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Dinâmica da infecção por Mycoplasma hyorhinis em explorações suínas comerciais

O conhecimento da dinâmica da infecção nas explorações permitirá implementar melhores estratégias de controlo nas explorações afectadas.

Nos últimos anos tem havido um interesse crescente no Mycoplasma hyorhinis como causa de poliserosite e artrite em leitões desmamados. Embora se assuma que as porcas transmitem a bactéria aos seus leitões, o conhecimento acerca da sua epidemiologia e ecologia é limitado. Actualmente há pouca informação sobre aspectos essenciais, como o momento da colonização, a dinâmica de transmissão pós-desmame ou o papel da porca na propagação da doença.

Nos dois estudos que se apresentam de seguida, foram utilizados os testes de diagnóstico mais actuais, como qPCR e técnicas de recolha, como fluídos orais e zaragatoas nasais, para ampliar o conhecimento da epidemiologia deste microorganismo na indústria suína actual.

Estudo 1. Estimativa da prevalência da colonização nasal de M. hyorhinis em explorações suínas com poliserosite

Foram seleccionadas três explorações de cria de 6000 mães, atribuídas como exploração A, B e C e os seus respectivos desmames. Ainda que as três explorações tenham tido antecedentes de doença por M. hyorhinis, apenas as explorações A e B apresentaram uma elevada mortalidade devida à poliserosite no momento da amostragem. Para cada exploração a recolha de amostras consistiu na recolha de zaragatoas nasais de 60 porcas e 60 leitões de cada grupo de idade (1, 7, 14 e 21 dias de vida), assim como 30 porcos em cada grupo de 28, 35, 42, 49, 56, 63, 70 e 77 dias de idade. Além disso, tendo em conta que M. hyorhinis pode ser detectada na superfície orofaríngea, foram também recolhidas amostras de fluído oral de um curral por idade na transição. Para investigar o papel de M. hyorhinis nos casos de poliserosite, foram também recolhidas amostras de tecido de dez animais clinicamente afectados e dez sãos, por necrópsia à idade na qual se deu o pico de mortalidade na transição. As amostras foram analisadas para M. hyorhinis mediante uma qPCR desenvolvida no nosso laboratório.

Resultados do estudo

Foi observada a presença de M. hyorhinis na cavidade nasal de 5/60 porcas na exploração A, em 3/60 na B e em nenhuma da C. Nas explorações A e B, onde haviam casos clínicos de M. hyorhinis, a prevalência da colonização foi baixa em leitões lactantes (média de 8%) e elevada em pós-desmame (média de 98%). Por outro lado, na exploração C, sem casos clínicos de M. hyorhinis, a colonização foi muito baixa até à última semana na transição. Em relação aos fluídos orais, 7/8 das amostras recolhidas nos porcos pós-desmame positivas a M. hyorhinis nas explorações A e B, enquanto que só 1/8 foi positiva na C. Não foi observada poliserosite em nenhum dos animais sãos das três explorações nem nos porcos doentes da exploração C. No entanto, nas explorações A e B foi observada poliserorisite em 9/10 e 4/10 porcos doentes, respectivamente (Figura 1). M. hyorhinis foi detectado por PCR no pericárdio de 8/10 porcos doentes em A e 3/10 em B. Foi possível isolar M. hyorhinis do pericárdio nas amostras das explorações A e B. Na exploração C, a PCR não detectou M. hyorhinis em nenhum dos porcos necropsiados.

Pericarditis en corazón observada en enfermedad sistémica por M. hyorhinis.

Figura 1. Pericardite no coração observada na doença sistémica por M. hyorhinis.

Estudo 2. Estudo longitudinal prospectivo da colonização por M. hyorhinis em duas explorações comerciais

Foram seleccionadas duas explorações de cria (A e B) com historial de poliserosite e não vacinadas contra M. hyorhinis. Em cada exploração foi realizada uma amostragem longitudinal a diferentes idades. Foram seleccionadas aleatoriamente um total de 50 porcas de primeiro e segundo parto e 50 porcas de terceiro parto ou mais, ás quais foram recolhidas zaragatoas nasais que foram analisadas para detectar M. hyorhinis mediante qPCR e anticorpos no soro mediante ELISA (Figura 2).

Recogida de hisopos nasales de cerdas para detección de M. hyorhinis mediante qPCR.

Figura 2. Recolha de zaragatoas nasais de porcas para detecção de M. hyorhinis mediante qPCR.

Foi seleccionado também aleatoriamente um leitão por ninhada, 100 no total, que foram brincados para a sua identificação. Foram recolhidas zaragatoas nasais e amostras de soro de cada leitão no momento do nascimento, ao desmame e aos 10 dias pós-desmame (Figura 3-4). Foram realizadas duas novas recolhas de amostras na transição e engorda durante os picos de poliserosite/artrite/pneumonia. Além disso, durante o momento de recolha das amostras, e com o objectivo de confirmar o papel de M. hyorhinis nos casos de poliserosite, um total de doze porcos foram abatidos e necropsiados (10 animais clinicamente doentes e 2 clinicamente sãos). Também foram recolhidas um total de 56 amostras de fluídos orais em pós-desmame. Em resumo, foram recolhidos um total de 1.050 zaragatoas nasais de 216 porcas e 216 porcos, em 10 momentos de recolha diferentes.

Crotalado de lechones antes de la toma de muestras. Recogida de hisopos nasales de lechones poco después de nacer.

Figura 3. Brincagem de leitões antes da recolha de amostras.

Figura 4. Recolha de zaragatoas nasais de leitões pouco depois de nascer.

Resultados do estudo

M. hyorhinis foi detectado por qPCR na cavidade nasal de 5/107 porcas na exploração A e 2/110 na B. Quatro das porcas positivas eram de primeiro e segundo parto em quanto que as outras três eram de terceiro parto. A prevalência de colonização dos leitões foi baixa em ambas as explorações (média de 1,7%) e alta no pós-desmame (média de 85%). A maioria dos porcos foram colonizados pouco depois da sua entrada na transição e permaneceram positivos durante toda a transição e engorda. Em ambas as explorações os resultados dos títulos de anticorpos mostraram que os leitões tinham anticorpos (maternos) contra M. hyorhinis pouco depois do nascimento. Estes anticorpos começaram a diminuir pouco depois do desmame. Aproximadamente aos 94 e 64 dias de vida, nas explorações A e B, respectivamente, os títulos de anticorpos começaram a aumentar. Pressupõe-se que este aumento foi devido a uma resposta imunitária activa. Na exploração A, 25/31 dos fluídos orais foram positivos. Por outro lado, a detecção de M. hyorhinis nos fluídos orais foi consistente com a detecção nas amostras nasais. Na exploração A, M. hyorhinis foi detectado no pericárdio (12/18) e nas articulações (10/18) dos porcos doentes. Do mesmo modo, na exploração B, M. hyorhinis foi detectado no pericárdio (5/10) e nas articulações (4/10) dos porcos doentes. Isto contrastava com uma ausência de M. hyorhinis nos mesmos tecidos dos animais sãos. Todos os porcos necropsiados foram PCR positivos para M. hyorhinis na cavidade nasal.

Considerações finais

M. hyorhinis encontra-se de forma habitual na cavidade nasal da espécie suína. No entanto, nem todos os porcos de uma população são colonizados e nem todos se colonizam no mesmo momento. Supõe-se que os poucos leitões colonizados ao desmame sejam responsáveis da transmissão pós-desmame.

O uso de fluídos orais para a detecção de M. hyorhinis parece ser uma ferramenta útil no acompanhamento da dinâmica de infecção numa exploração e permite uma melhor temporização do tratamento com antibióticos ou vacinas. No entanto, é requerida uma validação adicional para a detecção de M. hyorhinis nos fluídos orais.

O conhecimento da dinâmica da infecção nas explorações permitirá implementar melhores estratégias de controlo nas explorações afectadas.

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