Como diz a sabedoria popular: “o que não ocorre num ano, pode ocorrer num minuto”. Sem chegar a tanto, o certo é que Depois de uns meses de certa apatia, o mercado de cereais moveu-se em todas as frentes nos últimos 10 dias de Maio. Mas vamos pouco a pouco. Comemos pelas colheitas nacionais.
Cereais: colheitas nacionais
A previsão de inícios de Maio para a colheita nacional era de 20-22 milhões de toneladas. Como já comentámos em anteriores artigos, a falta de chuvas reduziu a cifra para 19 milhões de Tm. Ainda que o tempo tenha melhorado e seja possível que algo mais possa melhorar, diria que é prudente situá-la entre 19-20 milhões de toneladas, o que se traduz numa colheita normal e na média (na média baixa mas na média) das colheitas dos últimos anos. Por outra parte, todos coincidem em que os stocks de cevada no final da campanha estarão entre 1,5 e 2 milhões de toneladas e os de trigo nos 0,5-0,8 milhões. O que nos dá uma oferta de cereais para a próxima campanha de cerca de 22 milhões de toneladas. Em resumo, uma boa oferta, pelo menos no que a toneladas se refere.
Cereais: colheitas mundiais
A nível mundial as coisas tampouco estão más, pelo menos no que a trigo e soja se refere (ainda que em trigo não igualemos a colheita do ano passado a nível mundial, na Europa espera-se uma colheita excelente). No que diz respeito ao milho, a colheita é excelente, ainda que pareça que é quase um milagre repetir a última campanha. As boas expectativas foram o detonador das descidas que temos assistido nos mercados como Chicago ou Matif, que se traduziram em descidas de preços importantes nos portos. As ofertas de milho desceram mais de 10 €/Tm ficando as posições de Novembro/Janeiro a 176 €/Tm e as de Fevereiro/Maio em cerca de 178-179 €/Tm. No que a trigo se refere, também vimos uma descida de preço importante devido às boas expectativas de colheita na Europa. O preço para posições diferidas baixou para 190 €/Tm para Agosto/Dezembro, o que significa uma redução de 20 €/Tm em pouco mais de 15 dias.
Análise da situação
Ante este panorama, como é lógico, o interesse pela colheita nacional diminuiu. O comprador por um lado está um pouco desgostoso se comprou antes desta descida de preços, ainda que o panorama resulte bastante favorável perante os preços da carne e dos preços dos futuros de cereais.
Só posso poner dois "senão" a tão benévolo cenário. Ninguém sabe até onde podem descer os preços mas não esqueçamos que o preço mais barato a que operou o trigo na campanha anterior foi a 186 €/Tm e o milho a cerca de 160 €/Tm. Pelo que não devemos esquecer que a descida terá um limite, que cada vez parece mais próximo. Por outro lado, no que a colheitas mundiais se refere, é difícil que se estrague a colheita de trigo, mas a colheita de milho ao dia de hoje é uma incógnita, já que só temos dados de superficie (que são muito bons) e que a sementeira está a ir muito bem. Mas ainda nos faltam 5 meses para chegar à colheita de milho e pode passar-se de tudo.
Outro pensamento que não me sai da cabeça ultimamente é que parece que todo o problema do Mar Negro já não tem importância, ou pelo menos vai perdendo repercussão nos órgãos de comunicação social. E contudo continua a existir, e a situação, longe de se solucionar, continua a estar bastante complicada. Outro dato que me deixa estupefacto é que ultimamente parece que os preços continuam a baixar apesar do comportamento das divisas. E este panorama não durará muito.
A proteína
No que se refere à proteína, as ofertas de colza e girassol que pareciam que não existiam, voltaram a aparecer. A colza cotiza em cerca de 262 €/Tm para a nova colheita. O girassol de alta proteína em cerca de 266-255 €/Tm dependendo das posições.
A soja ainda que continue com o seu ritmo em Chicago (quase sempre em alta, subentenda-se), a chegada de vários barcos aos portos espanhóis deram um certo alívio ao mercado, diminuindo a pressão e fazendo baixar as bases disponíveis de maneira considerável. Ainda que o preço final continue a ser caro, 455 €/Tm, estamos baralhando um preço para a farinha de soja disponível bastante mais barato que há uns meses atrás.
3 Junho 2014