricos de Rotavirus ou Coronavirus nos enterócitos. Em quase todos os casos de ETEC, o exame histológico permitirá a detecção de una miríade de organismos cocobacilares aderidos à superficie do enterócito, na base ou na parede lateral das vilosidades. O C. perfringens tipo C causará uma lesão transmural fibrinonecrótica e hemorrágica de distribuição segmentária no intestino delgado. O C. difficile é o único agente infeccioso que causará lesões no intestino grosso. O edema do mesocólon observa-se com frequência. As principais descobertas em casos de infecção por C. difficile são a redução das células caliciformes e uma grande infiltração de neutrófilos na mucosa do cólon que, nalguns casos, rompem o epitélio como uma erupção vulcânica. O C. perfringens tipo A é o mais difícil de determinar por histopatologia, já que pode causar atrofia das vilosidades, mas o facto de não encontrar esta lesão não deve levar a descartar esta possibilidade.

Clostridium difficile
Clostridium difficile

Rotavirus, E.coli y Clostridium perfringens

Rotavirus Clostridium perfringens E. coli

 

É importante que a bacteriologia das amostras frescas de intestino se levem a cabo tanto em condições aeróbicas como anaeróbicas. A E. coli crescerá facilmente em agar-sangue e MacConkey mas inclusivamente o crescimento puro de colónias beta-hemolíticas não é um diagnóstico definitivo já que se requer tipificação para demonstrar a presença de factores patogénicos, como genes de fimbrias (F4, F5, F41, F18,…) e toxinas (LT, STa, STb, STx2e, …). Esta tipificação é frequentemente levada a cabo mediante um multiplex PCR. Para o diagnóstico de C. perfringens tipo C é essencial o cultivo anaeróbico, juntamente com a tipificação molecular (multiplex PCR) para a detecção de genes de toxinas, como beta toxina. As rotinas bacteriológicas para C. perfringens tipo A e C são idênticas. No passado, a detecção do gene para a toxina beta-2 era o marcador para as estirpes patogénicas de C. perfringens tipo A, mas estudos recentes do nosso grupo e do grupo de Iowa State University demonstraram que as estirpes beta-2 positivas de C. perfringens tipo A são mais frequentes em animais sãos que em porcos diarreicos. Como resultado, a definição final e o diagnóstico de C. perfringens tipo A é o mais complicado.

O isolamento viral é difícil no diagnóstico de rotina, pelo que se fazm testes alternativos. Quase nunca se realiza microscopia electrónica de transmissão para a detecção de corona ou rotavirus e só se usa nalguns laboratórios de diagnóstico dos EUA. Com maior frequência se realiza electroforese em gel de poliacrilamida (PAGE) em amostras fecaois para a identificação do RNA segmentado de rotavirus A, B e C, ainda que a sua sensibilidade seja muito maior se se utilizarem PCRs multiplex. Para o diagnóstico de coronavirus (PED, GET e Deltacoronavirus), na América do Norte, tem-se utilizado com muita frequência a técnica PCR multiplex, utilizando um conjunto distinto de engordadores.

O material fecal do intestino grosso é valioso para a detecção das toxinas A e B de C. difficile. Como este agente faz parte da microbiota intestinal normal, para o seu diagnóstico é essencial a detecção das mencionadas toxinas mediante os kits comerciais de ELISA. É importante mencionar que estes kits comerciais de ELISA foram desenvolvidos e optimizados para amostras humanas e que a sensibilidade em fezes suínas é baixa. Portanto, o tamanho da amostra es importante e recomenda-se que sejam analisadas, pelo menos, 3-6 amostras fecais de animais diarreicos. Com base no mesmo princípio, o exame directo de fezes utiliza-se com frequência para a detecção de oócitos de coccidios; contudo, como a sensibilidade também é baixa, a recomendação é de recolher amostras de 3-5 leitões por ninhada com diarreia clínica, em 10 % das ninhadas entre os 7 e os 21 dias de idade.

Pode concluir-se que a detecção de agentes enteropatogénicos em leitões recém-nascidos é sempre complicada. O principal ponto que não se deve esquecer é a abordagem global necessária para avaliar todas as possibilidades. Neste sentido, devem-se recolher amostras e analisá-las para todos os agentes que possam causar a referida diarreia. A PCR é uma ferramenta potente, ainda que não se tenha que apostar tudo nesta cartada. Técnicas mais antigas, como a histopatologia podem guiar a interpretação dos resultados e ampliar as tuas perspectivas.

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