Considerando a situação actual reproduzimos um artigo escrito por Tom Alexander para 3tres3.com em Dezembro de 2005.
A gripe suína tem sido uma doença aguda autolimitante frequente na maioria dos países produtores de porcos durante muitos anos. Está bem representada na bibliografia e não necessita aqui muitas repetições. Os serotipos do vírus da gripe comum suína são o H1N1, H1N2 e H3N2. As diferentes estirpes destes serotipos variam na sua patogenicidade.
Os recentes artigos alarmistas aparecidos na imprensa sobre uma nova estirpe do serotipo H5N1, que é, em suma, patógena na indústria avícola e que provocou a doença mortal em seres humanos (por sorte, relativamente poucos) que estiveram em contacto com as aves infectadas, suscitaram o alarme de que poderia tornar-se mais infeccioso para as pessoas e provocar uma pandemia humana semelhante à de 1918. Também provocou inquietação entre alguns suinicultores perspicazes assim como sobre um possível papel dos porcos na sua futura difusão e o efeito que isto poderia ter sobre o pessoal das suiniculturas e sobre as vendas de produtos porcinos.
Utilizo deliberadamente o termo alarmista. É certo que os porcos jogaram um papel importante como intermediários na difusão dos vírus da gripe das aves às pessoas e podem fazê-lo assim com variantes da nova estirpe aviária, mas a situação actual na Europa e América é muito diferente da de 1918. Então, o nível de vida era muito mais baixo, ninguém sabia o que era um vírus, as vacinas não estavam tão avançadas como o estão na actualidade e não havia antibióticos. Hoje em dia é provável que a mortalidade humana fosse consideravelmente menor. Não obstante, parece conveniente que os veterinários refresquem os seus conhecimentos de aspectos destacados da epidemiologia dos vírus da gripe nos porcos.
O vírus da gripe nas aves propaga-se nos seus excrementos e não mediante aerosóis como sucede nos mamíferos. As aves de caça, a diferença das aves de curral domésticas e outros pássaros selvagens, infectam-se habitualmente em grau subclínico. Podem migrar para longas distâncias propagando os referidos vírus, por exemplo, para o sul através da América desde o Ártico onde o vírus pode hibernar no gelo e ser todavia viável na água fria, recém derretida, na primavera. Apesar da depressão e as dores generalizadas que se manifestam nas pessoas e provavelmente nos porcos com a gripe clínica, o vírus tende a permanecer confinado no tracto respiratório e só se difunde por exalação. Onde os porcos têm acesso aos excrementos de aves, em particular aos de aves selvagens ou aves domesticadas que tenham sido infectadas por aves selvagens, podem ser infectados por novos serotipos de vírus e as pessoas em contacto com os porcos infectados podem chegar a infectar-se também pelos aerosóis. Não é surpreendente que muitas das pandemias humanas de gripe se acreditasse que se tinham originado na China que têm populações enormes de gente, porcos e aves de curral vivendo frequentemente em estreita proximidade. No momento de escrever, esta cadeia de acontecimentos não parece ter ocurrido com a nova estirpe aviária, ainda que se tenha difundido desde o sudeste asiático, onde tem estado a circular durante trâs anos, até à Europa onde foi isolada recentemente de aves na Rússia, Cazaquitão, Roménia, Turquia e Inglaterra. Parte desta propagação pode ter-se produzido por aves migratórias ainda que não pareça haver informação de isolamento do vírus de aves selvagens que provavelmente as tenha feito adoecer ou morrer.
Um factor chave na epidemiologia da gripe é a capacidade do vírus para mutar ou, quando as células estão infectadas por duas estirpes diferentes, recombinar-se para produzir novos vírus. Qualquer destas mudanças genéticas provoca o aparecimento repetido de novas estirpes com diferentes estruturas imunogénicas e/ou virulência, incluída a sua capacidade para infectar diferentes hóspedes. Estas mudanças poderiam produzir-se nos novos vírus aviares e poderiam então provocar a doença nos porcos e as pessoas, mas se isto ocorre, ou quando possa suceder ou o grave que possa chegar a ser, é totalmente imprevisível. Foi descrita pelo menos uma nova estirpe, quer dizer uma estirpe resistente aos fármacos. Afortunadamente é menos virulenta que a estirpe original.
Entretanto, vale a pena reconsiderar as medidas simples para o controle dos vérus da gripe nos porcos e nas pessoas que estão no seu contacto. Os porcos podem transmitir algumas estirpes de vírus da gripe às pessoas e as pessoas podem transmitir algumas estirpes aos porcos, o que deveria ter-se presente quando se produzam surtos de gripe humana. Os suinicultores devem estar conscientes disto e actuar em consequência, incluindo a possibilidade de vacinar o pessoal da exploração. As suiniculturas deveriam estar protegidas dos pássaros de modo que os porcos não pudessem ter acesso aos excrementos das aves, por exemplo nos corredores sem protecção, rampas de carga, janelas, ração ou materiais usados para cama. Também se devem examinar as fontes de água. Por desgraça, nada disto se pode aplicar nas explorações ao ar livre nas quais a biosegurança constitui um problema.
Tom Alexander. Consultor veterinário internacional. Reino Unido.