Tal como descrevemos num artígo anterior (Hérnias e criptorquidia), os defeitos genéticos incluem um amplo leque de patologias. Estas podem ser controladas por um gene (locus único), ou por acção combinada de muitos genes (poligénicos) e/ou envolvendo factores não genéticos ou ambientais. Além do mais, há desordens que parecem ser familiares mas das quais não temos suficientes evidências para concluir que genes estão envolvidos.
A base de dados standard para caracteres e transtornos herdados em espécies animais é a Online Mendelian Inheritance in Animals (OMIA). Esta base de dados pertence à Universidade de Sidney, na Austrália. Pode aceder-se à dedicada ao porco desde:
http://omia.angis.org.au/adv_search_results.shtml?field1=sci_name&query1=Sus+scrofa
Esta base de dados descreve 222 defeitos e aponta as possíveis bases para a heritabilidade de cada transtorno. Este último é importante já que determina se o controlo de um defeito é realista.
Alguns exemplos de desrdens poligénicos são a criptorquidia ou a hérnia escrotal – como há mais de um gene envolvido, o controlo é complexo e será abordado num artígo posterior.
Contudo, os defeitos de genes principais (únicos) são menos complexos – OMIA enumera 29 desordens de locus único. Destes, 9 foram caracterizados ao nível molecular, pelo que se podem utilizar testes de ADN para o controlo:
Defeito | Caracterizado a nivel molecular |
Artrogripose |
No |
Ataxia progressiva |
Si |
Enanismo |
Si |
Gangliosidose |
No |
Hemofilia A |
No |
Falta de pêlo, com enfisema dependente da idade |
No |
Paralisisa de extremidades posteriores |
No |
Hipercolesterolemia |
Si |
Hipotricose, dominante |
No |
Hipotricose, recessiva |
No |
Falta de extremidades |
No |
Linfosarcoma |
No |
Hipertermia maligna (Halotano) |
Si |
Rendimento Napole (RN) |
Si |
Glomerulonefrite membranoproliferativa tipo II |
Si |
Diarreia neonatal, F4 |
No |
Transporte de nucleósidos defeituoso |
No |
Porfiria eritropoiética congénita |
No |
Porfiria, sem classificar |
No |
Miopatía progressiva (Creeper) |
No |
Deficiência de protamina-2 |
No |
Quistos renais |
No |
Receptor E. coli F18 - resistência à doença dos edemas |
Si |
Inversão de sexo: XX macho |
No |
Defeito de cauda curta e imóvel (ISTS) |
Si |
Síndroma de Campus, tremores |
No |
Tremores, relacionados com X |
No |
Raquitismo por deficiência de vitamina D, tipo I (PDDR) |
Si |
Doença de Von Willebrand |
No |
Hipertermia maligna (halotano) – um defeito de locus único.
Deve ter-se em conta que vários destes “defeitos” são muito pouco frequentes – em alguns casos só há um caso descrito na literatura. Contudo, há três genes principais de importância significativa para a indústria – hipertermia maligna/halotano/stress e os dois genes de E. coli (F4 e F18) – que têm testes de ADN disponíveis para os programas de selecção. Além do mais, a incidência de ISTS foi rapidamente reduzida na população de Finnish Yorkshire utilizando marcadores genéticos para a selecção.
Para outros caracteres de importância económica onde não há testes de ADN disponíveis, o controlo é frequentemente pouco fiável devdo a factores limitantes. Contudo, a experiência clínica sugere que as seguintes “regras” costumam funcionar:
- Não é aconselhável o uso de animais “corrigidos” cirurgicamente como futuros reprodutores (p.e.: atresia ou hérnias).
- Quando a incidência aumenta rapidamente acima dos valores “normais”, há que investigar a possível presença de micotoxinas na ração e rever se as especificações da dieta se ajustam aos valores recomendados. Por exemplo, valores baixos de certos aminoácidos e vitaminas foram relacionados com altas incidências de splayleg.
- Os factores ambientais podem ser importantes, pelo que há que os rever nas explorações nas que aumentam os defeitos. Alguns exemplos são o prolapso rectal (aumento de tosse, diarreia, lutas, currais novos com solo inadequado...) e splayleg (estado do solo na maternidade).
Splayleg – as múltiplas causas dificultam o seu controlo.
- Como último recurso numa exploração com uma alta incidência que cause perdas económicas graves, pode considerar-se a aplicação de um programa de abate dos individuos afectados e dos seus pais e irmãos. Contudo, devem manter-se registos precisos para monitorizar a situação se a incidência se reduz independentemente do programa de abate!