A fibra é um componente natural da dieta de todos os animais, embora tradicionalmente nenhum valor nutricional lhe seja atribuído. Na verdade, a fibra era indesejável, pois reduzia a densidade de energia e comprometia em excesso o rendimento do crescimento. Essa percepção está a mudar, principalmente em relação às fibras especiais, graças às funções que estimulam a saúde intestinal. A fibra ganha agora um novo valor, não menos importante, como ingrediente funcional que é usado estrategicamente para estimular o intestino e facilitar a transição para o desmame.
Fibra para promover a saúde intestinal
A saúde intestinal é multifatorial e abrange três tópicos principais: dieta, mucosa e flora comensal. A mucosa e a microflora interagem entre si, formando um equilíbrio frágil, mas dinâmico, que leva ao bom funcionamento do sistema intestinal. As dietas voltadas para a saúde intestinal devem manter esse equilíbrio entre o hospedeiro e a flora intestinal, a fim de se obterem animais saudáveis e com bom rendimento. A fibra desempenha um papel importante em manter esse equilíbrio estável.
O uso estratégico de fibras para estimular o intestino está relacionado com a produção de ácidos orgânicos voláteis através da fermentação e estimulação física em todo o sistema gastrointestinal. A fibra é subdividida em fibra solúvel e insolúvel, que representam o que é fermentado e o que não é, respectivamente. A fibra insolúvel tem efeito estabilizador do meio luminal ao imobilizar parte da fase líquida, aumentando o volume e o teor de matéria seca das fezes. Além disso, a estimulação dos movimentos peristálticos reduz a estase e a acumulação de conteúdo digestivo, evitando aderências e proliferação de bactérias patogénicas. Essas funções levam a uma taxa normal de passagem do conteúdo digestivo e estimulam um maior consumo de ração.
A fermentação de fibra solúvel começa em leitões a partir de 10 kg, nos quais o conteúdo e a estrutura ideal da fibra solúvel modula o microbioma subdesenvolvido para impulsionar a produção de ácidos orgânicos voláteis e, em particular, de ácido butírico. Os ácidos orgânicos voláteis são desejáveis e indicam uma microbiota funcional, especialmente o ácido butírico já que participa na saúde intestinal através da proliferação de enterócitos, a integridade epitelial e as funções anti-inflamatórias no intestino grosso. O ácido butírico da fermentação microbiana requer condições anaeróbicas, que apenas estão presentes no cólon e não no íleon.
A fibra solúvel tem também outra característica interessante, sobretudo para dietas ricas em proteínas. Em vez de apresentar as dietas baixas em proteína bruta como a única solução para evitar a fermentação de proteínas no intestino grosso, devem ser consideradas soluções dietéticas mais sofisticadas que promovam o crescimento inicial, p. ex. fibra fermentável. A proteína que atravessa o intestino delgado é um substrato para as bactérias prejudiciais, no entanto, se se melhora a digestibilidade e a taxa de absorção das proteínas podem ser obtidos benefícios. As fibras solúveis são um substrato fácil para as bactérias comensais em comparação com as proteínas, o que conduz a microflora para uma colonização de bactérias benéficas através da exclusão competitiva. Em consequência, as bactérias nocivas e os seus metabolitos derivados (representados por ácidos gordos de cadeia ramificada), ou seja, aminas, indóis e produtos de amoníaco, são reduzidos à medida que se evita a fermentação de proteínas e se excretam as proteínas não digeridas.
Interpretação da análise de fibra
O uso de fibra como estratégia para eliminar gradualmente o uso de óxido de zinco requer conhecimento sobre qual a análise de fibra que deve ser utilizada para formular dietas que tenham os efeitos desejados. A matéria seca vegetal divide-se em duas fracções, a parede celular e o conteúdo celular. Esta última fracção contém os hidratos de carbono não estruturais que, por definição, incluem o amido e os açúcares simples. As paredes das células vegetais são estruturas bifásicas onde a celulose forma um esqueleto de microfibrilhas incrustado numa matriz gelatinosa composta de polissacáridos não celulósicos, substâncias pécticas e glucoproteínas. O componente principal das paredes celulares são os monossacáridos que formam cadeias longas e ramificadas denominadas colectivamente polissacáridos não amiláceos (PNA).
As paredes das células vegetais contém até 950 g/kg de matéria seca (MS) de vários polissacáridos e, portanto, requer um procedimento analítico que possa medir uma ampla variedade de polissacáridos. A análise proximal fracciona os hidratos de carbono em fibra crua e extracto livre de nitrogénio, ou seja, açúcar e amido. Esta metodologia é muito acessível e amplamente usada para detectar o conteúdo de fibra nas rações. No entanto, tem limitações, ou seja, durante a análise perdem-se PNA solúveis e pectina insolúvel na água. Como consequência, o conceito de fibra crua subestima a verdadeira concentração de fibra na ração.
A análise enzimático-química é um método mais completo já que separa os carbohidratos segundo as suas ligações glucosídicos, o grau de polimerização, a solubilidade de PNA e a lignina. Esta metodologia não só revela o conteúdo de fibra da ração, mas também são subdivididos os carbohidratos segundo a sua capacidade para ser digeridos enzimaticamente, fermentados rápida ou lentamente nas diferentes secções do intestino. Esta subdivisão de fibra é benéfica para o uso estratégico de fibra como modulador intestinal.
Subestimación del contenido y de las características de la fibra debido a la metodología analítica
Encontrar a proporção correcta entre as fracções solúveis e insolúveis da fibra dietética para manter o equilíbrio dinâmico entre a mucosa e a microflora abre uma nova dimensão para as dietas de transição. Este uso novo e estratégico de fibra dietética pode ser uma ferramenta para reduzir a diarreia durante a fase vulnerável do pós-desmame, quando o uso de óxido de zinco já não for uma alternativa permitida nas rações para leitões.