Sempre defendi a teoria que um mercado que não está coberto para o futuro dificilmente pode baixar ou, o que é o mesmo, é relativamente fácil que suba. Basicamente esta é uma consequência directa da necessidade de compra do mercado o que leva a uma retenção por parte do vendedor (os stocks não vendidos também pesam menos), pelo que a baixa de preços é complicada.
A que propósito vem este comentário?
Comento este assunto porque esta teoria não se aplicou de todo no último trimestre. O operador que comprou antecipadamente, ou o que cobriu somente 15 dias, comprou mais ou menos ao mesmo nível e, pontualmente, o que comprou a curto prazo comprou mais barato.
Porquê?
Por vários motivos, o primeiro tem que ver com a colheita de cevada, que foi abundante, e portanto a partir de junho a mesma foi utilizada de forma importante baixando a necessidade de utilização de outros cereais. O mesmo ocorreu a partir de julho/agosto com o trigo nacional e de importação, e quando passou a pressão de colheita e começaram a escassear as ofertas (ou estas subiram de preço) fez a sua aparição o milho (nacional ou de origem francesa). Outras razões a arrolar são a climatologia perfeita, a necessidade de venda por colapso dos secadores, os portos com mercadoria suficiente, sobretudo de trigo e com ofertas pontuais de cevada, sorgo e centeio. Toda esta de abundância nacional ou de origem francesa tornou impossível uma subida dos preços, propiciando inclusive uma baixa suave mas constante. Resumindo o comprador não estava coberto mas as ofertas dos diferentes produtos superaram as suas necessidades.
Isto demonstra (desta vez sim) outra teoria, que ainda que o mundo seja cada vez mais globalizado, e portanto a tendência a largo prazo esteja dependente da idiossincrasia mundial, a força dos mercados locais por vezes dita a sua lei a curto prazo.
Bem e agora falemos do momento actual e um pouco do futuro. Começamos pela proteína.
Soja e colza
A soja esteve e está a níveis apetecíveis, os que compraram bases e acertaram com o dólar e os futuros, têm soja a uns preços que já á algum tempo não eram vistos (ao redor dos 255-260€/ton. para a soja 44% proteína). Para os que não têm bases, a farinha de soja esteve ao redor de 275€/ton.. Este preço não tem correspondência com o preço spot pois a falta de chegada de barcos aos portos, como por exemplo de Tarragona, aumentou o preço até aos 285-290€/ton. para esta semana e a anterior. Estão no entanto previstas chegadas a partir de 20 de Dezembro, assim esta situação será de todo transitória. No que diz respeito às perspectivas de preços, continúo a pensar que estarão ao redor de 275 €/ton. (dez euros a mais ou a menos). Todo este cenário gera tranquilidade no comprador e a sensação que a proteína tem um futuro de preços mais ou menos aceitável. A baixa da farinha de soja arrastou os preços da farinha de colza para níveis de 185-187 €/ton. e os da farinha de girassol (34% proteína) até aos 160€/ton.
Cereais
No que a cereais diz respeito comecemos pelo milho. Encontramos ofertas de milho nacional ou francês a níveis de 203-207€/ton. segundo o destino até março de 2012. Além disso "os que sabem tudo" dizem que a França não exportou nada, ou para ser mais exacto quantidades pouco significativas, pelo que apesar dos vaivéns do MATIF prevê-se que a oferta seja abundante. Para facilitar ainda mais a situação as ofertas de milho do Mar Negro estão a 195-197 €/ton. sobre porto até março e tudo isto com um olho posto no trigo ... para ver o que acontece.
Mas porque estamos atentos ao trigo? Bruxelas aceitou em finais de novembro 1,5 milhões de ton. de trigo com origem em países terceiros com direito alfandegário zero (ou o que é o mesmo sem uma taxa niveladora de 12€/ton.), o que faz com que Espanha seja uma das principais candidatas a receber uma maior percentagem deste trigo (ou mesmo a maioria) e a preços muito competitivos. De momento o trigo cotiza a 193 €/ton mais ou menos até março/2012. A minha previsão é a de que pode chegar aos 185€/ton como ocorreu no mês de julho. Também é verdade que todo aquele que queira aconselho-o a que a estes preços se marquem posições porque da forma que está o mercado e muito difícil prever o futuro e pode ocorrer qualquer coisa (em forma de noticia explosiva) no momento menos esperado que provoque uma alteração radical da situação. Além do mais não parece que possa acontecer a mesma situação de 2008/2009 quando se produziu o descalabro de preços uma vez que perante as dúvidas sobre a economia mundial as matérias primas são um refugio e a nível global há uma certa retenção por parte dos agricultores.
No caso da cevada só comentar que "ela existe", mas guardada nos armazéns, supõe-se que á espera do próximo ano, por motivos fiscais. Resumindo o preço cedeu, mas pouco, e continua preços pouco atractivos já que se situa nos 203-208€/ton. segundo o local de entrega.
Para terminar salientamos dois pontos:
a primeira é a oferta de centeio e sorgo a preços competitivos mas em quantidades pequenas, claro que todo ajuda a retirar pressão ao mercado e a segunda, muito mais importante e que já há muito tempo não ocorria, os produtores de suínos, novilhos, borregos e frango e ovos não perdem dinheiro, pode ser que ganhem pouco. Ainda que, segundo os produtores, estão à beira do suicídio como sempre, desta vez não é verdade e a perspectiva é a de que esta situação se mantenha mais ou menos. Se a isto somarmos a baixa dos preços das rações (que representam 65 a 70% dos custos totais de produção) a alegria não será efusiva mas a curto prazo o futuro não parece tão negro.
Jordi Beascoechea