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Caso clínico: Doença dos edemas

2 comentários

Há diversos factores que podem provocar o aparecimento de edemas. Desde logo causas microbianas mas também predisposição de determinada genética.

2 Julho 2007
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Descrição da Exploração



Trata-se de uma exploração francesa de ciclo fechado com 230 porcas. O maneio realiza-se em bandas de 3 semanas e os leitões são desmamados aos 21 dias.

As primíparas de substituição e o sémen para inseminação são comprados fora da exploração.

Para os porcos de engorda e acabamento utiliza-se alimentação líquida a que se junta lactosoro.

A exploração encontra-se distribuída da seguinte forma:




Estatuto sanitário e profilaxia

A exploração é positiva para PRRS e apresenta certa sensibilidade para estreptococias e diarreias cinzentas.

Plano vacinal:

Porcas: mal rubro, parvovirose, diarreias neo-natais colibacilares e rinite.

Leitões: vacina monodose contra micoplasma aos 14 dias de vida e vacina viva modificada contra a PRRS aos 28 dias de vida.


Aparecimento do Caso



O problema aparece durante o mês de Janeiro de 2005 quando de forma brusca morrem 10 porcos em fase de crescimento. Todas as mortes aconteceram num só comedouro para alimentação líquida e encontravam-se precedidas por uma ligeira falta de apetite geral que levou o suinicultor a suprimir a refeição do dia anterior. O suinicultor observou sintomas nervosos em alguns animais que inclinavam a cabeça e apresentavam os olhos avermelhados.


Visita à Exploração



Antes da visita e durante a chamada telefónica, o suinicultor comenta que recentemente houve uma entrega de lactosoro e uma suplementação das rações com bicarbonato nos comedouros para alimentação líquida, que são de pequeno tamanho, o que fez pensar numa intoxicação por sal. Esse facto levou a pôr os animais somente a água durante uma refeição e a retomar a alimentação sem soro lácteo. Além do mais, o suinicultor, convencido de poder ser uma estreptocócia, iniciou um tratamento com trimetoprim sulfa.

Durante a visita do veterinário observa-se como alguns animais na fase de crescimento apresentam um aspecto adoentado e olhos inchados, assim como alguma carúncula lacrimal e alguns animais com uma tosse muito rouca.


Resultados das necropsias

Realiza-se a necropsia de 3 animais observando:

- articulações da curva inflamadas em 2 dos animais.

- presença de «gelatina» nas articulações.

- filamentos de fibrina sobre o peritoneo nos 3 animais.

- hipertrofia dos gânglios mesentéricos em todos os animais.

- parede intestinal congestionada em 2 dos 3 animais.

- edema violento do cólon e da parede estomacal num animal e edema do cego noutro.

- presença de alimento nos estomagos.

- presença de líquido abundante na cavidade pericárdica.

- pequenas lesões pulmonares.

edema do cólon
filamentos de fibrina
inflamação do jejuno


Medidas Tomadas



Neste ponto, sem quase qualquer dúvida, o diagnóstico seria doença dos edemas, ainda que tampouco se pense que seja impossível que a mudança da ração tenha conduzido a este episódio.

O suinicultor considera que não é necessário ter mais gastos enviando amostras para o laboratório para confirmar o diagnóstico. Apenas se realiza uma análise da água, confirmando a sua potabilidade.

O veterinário aconselha-o a manter a ração sem lactosoro, finalizar a administração de trimetoprim e iniciar um tratamento com colistina via oral em todos os animais da sala assim como tratamento individual com injecção de dexametasona e marbofloxacina nos animais com sintomas da doença.


Novo Episódio Clínico e Diagnóstico



Ao cabo de 2 meses volta-se a repetir um episódio de mortalidade novamente nos animais em fase de crescimento. Durante a visita constata-se, tal como no primeiro episódio, a presença de tosse em animais de primeira idade e diarreias cinzentas no final da transição.

Esta vez decide-se enviar um animal de 35 kg para o laboratório.


Necrópsia

Durante a necropsia observa-se o seguinte:

Exame externo Tremores
Hipertrofia e inflamação dos gânglios mesentéricos
Pulmões Ausência de lesões macroscópicas
Intestino delgado Inflamação da mucosa
Conteúdo líquido
Gânglios mesentéricos Muito hipertrofiados
Inflamação
Gânglios inguinais Hipertrofiados

Estas lesões corroboram a presença de colibacilose.


Bacteriologia

Isola-se Escherichia coli hemolítica O141K85ac de um gânglio mesentérico e do conteúdo intestinal.

O antibiograma é o seguinte:

Antibióticos
Interpretação (*)
S
I
R
Aminósidos
Gentamicina (10 UI)
X
Espectinomicina
X
Apramicina
X
Neomicina
X
Beta-lactâmicos
Amoxicilina
X
Cefalosporinas
Ceftiofur
X
Fluoroquinolonas
Enrofloxacina
X
Marbofloxacina
X
Polipéptidos
Colistina
X
Quinolonas de 1ª geração
Ácido oxolínico
X
Flumequina
X
Sulfamidas e associação
Trimetoprim + sulfamidas
X
Trimetoprim
X
Tetraciclinas
Tetraciclina
X
Doxiciclina
X
(*S : sensível – I : intermédio – R : resistente)


Diagnóstico

Não há dúvida sobre o diagnóstico já que tanto os sinais clínicos como os resultados da análise do laboratório indicam a presença de edema colibacilar.


Medidas Tomadas



A partir de Abril de 2005 e posteriormente aplicam-se várias medidas.

Inicialmente:

  • Profilaxia: prova inicial com tilosina em animais de segunda idade (sob o pressuposto que uma anterior patologia digestiva leve prepara o terreno para a doença dos edemas). No Outono de 2005 finalizou-se o fornecimento de tilosina e este facto traduziu-se no aparecimento de casos de edemas na transição. Posteriormente experimentou-se com ácido oxolínico na primeira idade.
  • Alimentação: testa-se com um alimento comercial higienizado. Em nenhum momento se volta a utilizar lactosoro.
  • Alojamentos: diminuição da densidade de animais por parque.

Posteriormente:

  • Acidificação da água de bebida com ácidos orgânicos.


Evolução do Caso



Nenhuma das medidas tomadas deu os resultados esperados (apesar de ter menos perdas e mais períodos sem problemas).

Durante o mês de Fevereiro de 2006 realiza-se a vacinação das porcas com auto-vacina.

Em Março de 2006 realiza-se a vacinação das porcas contra a PRRS.

Em Julho de 2006, e depois de um período de calma, aparece um importante número de perdas. A auto-vacina colibacilar administrada aos leitões não deu os melhores resultados.

Realiza-se um acompanhamento serológico da PRRS nos leitões não vacinados e negativos mediante PCR ao desmame (21/06/06) observando-se como se produz contaminação viral, mas depois da doença dos edemas (habitualmente entre as 10-12 semanas) de forma que esta não é responsável por uma eventual diminuição imunitária.

Identificação
19/07/06
(7 semanas de vida)
21/08/06
(12 semanas)
18/09/06
(16 semanas)
24/10/06
(21 semanas)
A
negativo
negativo
negativo
2,5
B
0,5
negativo
negativo
/
C
negativo
negativo
negativo
1,35
D
negativo
negativo
negativo
2,24
E
1,03
1,02
negativo
2,6
F
0,95
0,41
negativo
2,76
G
0,44
/
negativo
/
H
negativo
negativo
negativo
2,09
J
0,85
negativo
negativo
2,19
K
0,75
negativo
negativo
1,59
L
negativo
negativo
negativo
2,35
M
0,54
negativo
negativo
1,71
N
negativo
negativo
negativo
2,39
O
0,45
negativo
negativo
1,96

Tendo em conta o possível papel da genética na sensibilidade à colibacilose, está-se a levar a cabo actualmente uma investigação com sémen de varrasco Large White-Piétrain.

Pelo que, no momento, não foi possível definir os factores que favorecem esta patologia.


Comentários



O caso deste mês, com morte de animais na engorda e observação de perda de apetite, sintomas nervosos e presença de vermelhidão nos olhos, apareceu numa exploração de ciclo fechado parcial com 230 porcas situada em França onde se realiza um maneio em bandas de 3 semanas e os leitões desmamam-se aos 21 dias de vida. Tanto as porcas de substituição como o sémen são comprados no exterior.

O caso aparece dentro de um contexto onde os resultados da exploração são satisfatórios. A recente utilização de lactosoro na dieta contribuiu a dificultar um pouco a situação.

O único ponto sobre o qual a visita à exploração é de uma verdadeira contribuição é no controlo da sobredensidade existente nos parques. Ao finalizar o caso, este ponto ainda não estava regulado completamente já que a produtividade (número de desmamados) se encontrava em progressão.

Actualmente as duas bandas procedentes do novo varrasco encontram-se em fase de engorda e não se detectaram problemas de edemas. Se esta melhoria não persiste, os suinicultores estão decididos a alterar a procedência das primíparas, coisa que parece lógica tendo em conta o possível efeito da genética sobre a sensibilidade ante a doença.

O acompanhamento da PRRS nos leitões não vacinados mostra como o aparecimento da doença dos edemas não é contemporânea com uma seroconversão vis a vis deste virus. Os suinicultores observaram sintomas de PRRS nos porcos durante as 2 semanas antes da última colheita de sangue que resultou positiva.

Em relação com as possíveis causas virais que podem favorecer o aparecimento desta doença, poderia pensar-se na circovirose. Na exploração observaram-se alguns sinais, ainda que discretos: algumas necrose nas orelhas (ainda que não em cada banda), crescimento na engorda que os suinicultores consideram baixo mas com indice de perdas desmame-engorda de 6,5 % apesar dos edemas! De todas as formas, não se observaram lesões que fizessem pensar em circovirose nos porcos necropsiados.

Comentários ao artigo

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22-Mar-2016joão andradejoão andradeadorei as dicas gostaria de receber novidades.
Grato.
01-Out-2017 mbscaldeira53 ola amigos ,,tenho uma ninhada de leitoes de 45 dias agora apareceu um leitao com um ollo fichado e um pouco inchado , e se afasta um poco dos outros mas come normal,,, muito obrigado
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