Antecedentes e descrição da exploração
Durante o verão de 2004 decide-se alterar o destino produtivo de uma exploração de 600 porcas em ciclo fechado situada numa zona montanhosa da Itália central com uma baixa densidade de explorações de porcos. A referida exploração faz parte de uma estrutura de produção integrada que tem cerca de 10.000 porcas. Após larga discussão sobre as alterações a fazer, que incluem aspectos sanitários, económicos e comerciais, decide-se que a melhor solução é transformá-la num sítio 1 que possa albergar 2.400 mães. Decide-se, também, obter um estuto sanitário PRRS negativo.
No mesmo período, o grupo integrador está a construir dois centros de inseminação artificial destinados a fornecer sémen a toda a estrutura. Dos dois centros, um está pronto para alojar os machos ao mesmo tempo que se instalam as nulíparas na nova exploração vazia. Serão os primeiros machos negativos à PRRS de toda a estrutura.
Prevê-se a entrada das nulíparas para finais de Janeiro de 2005 e o inicio das cobrições a 15 de Março. A entrada de machos no novo centro será a inicios de Fevereiro.
A inicios de Janeiro de 2005, o fornecedor dos machos informa que os animais que sairão nos próximos meses estão infectado com PRRS. Após uma rápida prospecção de mercado, assume-se a impossibilidade de conseguir machos negativos à PRRS de outro fornecedor e decide-se adquirir o sémen num centro de inseminação PRRS-negativo situado noutro país comunitário e recebê-lo por via aérea 2 vezes por semana.
Por enquanto, o novo centro de inseminação permanece vazio e inutilizado. Por outro lado, enquanto que o sémen de origem externa pertence a uma linha genética da que se sabe pouco relativamente ao rendimento durante a engorda, os varrascos recentemente infectados produzem uns animais que se ajustam aos parâmetros desejados. Mas esta fonte não poderá fornecer novos machos PRRS-negativos senão dentro de 6 meses pelo menos.
Descrição da exploração
O novo centro está situado numa zona montanhosa muito isolada. A exploração mais próxima está a 10 km de distância. A biosegurança do centro é boa: vedação em todo o perimetro, vestiários com zonas limpa e suja bem delimitadas, duche obrigatório à entrada e só 2 pessoas acedem à exploração.
Evolução
Após uma longa discussão decide-se adquirir os machos positivos à PRRS para não deixar o centro vazio. O sémen destes machos se utilizará para cobrir as porcas positivas de outras explorações da empresa.
À chegada dos machos realizou-se um controle serológico e virológico com os seguintes resultados: |
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Decisão final
Decide-se continuar a monitorizar serologicamente os machos com uma periodicidade mensal e estes são os resultados do teste Elisa Iddex com os valores relativos de s/p mostrados na tabela.
O resultado do exame serológico, que após uma primeira fase de 90 dias deixava antever uma negativização progressiva de parte dos animais, evidenciou finalmente que o virus continuava activo na população. A opinião dos veterinários foi, que esta população positiva não poderia produzir sémen negativo; pese a que as PCR não tenham detectado virus no sémen, decide-se não expôr a população de fêmeas com sémen desta procedência. Aconselhou-se vazar a exploração e repovoar com machos negativos à PRRS. |
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Comentários
A situação deste caso deve avaliar-se tendo em conta a pressão de que o veterinário foi alvo por parte dos responsáveis de produção, que sempre têm a redução de custos como objectivo primário.
A utilização de sémen importado aumentava os custos: tratava-se de uma exploração de 2.400 fêmeas, o que implicava uns 140 animais para cobrir em cada semana, para o que eram necessárias umas 350 doses/semana. Tratava-se de uma exploração de nulíparas, num país onde não é autorizado o uso de progestágenos sintéticos. Além do mais, com duas importações por semana, a qualidade do sémen não era sempre a óptima e a produtividade podia ressentir-se.
Decidiu-se andar para trás nas exigências da produção:
- Os varrascos entraram 30 dias depois da infecção, pelo que se tratou de avaliar a virémia eventual e a percentagem de possibilidade de PRRS com os valores relativos de s/p.
- Decide-se monitorizar mediante serologia para verificar se há uma negativização natural em curso para avaliar a possível adopção de um “test and removal”. - Considerando que a bibliografia fala de eliminações intermitentes no sémen que podem chegar a ser muito tardias (até 92 dias) e que outros trabalhos cientificos demostraram a persistência do virus até 135 dias, decide-se alargar a monitorização até aos 120 dias da presumível data de infecção. - A partir de 5 de Abril, aos 90 dias post-infecção, os valores s/p começam a diminuir, induzindo uma previsão optimista, reforçada após as amostras de 3 de Maio. - Como indica no próprio Iddex, a última versão do kit caracteriza-se por uma descida muito rápida dos valores de s/p relativamente às versões precedentes do mesmo kit, pelo que o optimismo não estava muito fundamentado. - Com o aumento dos valores s/p nas amostras decisivas, pese a impossibilidade de obter uma PCR positiva, decide-se despovoar o centro de inseminação. É repovoado 30 dias após a desinfecção, com machos negativos que, 6 meses depois, todavia são negativos. |
Deste caso podem extrair-se duas conclusões:
- É sempre perigoso diminuír o rigor dos protocolos sanitários.
- Não se deve sobreavaliar o significado da serologia. |
Como não se pôde identificar o virus responsável da seroconversão ocorrida 100 dias após a entrada dos machos e compará-la com a sequência do virus da exploração de origem, pelo tipo de exploração podemos afirmar que provavelmente não se trate de nenhuma infecção transversal, mas sim, de uma recirculação iniciada a partir de um dos machos positivos.