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Efeito do stress térmico na digestibilidade dos aminoácidos em suínos

Os porcos expostos ao stress térmico aumentam a sua temperatura corporal e reduzem o tamanho das suas vilosidades intestinais, que assim aumentam a perda de AA endógenos e reduzem a abundância de transportadores de AA no intestino, a digestibilidade ileal aparente e o padrão de AA.

A produção de carne de porco no mundo está situada maioritariamente nas áreas onde a temperatura  ambiente é mais elevada do que a temperatura de conforto ou termo-neutral para os suínos. A exposição dos porcos a temperatura ambiente elevada provoca stress térmico, o que altera o seu comportamento, fisiologia e metabolismo para conservar a homeostase. A redução no consumo voluntário de alimento e o aumento da temperatura corporal são as mudanças mais visíveis que ocorrem nos suínos em stress térmico. Por sua vez, o aumento da temperatura corporal dos suínos em stress térmico provoca aumento do fluxo sanguínio para a periferia. Estas alterações estão concebidas para reduzir a produção de calor corporal e promover a sua eliminação para o ambiente. No entanto, em vários estudos verificou-se de forma consistente uma relação muito próxima entre a temperatura ambiente a que os suínos são expostos com a sua temperatura corporal (Morales et al., 2015; 2016). Isto é, quando a temperatura ambiente chega a valores críticos, a capacidade do animal para eliminar calor não é suficiente para manter a temperatura corporal inalterada, subindo até 2 °C (Morales et al., 2016; Pearce et al., 2014). Esta situação pode afetar a integridade do epitélio intestinal dos porcos e em consequência a digestão e absorção de nutrientes.

Relação entre a temperatura ambiente e a temperatura corporal de suínos (r2 = 0.90)

Relação entre a temperatura ambiente e a temperatura corporal de suínos (r2 = 0.90)

Como mecanismo para dissipar calor, o organismo aumenta o fluxo sanguíneo para a periferia, mas diminui o fornecimento de oxigénio e nutrientes aos tecidos do sistema digestivo, provocando stress oxidativo no epitélio intestinal. Por sua vez, hipóxia, deficiência de nutrientes e stress oxidativo aumentam a morte de células das vilosidades intestinais traduzindo-se numa redução do seu tamanho e em danos no epitélio intestinal (Liu et al., 2009). O aumento da morte celular incrementa a perda endógena de alguns AA, especialmente arginina, fenilalanina, histidina e treonina (Morales et al., 2016), enquanto que o menor tamanho das vilosidades intestinais devido ao stress térmico pode afetar a digestão de proteínas e a absorção de AA (Morales et al., 2015).

A digestibilidade ileal aparente de AA é definida como o desaparecimento, no intestino delgado, dos AA ingeridos na dieta (Stein et al., 2007) e é calculada subtraindo a quantidade de AA que chega ao final do intestino delgado à quantidade AA ingerida. A quantidade total de cada AA que chega ao final do íleo inclui AA da dieta não absorvidos além de teores em proteínas endógenas não digeridas. A redução no tamanho das vilosidades intestinais devido ao stress térmico (Yu et al., 2010; Pearce et al., 2014) indica que porcos nestas condições possuem menor número de células intestinales (enterócitos) capacitadas para complementar a digestão das proteínas e realizar a absorção de AA. Observou-se uma redução acentuada na abundância de transportadores de AA em enterócitos de porcos expostos a stress térmico (Morales et al., 2014). Em conjugação, a maior perda endógena de alguns AA e a menor capacidade de absorção devido ao stress térmico afetam a digestibilidade ileal aparente de arginina, histidina e leucina, coincidindo com os mesmos AA cuja perda endógena aumenta devido ao stress térmico. A digestibilidade ileal padrão é calculada de forma semelhante à digestibilidade ileal aparente mas é corrigida pela quantidade endógena de cada AA que chega ao íleo terminal. O stress térmico parece reduzir também a digestibilidade ileal padrão de arginina e histidina em porcos em stress térmico (Morales et al., 2016). Isto é, o stress térmico não só aumenta a perda de arginina e histidina de origem endógena como também reduz a digestão de proteínas endógenas ricas nestes AA ou a reabsorção dos AA que as compõem. A menor digestibilidade ileal padrão de arginina e histidina em porcos em stress térmico coincide com a menor abundância no jejuno do seu transportador (Morales et al., 2014). Curiosamente, o stress térmico não afeta a digestibilidade ileal aparente nem a padrão dos AA que estão incuídos de forma livre na dieta (e.g., lisina) porque a sua absorção ocorre desde o duodeno e não competem com a lisina ligada à proteína da dieta, que deve ser digerida antes de libertada para ser absorvida no jejuno e íleo.

Digestibilidade aparente de aminoácidos em suínos expostos a temperatura ambiente de conforto (24 ± 2 °C) ou de stress térmico (variação diária de 30 a 42 °C).

Digestibilidade aparente de aminoácidos em suínos expostos a temperatura ambiente de conforto (24 ± 2 °C) ou de stress térmico (variação diária de 30 a 42 °C).

Em conclusão, os porcos expostos a condições de stress térmico aumentam a sua temperatura corporal e reduzem o tamanho das suas vilosidades intestinais, as quais aumentam a perda de AA endógenos e reduzem a abundância de transportadores de AA no intestino, a digestibilidade ileal aparente e a padrão de AA. Em conjugação, estas alterações afetam direta e indiretamente a capacidade de absorção de AA dos porcos expostos a stress térmico, e aparentemente fazem-no de maneira diferenciada uma vez que reduzem principalmente a digestibilidade ileal aparente de arginina, histidina, leucina e treonina. No entanto, a inclusão de AA livres nas dietas para suínos em stress térmico pode corrigir os efeitos negativos do stress térmico na absorção de AA.

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