Descrição da exploração
Descrição da exploração
Este processo inicia-se numa exploração de 550 porcas, com leitões até aos 18 Kg p.v. A engorda realiza-se em unidades externas à exploração. No último ano realizou-se um aumento de censo de 200 porcas que incorporou directamente de uma empresa de genética. Trabalham com uma linha LW-LR. O macho finalizador é Pietrain alemão.
As nulíparas entram de 2 em 2 meses, e ficam nuns pátios ao ar livre dentro da exploração. Realizam-se quarentenas mínimas de 1,5 meses. Junto a estes pátios encontram-se as porcas de refugo. As precauções que se tomam limitam-se à desinfecção de botas antes de entrar nos pátios.
As instalações mais antigas têm 10 anos. Trabalha-se com lotes semanais, em sistema tudo dentro-tudo fora estrito nas maternidades e baterias; dispõe de 4 salas de 24 jaulas de parto e 6 salas de 240 leitões. Duas salas de maternidade têm slat tribar e as outras duas slat de plástico.
O nível sanitário da exploração é aceitável: Aujeszky negativo, PRRS estabilizado, livre de rinite, actinobacilose e disenteria. Depois da ampliação realizou-se a erradicação da sarna. Aplicam-se as vacinações de Aujeszky à totalidade do efectivo, e de parvovirus-mal rubro só nas nulíparas. Os leitões vacinam-se contra Micoplasma.
Aparecimento do problema
Aparecimento do problema
Na primavera do ano 2002 realizou-se uma visita à exploração depois de uma chamada de urgência: tinha aparecido diarreia nas maternidades, com a maioria das ninhadas afectadas. Tinha-se injectado enrofloxacina aos leitões sem nenhum efeito. De início, observou-se uma diarreia sanguinolenta em leitões de 2-3 dias de vida, que era paralelo a uma elevada mortalidade.
Diagnóstico e Medidas tomadas
Diagnóstico e medidas tomadas
Realizou-se a necropsia de 3 leitões e observou-se uma enterite hemorrágica que afectava, praticamente a totalidade do intestino delgado.
O diagnóstico, diarreias causadas por C. perfringens tipo C, não oferecia dúvidas e a resposta às vacinas coli-clostridium foi óptima e rápida. Paralelamente, intensificaram-se as medidas de limpeza e desinfecção das instalações, com a colocação de recipientes com solução desinfectante à entrada das salas e lavagem dos tetos das porcas com iodo à entrada na maternidade. Enquanto se esperava pelas ninhadas de porcas imunizadas, aplicou-se ampicilina via oral aos leitões ao nascimento e medicou-se a ração das porcas com uma fenoximetilpenicilina para baixar o nível de excreção.
Um ano depois
Um ano depois , e na mesma exploração, apresentam-se umas diarreias escuras ou cinzentas nos animais de 7 a 14 dias de idade, com uma morbilidade média acompanhada de uma mortalidade baixa, mas sobretudo, aparecem alterações importantes do crescimento dos leitões. Aumenta de forma preocupante a percentagem de refugo. . Algumas baixas não chegam a apresentar nenhum sintoma, mas na maioria dos casos aparecem lesões de tipo necrótico-hemorrágico, circunscritas a determinadas (e em geral pequenas) partes do intestino delgado.
O "diagnóstico" rápido é de Coccidiose. Aplica-se o tratamento com toltrazuril, mas, ainda que inicialmente parecesse que o processo regredia, o mesmo ressurge de novo.
Análise e diagnóstico
Análise e diagnóstico
Como em princípio a lesão parece clara, decide-se confirmar o diagnóstico no laboratório.
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Análises Solicitadas : 1 coprocultivo (>2)
O resultado para a Isospora suis é negativo. Neste momento decide-se solicitar uma bacteriologia e enviam-se amostras de aparelho digestivo, fígado, rim e baço de 3 leitões.
O aspecto do ileo dos três animais é o mesmo: macroscopicamente apresenta uma imagem de enterite necrotizante muito extensa.
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Estudo parasitológico-bacteriológico:
Digestivo 1Digestivo 2Digestivo 3Coccidios negativonegativonegativoClostridium perfringens* Escherichia coli Salmonella spp ausênciaausênciaausência
Nos cultivos de fígado, gânglios e baço não se isola Salmonella, tão só estirpes de Escherichia coli isoladas da mucosa e conteúdo intestinal , e que apresentam um carácter misto e nenhuma é b hemolítica (estima-se que se trata de E. coli ) .
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Tipificação de Clostridium perfringens (PCR).
Realiza-se PCR dos três isolamentos de Clostridium perfringens; as três estirpes são produtoras de toxina b2 e não de Epsilon nem Iota. Portanto, trata-se de um Clostridium perfringens tipo C.
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Estudo histopatológico (intestino delgado)
As secções estudadas mostram a presença de múltiplos focos de ulceração e necrose da mucosa associada a uma intensa exsudação neutrofílica abundante e à presença de numerosas colónias bacterianas.- Diagnóstico histopatológico: Enterite necrotizante aguda.
Medidas tomadas e evolução
Medidas tomadas e evolução
Ante este diagnóstico intensifica-se a tabela vacinal, com 2 doses de vacina Coli-Clostridium (5 ml, IM) na gestação (40 e 20 dias pré-parto) durante, pelo menos, um ciclo de todas as porcas, e em primíparas 3 doses antes do 1º parto (60, 40 e 20 dias pré-parto, por exemplo). Também se reforça muito a ideia de assegurar um colostramento correcto.
Os resultados obtidos foram satisfatórios, inclusive óptimos, ainda que nalguns momentos tenham aparecido reaparecimento de surtos suaves.
Comentários
A descrição deste processo inicia-se com um caso típico de diarreias em leitões lactantes causadas por um Clostridium perfringens C .
Situamo-nos numa exploração de 550 porcas, com leitões até aos 18 Kg p.v. Trabalha-se com lotes semanais, com tudo dentro-tudo fora estrito nas maternidades e baterias. Inicialmente observa-se uma enterite necrotizante típica nos animais de menos de 3 dias de vida, com uma alta morbilidade e uma mortalidade altíssima.
O quadro lesional neste caso corresponde ao de uma enterite hemorrágica que costuma afectar a quase totalidade do intestino delgado. As diarreias são muito hemorrágicas e escuras. Há leitões que não chegam a apresentar sintomas.
O diagnóstico inicial é concludente e a resposta às vacinas coli-clostridiais é óptima e rápida. Paralelamente, intensificam-se as medidas de limpeza e desinfecção das instalações e lavam-se os tetos das porcas com iodo à entrada na maternidade. O processo regride de forma satisfatória.
Um ano depois, e na mesma exploração, apresentam-se umas diarreias escuras ou cinzentas nos animais de 7 a 14 dias de idade, com uma morbilidade média acompanhada de uma mortalidade baixa, mas, sobretudo, alterações do crescimento. Na necropsia, observam-se lesões inflamatórias e necróticas. Após uma suspeita inicial de coccidiose, e ante a resposta nula ao tratamento, o caso é rediagnosticado como uma forma crónica de Clostridium perfringens tipo C. Para se chegar a esta conclusão, foram realizados cultivos bacteriológicos e um coprocultivo. Após o isolamento realizou-se um PCR para despistar o Clostridum como colonizador de lesões de TGE, DEV ou Rotavirus.
O tratamento consistiu em reforçar a tabela vacinal para conseguir uma imunização de 100% do efectivo. Conhecemos algumas situações onde se utilizaram vacinas contra a clostridiose utilizadas em ovinos ante a dificuldade em controlar o reaparecimento de novos surtos.