No diagnóstico das patologias nervosas é difícil determinar inicialmente se os problemas se encontram nos ossos, articulações, músculos ou tendões ou nos nervos. Devemos descartar problemas anatómicos ou patológicos nos quatro primeiros sistemas antes de supor que nos enfrentamos a problemas do sistema nervoso. Evidentemente, as fracturas, os problemas do complexo OCD (coxeiras por osteocondrose) e factores que afectam as patas, são os diagnósticos mais habituais quando há problemas de locomoção. Por outra parte, às vezes, quando os suinicultores fabricam a sua própria ração ainda podemos observar problemas relacionados com uma incorporação incorrecta dos níveis adequados de vitaminas e minerais. A isto podemos somar a cobrição demasiado precoce de raças precoces que necessitarão períodos de engorda compensatórios e remineralização dos seus esqueletos na segunda lactação, esperando que entretanto não se produzam fracturas ósseas.
Porco com PSC |
Doença de Aujeszky |
Todos devemos ter em conta que parte das principais doenças epizoóticas suínas têm uma componente de doença nervosa como consequência da implicação sistémica; por exemplo, a Doença de Aujeszky (neurónios), a peste suína clássica ou a peste suína africana (vasos sanguineos do SNC). A maior parte destas podem-se detetar pelos sintomas clínicos, especialmente com ajuda do termómetro e a demonstração de pirexia elevada, mas também mediante a presença de sinais noutros sistemas e, naturalmente, atendendo às técnicas de laboratório.
Existem três formas da Doença de Aujeszky: respiratória, reprodutiva e neurológica, esta última é a mais grave e de maior efeito.
A Doença de Teschen desapareceu da lista das principais epizootias, e com bastante razão já que só aparece como uma doença grave na zona de Checoslováquia que deu nome à doença (cursa com pirexia, entumescimento, tremores, convulsões, paralesia e morte em 3-4 dias). As deformações mais leves denominaram-se Doença de Talfan. Estas todavia podem-se produzir e junto com todos os demais enterovirus menores dos porcos consideram-se todas elas membros dos enterovirus suínos. Estes enterovirus apresentam uma grande variação nas suas estirpes e, portanto, na patogenicidade. Podem provocar encefalite e mielite bastante graves em populações de porcos susceptíveis e nestes casos é necessário isolar os vírus das lesões da medula espinal ou do cérebro. É preciso realizar o exame histológico do cérebro e da espinal medula e, se fôr necessário, conservar tecido fresco para uma análise em micromatriz. Pode haver estados bastante graves de manguitos perivasculares com necrose neuronal, focos de malacia, cromatolise e neuroniofagia. As lesões geralmente são mais graves na matéria cinzenta do que na matéria branca, e os neurónios motores dos cornos ventrais da espinal medula estão mais afectados que os do corno dorsal.
Uma vez descartadas as epizootias graves, que nos falta? Sou um grande defensor do velho ditado de que o normal é o corrente e por aí devemos começar. O diagnóstico clínico mais provável em porcos jovens é o de infecções por Streptococcus suis normalmente do tipo 2 ou 1 ou 1/2 mas rara a vez de outros serotipos.
Assim de repente há grupos de porcos jovens que morrem ou que apresentam sintomas nervosos, mas que respondem bem à penicilina, se há porcos com articulações inchadas ou porcos com pleuresia, pericardite ou peritonite, um exame pós-mortem e o diagnóstico diferencial de laboratório com cultivo e caracterização de serotipos dirá se se trata de S. suis ou possivelmente de H. parasuis. Em alguns casos a herniação do cerebelo no interior do foramen magnum provocada pela tumefacção do cérebro sugere a presença de S. suis. Uma torunda inserida através do foramen magnum permitirá recuperar S. suis das meninges que podem perfeitamente ser opacas no caso afectado de modo clássico.
Assim, as infecções leves com baixa morbilidade e mortalidade em porcos pré-desmamados com vómitos, emaciação e letargia mas com muita frequência com boa recuperação podem estar relacionadas com o vírus da encefalite hemoaglutinante. Este virus está muito presente em populações suínas e normalmente, pela elevada exposição, não provoca problemas.
Nalgumas zonas pode haver um problema em porcos jovens e pós-desmamados com o virus da encefalomiocardite (EMCV) que é um virus de roedores que provoca sintomas tanto neurológicos como cardíacos em porcos. O examem pós-mortem e o aspecto à vista desarmada de estrias brancas no coração indicadoras de possível necrose, infiltração de células mononucleares e fibrose junto com o edema nas cavidades do organismo é, em suma, sugerente de EMCV. A recolha de amostras histológicas do músculo cardíaco tornará possível um diagnóstico de confirmação e ratificará a presença ou ausência da doença do coração de mora ao mesmo tiempo que pode apresentar-se com lesões cardiotorácicas similares. O virus pode-se confirmar por PCR, RT-PCR ou por cultivo do virus.
Na actualidade, a probabilidade de que se possa produzir uma intoxicação por sobredosificação acidental de fármacos ou pela mistura de compostos perigosos é muito baixa. De modo que não se descrevem incidentes de intoxicação por ácido arsanílico, intoxicação por organofosforados e hidrocarburos clorados. Contudo, todavia podem-se produzir, como pode acontecer com as intoxicações por plantas como o feto, mas a única que provavelmente se poderia produzir numa situação de preparação própria da ração é a que se produziria com selénio, já que a diferença entre o nível terapeutico e um nível tóxico é bastante reduzida. Um surto de grandes dimensões que afectou mais de 6.000 animais no Reino Unido nos anos 80 pensou-se que era devido exclusivamente à leitura errada da posição do ponto decimal, de modo que se acrescentaram 20 kg em vez de 2 kg. É preciso ter cuidado quando se faça a mistura de rações, sobretudo se são preparadas as meisturas pessoalmente.
Leitões com edema intestinal |
Há outras duas patologias bastante frequentes estabelecidas como causa de doenças neurológicas em porcos que de facto não estão relacionadas com agentes neuropáticos mas que são o resultado de alterações tóxicas no cérebro. A primeira delas produz-se normalmente 5-7 dias depois do desmame e está relacionada com a proliferação de determinadas estirpes de E. coli no intestino que produz enterotoxinas que são absorvidas e danificam o cérebro provocando entre outras alterações angiopatia nos vasos pequenos. Pode-se observar uma linha bilateral de malacia na medula através do cérebro médio. O diagnóstico faz-se cronometrando os sintomas clínicos, edema do mesentério, maior curvatura de ventre ou as pálpebras e isolamento dos serotipos O patogénicos do intestino.
Ainda que não devesse ocorrer nestes tempos em que o bem-estar dos porcos é uma grande preocupação, a privação de água ou a intoxicação por sal tal como se conhecia antigamente, todavia se produz. É causada por falhas no fornecimento, por um número incorrecto de bebedouros ou do fluxo necessário. Às vezes produz-se pelo elevado conteúdo de sal na dieta mas este é pouco frequente e inclusive os próprios porcos podem responder automaticamente se a quantidade de água for abundante.
Stan Done. Veterinary Laboratories Agency. Reino Unido