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Caso clínico: Efeitos do sistema de criação nos problemas de canibalismo

O controlo do ambiente interno nas salas é importante como medida de deter os problemas de canibalismo das explorações

2 Novembro 2004
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Descrição da exploração




Trata-se de uma exploração com uns 30 anos de idade, com duas zonas denominadas A e B, nas quais se alojam tanto porcas como porcos de engorda, funcionando como duas unidades de ciclo fechado, com um total de 320 porcas produtivas.

Dado que a exploração inicialmente se construiu para a venda de leitões, foi crescendo e dotando-se de instalações de engorda, pelo que além das duas unidades de produção de leitões, possui duas engordas independentes, mas na mesma propriedade.

A exploração está catalogada como PSE e Indemne de Aujeszky, com as seguintes vacinações:

  • Aujeszky a mães e engorda, segundo legislação espanhola
  • Parvovirose + Mal rubro pós-parto
  • Coli + clostridium 30 dias pré-parto
  • Mycoplasma em leitões aos 7 e 25 dias de vida.

A patologia depende das épocas, sem que sejam problemas preocupantes em qualquer dos casos: diarreas nas baterias, alguns casos de meningite, coccidiose em momentos concretos, algumas tosses na engorda, etc. Todas estas patologias tratam-se de forma concreta e pontual e até ao momento conseguiu-se mantê-las sob controle.



Aparecimento do caso







O responsável da exploração avisou o veterinário após detectar que tinham disparado de uma forma alarmante os casos de canibalismo nas engordas, tanto nos animais entrados de novo como nos animais de fim de engorda. Trata-se de um problema que os veterinários já tinham detectado noutras explorações devido às condições especiais de temperaturas na época do ano em que se apresentam os processos.


Visita à exploração





No momento da visita, inspeccionam-se os animais de quatro engordas:



A) Engorda Pavilhão A
: É uma engorda remodelada sobre a construção inicial, onde se substituiram totalmente os antigos solos de cimento por slat, obtendo uns parques de 4,5 m x 2,5 m onde se alojam 18-19 porcos.

Ao realizar as reformas eleva-se ligeiramente o solo, tendo a parte mais alta da engorda uns 4 metros de altura. A ocupação actual é de 0,59 m2/porco.

A ventilação é forçada, mediante janelas laterais, a 1,80 metro do solo, e chaminés na parte contrária.

No momento da visita o problema de canibalismo é muito intenso.

B) Engorda Pavilhão B: trata-se de uma engorda corrida, ainda que tem separadores de chapa, que não conseguem isolar os lotes. A ventilação realiza-se de forma natural, mediante entrada de ar pelas laterais e saída pela parte superior do tecto. As celas alojam um máximo de 8 porcos, com umas dimensões de 2,24m x 2,5 m, o que supõe 0,70 m2/porco.

Encontramos casos de canibalismo, mas de forma isolada, e, em geral, menos nervosismo que no pavilhão anterior.


C) Engorda independente 1:
é outra engorda remodelada sobre uma antiga área de bovinos, e pela sua característica especial, tem dois níveis de solo, um deles ao nível 0 e o outro com 1 metro de altura sobre o solo inicial. A ventilação realiza-se por baixo da porta, com dois ventiladores no centro. Os parques são de 3m x 3,10 m, para 18 animais, o que resulta em 0,52 m2/animal.

Dado que no momento da visita quase não há animais, devido a que estão a ser carregados para abate, quase não se encontram casos clínicos de canibalismo.


D) Engorda independente 2: é o último pavilhão construído e neste consideraram-se muitoo melhor as necessidades dos animais dando-se uma altura máxima de 6 metros e com uma ocupação de 0,7 m2/animal.

Neste pavilhão os casos de canibalismo são evidentes, sobretudo em animais recém incorporados ou com duas semanas de estadia.

No momento em que se avisa o veterinário há uma mudança de estação do ano, com diferenças de temperatura excepcionais entre o dia e a noite, chegando a alcançar uma diferença de 22 º C em 12 horas.


Medidas aplicadas

  • Sugerimos que se há espaço suficiente, se ajustem as densidades a um máximo de 0,6 m2/animal, o que significaria retirar um animal de cada parque, aproximadamente.
  • Aplicação na ração de um composto relaxante, para diminuir a agressividade de forma imediata, e de um antibiótico para paliar os problemas infecciosos que apareciam devido às feridas abertas nas caudas.
  • Manter uma atenção especial aos sistemas automáticos de ventilação, especialmente à tarde, para evitar momentos de hiperventilações, em caso de baixas temperaturas.
  • Tratamento individual com antibióticos e isolamento dos animais mais afectados.


Segunda visita à exploração



A maior parte dos afectados nas engordas B e D, praticamente estão curados, não aparecendo novos casos em incorporações posteriores. A engorda C não se encheu.

Os animais da engorda A melhoraram, mas continuam a aparecer casos em animais incorporados recentemente. Nesta engorda, constatam-se vários factores negativos que induzem casos de canibalismo, como são:

  • Menos superfície por animal alojado.
  • Menos volume total por animal alojado.
  • Mais velocidade do ar por segundo que noutros parques.
  • Correntes de ar erráticas entre parques.

Sugestões

Apesar de poder piorar a qualidade do ar interior, sugerimos ao encarregado que regule de novo as janelas automáticas, de modo que não ofereçam tanto caudal de ar, dado que não pode assegurar que ao fim da tarde a regulação seja melhor.

Sugerimos também que se construam uns painéis, de tal forma que o ar seja obrigado a ascender, assim que entra no pavilhão, para evitar que incida directamente sobre os animais.



Terceira visita à exploração



Durante a visita se observa como:

  • A situação das engordas B, C, e D é praticamente normal.
  • A situação da engorda A melhorou sensívelmente, não aparecendo casos novos nas duas partidas de leitões introduzidas de novo.
  • Os animais afectados evoluiram positivamente, dependendo das feridas que possuíam.
  • Mantém-se a medicação no ração mais 15 dias, para evitar recidivas.

Conclusões



Ainda que seja um problema bastante comum, constata-se que as condições de criação, unidas a especiais condições climáticas, influem de forma diferente ainda que em explorações já conhecidas, sem um historial de problemas de canibalismo.

Neste caso uniram-se a maior quantidade de animais por metro quadrado, devido a um aumento de produção, a especial característica da temperatura, que era anormalmente alta para o Verão e especialmente baixa nas horas do entardecer e a disposição espacial das entradas de ar na engorda, as quais não se podiam regular perfeitamente com os sistemas actuais.

Sobretudo a alteração da entrada do ar, tanto em temperatura como em direcção, foi chave para conseguir um maior conforto dos animais e descer a agressividade que era manifesta nesta engorda.

Nos outros alojamentos, ao terem sido construídos muito mais recentemente e aplicado critérios de alojamento e ventilação mais racionais, permitiram que o efeito das diferenças de temperatura entre a manhã e a tarde fossem muito mais ténues e que se pudessem controlar com tranquilizantes aqueles animais mais sensíveis.


Comentários



O problema que se apresenta na exploração repete-se noutras explorações da zona, e principalmente é devido às condições de temperatura que se dão na época do ano em que se está, devido às diferenças altas entre manhãs e tardes, e as condições de criação das explorações, que são explorações velhas, com sistemas bastante regulares de controle ambiental.

Aplicaram-se, pois, uma bateria de acções, sobretudo de maneio, apoiadas pela aplicação de compostos tranquilizantes de origem natural (baseados em vitaminas, óxido de manganeso, sulfato de cobre e cobalto, ioduro potássico, óxido de zinco e selenito sódico), que sem chegar a ter o efeito das antigas drogas, possuem um certo carácter sedante, que é bastante apreciável nos animais.

Já apreciámos a diferença entre pavilhões, sobretudo das últimas construídas às que têm a maior quantidade de casos, ainda que confiamos em que as características de climatologia mudem, e as medidas aplicadas ajudem a paliar o problema até à sua resolução.

É evidente que ao realizar o acompanhamento dos casos, e constatar que no primeiro pavilhão os problemas continuem da mesma maneira, existem outros factores que produzem este aumento de casos, e que sem duvida a ventilação, e sobretudo, a forma de entrar do ar é um dos factores principais a ter em conta.

A reforma, muito simples, das entradas de ar, ainda que piorem ligeiramente a qualidade do ar interior, produz um efeito claro na agressividade dos animais.

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