Descrição da Exploração
Trata-se de uma exploração francesa de ciclo fechado com 230 porcas. O maneio realiza-se em bandas de 3 semanas e os leitões são desmamados aos 21 dias.
As primíparas de substituição e o sémen para inseminação são comprados fora da exploração.
Para os porcos de engorda e acabamento utiliza-se alimentação líquida a que se junta lactosoro.
A exploração encontra-se distribuída da seguinte forma:
Estatuto sanitário e profilaxia
A exploração é positiva para PRRS e apresenta certa sensibilidade para estreptococias e diarreias cinzentas.
Plano vacinal:
Porcas: mal rubro, parvovirose, diarreias neo-natais colibacilares e rinite.
Leitões: vacina monodose contra micoplasma aos 14 dias de vida e vacina viva modificada contra a PRRS aos 28 dias de vida. |
Aparecimento do Caso
O problema aparece durante o mês de Janeiro de 2005 quando de forma brusca morrem 10 porcos em fase de crescimento. Todas as mortes aconteceram num só comedouro para alimentação líquida e encontravam-se precedidas por uma ligeira falta de apetite geral que levou o suinicultor a suprimir a refeição do dia anterior. O suinicultor observou sintomas nervosos em alguns animais que inclinavam a cabeça e apresentavam os olhos avermelhados.
Visita à Exploração
Antes da visita e durante a chamada telefónica, o suinicultor comenta que recentemente houve uma entrega de lactosoro e uma suplementação das rações com bicarbonato nos comedouros para alimentação líquida, que são de pequeno tamanho, o que fez pensar numa intoxicação por sal. Esse facto levou a pôr os animais somente a água durante uma refeição e a retomar a alimentação sem soro lácteo. Além do mais, o suinicultor, convencido de poder ser uma estreptocócia, iniciou um tratamento com trimetoprim sulfa.
Durante a visita do veterinário observa-se como alguns animais na fase de crescimento apresentam um aspecto adoentado e olhos inchados, assim como alguma carúncula lacrimal e alguns animais com uma tosse muito rouca.
Resultados das necropsias
Realiza-se a necropsia de 3 animais observando:
- articulações da curva inflamadas em 2 dos animais.
- presença de «gelatina» nas articulações. - filamentos de fibrina sobre o peritoneo nos 3 animais. - hipertrofia dos gânglios mesentéricos em todos os animais. - parede intestinal congestionada em 2 dos 3 animais. - edema violento do cólon e da parede estomacal num animal e edema do cego noutro. - presença de alimento nos estomagos. - presença de líquido abundante na cavidade pericárdica. - pequenas lesões pulmonares. |
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edema do cólon
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filamentos de fibrina
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inflamação do jejuno
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Medidas Tomadas
Neste ponto, sem quase qualquer dúvida, o diagnóstico seria doença dos edemas, ainda que tampouco se pense que seja impossível que a mudança da ração tenha conduzido a este episódio.
O suinicultor considera que não é necessário ter mais gastos enviando amostras para o laboratório para confirmar o diagnóstico. Apenas se realiza uma análise da água, confirmando a sua potabilidade.
O veterinário aconselha-o a manter a ração sem lactosoro, finalizar a administração de trimetoprim e iniciar um tratamento com colistina via oral em todos os animais da sala assim como tratamento individual com injecção de dexametasona e marbofloxacina nos animais com sintomas da doença.
Novo Episódio Clínico e Diagnóstico
Ao cabo de 2 meses volta-se a repetir um episódio de mortalidade novamente nos animais em fase de crescimento. Durante a visita constata-se, tal como no primeiro episódio, a presença de tosse em animais de primeira idade e diarreias cinzentas no final da transição.
Esta vez decide-se enviar um animal de 35 kg para o laboratório.
Necrópsia
Durante a necropsia observa-se o seguinte:
Exame externo | Tremores |
Hipertrofia e inflamação dos gânglios mesentéricos |
Pulmões | Ausência de lesões macroscópicas | |
Intestino delgado |
Inflamação da mucosa Conteúdo líquido |
|
Gânglios mesentéricos |
Muito hipertrofiados Inflamação |
|
Gânglios inguinais | Hipertrofiados |
Estas lesões corroboram a presença de colibacilose.
Bacteriologia
Isola-se Escherichia coli hemolítica O141K85ac de um gânglio mesentérico e do conteúdo intestinal.
O antibiograma é o seguinte:
Antibióticos |
Interpretação (*)
|
||
S
|
I
|
R
|
|
Aminósidos | |||
Gentamicina (10 UI) |
X
|
||
Espectinomicina |
X
|
||
Apramicina |
X
|
||
Neomicina |
X
|
||
Beta-lactâmicos | |||
Amoxicilina |
X
|
||
Cefalosporinas | |||
Ceftiofur |
X
|
||
Fluoroquinolonas | |||
Enrofloxacina |
X
|
||
Marbofloxacina |
X
|
||
Polipéptidos | |||
Colistina |
X
|
||
Quinolonas de 1ª geração | |||
Ácido oxolínico |
X
|
||
Flumequina |
X
|
||
Sulfamidas e associação | |||
Trimetoprim + sulfamidas |
X
|
||
Trimetoprim |
X
|
||
Tetraciclinas | |||
Tetraciclina |
X
|
||
Doxiciclina |
X
|
||
(*S : sensível – I : intermédio – R : resistente) |
Diagnóstico
Não há dúvida sobre o diagnóstico já que tanto os sinais clínicos como os resultados da análise do laboratório indicam a presença de edema colibacilar.
Medidas Tomadas
A partir de Abril de 2005 e posteriormente aplicam-se várias medidas.
Inicialmente:
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Posteriormente:
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Evolução do Caso
Nenhuma das medidas tomadas deu os resultados esperados (apesar de ter menos perdas e mais períodos sem problemas).
Durante o mês de Fevereiro de 2006 realiza-se a vacinação das porcas com auto-vacina.
Em Março de 2006 realiza-se a vacinação das porcas contra a PRRS.
Em Julho de 2006, e depois de um período de calma, aparece um importante número de perdas. A auto-vacina colibacilar administrada aos leitões não deu os melhores resultados.
Realiza-se um acompanhamento serológico da PRRS nos leitões não vacinados e negativos mediante PCR ao desmame (21/06/06) observando-se como se produz contaminação viral, mas depois da doença dos edemas (habitualmente entre as 10-12 semanas) de forma que esta não é responsável por uma eventual diminuição imunitária.
Identificação
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19/07/06
(7 semanas de vida) |
21/08/06
(12 semanas) |
18/09/06
(16 semanas) |
24/10/06
(21 semanas) |
A
|
negativo
|
negativo
|
negativo
|
2,5
|
B
|
0,5
|
negativo
|
negativo
|
/
|
C
|
negativo
|
negativo
|
negativo
|
1,35
|
D
|
negativo
|
negativo
|
negativo
|
2,24
|
E
|
1,03
|
1,02
|
negativo
|
2,6
|
F
|
0,95
|
0,41
|
negativo
|
2,76
|
G
|
0,44
|
/
|
negativo
|
/
|
H
|
negativo
|
negativo
|
negativo
|
2,09
|
J
|
0,85
|
negativo
|
negativo
|
2,19
|
K
|
0,75
|
negativo
|
negativo
|
1,59
|
L
|
negativo
|
negativo
|
negativo
|
2,35
|
M
|
0,54
|
negativo
|
negativo
|
1,71
|
N
|
negativo
|
negativo
|
negativo
|
2,39
|
O
|
0,45
|
negativo
|
negativo
|
1,96
|
Tendo em conta o possível papel da genética na sensibilidade à colibacilose, está-se a levar a cabo actualmente uma investigação com sémen de varrasco Large White-Piétrain.
Pelo que, no momento, não foi possível definir os factores que favorecem esta patologia.
Comentários
O caso deste mês, com morte de animais na engorda e observação de perda de apetite, sintomas nervosos e presença de vermelhidão nos olhos, apareceu numa exploração de ciclo fechado parcial com 230 porcas situada em França onde se realiza um maneio em bandas de 3 semanas e os leitões desmamam-se aos 21 dias de vida. Tanto as porcas de substituição como o sémen são comprados no exterior.
O caso aparece dentro de um contexto onde os resultados da exploração são satisfatórios. A recente utilização de lactosoro na dieta contribuiu a dificultar um pouco a situação.
O único ponto sobre o qual a visita à exploração é de uma verdadeira contribuição é no controlo da sobredensidade existente nos parques. Ao finalizar o caso, este ponto ainda não estava regulado completamente já que a produtividade (número de desmamados) se encontrava em progressão.
Actualmente as duas bandas procedentes do novo varrasco encontram-se em fase de engorda e não se detectaram problemas de edemas. Se esta melhoria não persiste, os suinicultores estão decididos a alterar a procedência das primíparas, coisa que parece lógica tendo em conta o possível efeito da genética sobre a sensibilidade ante a doença.
O acompanhamento da PRRS nos leitões não vacinados mostra como o aparecimento da doença dos edemas não é contemporânea com uma seroconversão vis a vis deste virus. Os suinicultores observaram sintomas de PRRS nos porcos durante as 2 semanas antes da última colheita de sangue que resultou positiva.
Em relação com as possíveis causas virais que podem favorecer o aparecimento desta doença, poderia pensar-se na circovirose. Na exploração observaram-se alguns sinais, ainda que discretos: algumas necrose nas orelhas (ainda que não em cada banda), crescimento na engorda que os suinicultores consideram baixo mas com indice de perdas desmame-engorda de 6,5 % apesar dos edemas! De todas as formas, não se observaram lesões que fizessem pensar em circovirose nos porcos necropsiados.