Entre 2000 e 2007 aplicou-se com êxito um plano de erradicação de PRRSv no Chile. Contudo, em Outubro de 2013 apareceu de novo um surto da doença que se disseminou por várias empresas suinícolas de maior dimensão do país.
Neste artigo descreve-se o plano de erradicação de 2000-2007 e o novo surto da doença em 2013.
O programa de erradicação 2000-2007
Durante o ano de 1999 foi confirmada a presença da doença em diferentes áreas de produção suína do país mediante ELISA.
As explorações positivas a PRRSv que iniciaram o programa no ano 2000 classificaram-se em monositios (12 explorações) ou multisitios (5 explorações). O isolamento e identificação do vírus revelou que a estirpe isolada estava relacionada com a estirpe de referência americana e denominou-se estirpe SAG (ver dendograma). Não se encontrou a estirpe europeia em nenhuma exploração infectada.
Fig. 1 Dendograma do vírus PRRS no Chile, estirpe SAG, ano 2006.
A decisão de erradicar o PRRSv no Chile, tanto na etapa anterior como na actual, foi baseada nos seguintes argumentos:
- Baixa percentagem de explorações e animais infectados no país (15 % das porcas) e concentrados numa pequena área
- Efectivos de produção genética e grandes empresas não estavam afectados
- A doença afecta a produtividade dos efectivos
- Riscos potenciais da doença sobre:
- as restantes explorações por disseminação do vírus
- balança comercial (exportação de genética e de carne)
- O controlo da doença tem custos elevados para a suinicultura e para o país
- Acordo entre produtores e autoridade sanitária, colaborando tanto no financiamento como na gestão do programa
- A autoridade sanitária dispos de grande aporte financeiro para realizar um programa de vigilância nos efectivos de detenção caseira
Estratégia do programa de erradicação de PRRSv
Um dos aspectos cruciais do programa foi definir as estratégias a seguir durante o programa as quais foram principalmente:
- O PRRS considera-se uma doença de declaração obrigatória
- Realizou-se um acordo público-privado
- A regulação da erradicação tornou-se oficial por parte da autoridade sanitária, o Servicio Agrícola y Ganadero (SAG)
- Foi proibido o uso de vacinas contra o PRRS no país
- Foi organizado um rigoroso plano de biossegurança
Exploração sem medidas de biossegurança
Implementação de medidas de biossegurança
Fases de execução do plano de erradicação (2000-2007)
Decidiu-se separar a estratégia de controlo e erradicação da estratégia de infecção em função do tipo de exploração:
Explorações monositio: despovoamento total e repovoamento com porcas negativas susceptíveis criadas e manejadas reprodutivamente num efectivol satélite, para permitir encurtar o tempo de desocupação das explorações infectadas.
Explorações multisitio: aplicação do programa descrito por Montserrat Torremorrell et al (2000) que utiliza as seguintes bases:
- O sítio 1 ou efectivo reprodutor deve-se estabilizar relativamente à circulação viral, para o qual se encerra a unidade à entrada de porcas de substituição durante, pelo menos 6 meses de forma continua, ao cabo desse período, aproximadamente, começa-se a produzir leitões desmamados negativos ao PRRS.
- Para os sítios 2 e 3 realizam-se despovoamentos parciais ou totais a fim de conseguir que a população negativa proveniente do sítio 1 repovoe os sítios 2 e 3 e transforme a totalidade da exploração em negativa.
Tabela 1. Resumo de procedimentos na eliminação de PRRS em explorações multisítio. Fonte: Asprocer, 2006
Procedimento | Período | Observação | |
S1 | Estabilização | 6 meses al menos | Encerramento do efectivo |
Sentinelas | 2 períodos de 6 semanas | ||
Marrãs substituição e teste | Continuo | ELISA e IFA | |
Varrascos sentinelas e teste | Continuo | PCR sémen | |
Varrascos em reprodução e teste | Continuo | PCR sémen | |
S2 | Despovoamento | 1-1,5 meses | Depende resultados de S1 |
Limpeza e desinfecção | |||
Encerramento sanitário | 4-8 semanas | ||
Repovoamento porcos negativos | ELISA | ||
S3 | Despovoamento | 1-1,5 | Depende resultados S2 |
Limpeza e desinfecção | |||
Encerramento sanitário | 4-8 semanas | ||
Repovoamento porcos negativos | ELISA | ||
Total | 11-12 meses |
Resultados do plano de erradicação de PRRSv (2000-2007)
A erradicação iniciada no ano 2001 foi confirmada com a eliminação das últimas porcas presentes num efectivo que tinha sido positivo durante o ano 2008. Contudo, o país realizou a autodeclaração de país livre de PRRSV ante a OIE, em Fevereiro de 2013.
A evolução da doença durante o desenvolvimento do programa pode-se ser apreciado no seguinte gráfico.
Gráfico 1. Evolução do número de porcas positivas a PRRSv mediante avaliação
serológica dos seus leitões (ELISA PRRSv). Fonte: Asprocer, 2007.
Os principais factores de risco de contaminação dos efectivos negativos e de transmissão da doença definidos neste programa foram:
- Localização das explorações e distância às explorações infectadas
- Transporte de animais infectados com PRRS para centros de venda ou para o matadouro e contacto com veículos ou pessoas de efectivos negativos
- Pessoal das explorações e aplicação de normas de biossegurança
Reinfecção e plano de erradicação de 2013
Fig. 2 Dendograma del virus PRRS en Chile (año 2013) |
A partir de 9 de Outubro de 2013 foi diagnosticado, pela primeira vez, o vírus desde 2008 num efectivo da região metropolitana mediante ELISA e PCR e procedeu-se à eliminação de 17658 porcos. Contudo, posteriormente também se encontrou noutros 4 efectivos não industriais com 90 porcos na zona do perifoco, um dos quais se identificou como possível contaminante do efectivo industrial. Este mesmo efectivo de engorda envia porcos para feiras de animais vivos, a partir daí reporta-se uma disseminação da infecção de forma explosiva durante o mês de Novembro de 2013 e com o aparecimento de uma nova estirpe viral (ver dendograma).
No presente dendograma apresentam-se as diferentes estirpes isoladas do programa anterior 2000-2007 a amarelo; a encarnado apresenta-se a estirpe que se isolou no primeiro efectivo industrial no ano 2013, denominada estirpe PRRS Maipo Chile 2013. Observa-se que as estirpes mais próximas, a verde, correspondem a estirpes isoladas em Sonora, México em 2010, com 96 % de semelhança (SAG 2014).
Esta informação confirma que a estirpe isolada não tem relação com o programa de erradicação anterior realizado entre os anos 2000 e 2007.
Com o plano actual basicamente está-se a trabalhar com efectivos multisítios, que, assim que declararam a doença, iniciaram um plano de estabilização de sítios 1 para produzir leitões negativos ao PRRS. Alguns efectivos monosítios foram despovoados para serem repovoados com porcos negativos ao PRRS.
Todos os efectivos afectados devem apresentar um plano de saneamento à autoridad sanitária SAG, com relatórios periódicos indicando a evolução do plano.
Resultados do plano de erradicação de PRRSv (2013- .…)
Nos efectivos dos multisítios que estão em estabilização está-se a conseguir completar o protocolo de amostras de PCR negativas em leitões 8 meses após a infecção. Para acelerar a estabilização foi importante a aplicação dos princípios do protocolo McRebel, evitando intercambio de ninhadas, fazendo uso de uma agulha por ninhada, evitar a entrada de pessoas nas maternidades, etc
Todas as empresas através da ASPROCER-SAG tiveram acesso ao inquérito de de biossegurança PADRAP, o qual permitiu identificar áreas a melhorar.
Os programas de biossegurança foram fortalecidos, especialmente no que diz respeito à lavagem de camiões que têm contacto com matadouros. As empresas estabelecem zonas de segunda lavagem de veículos ou estações de transferência para evitar contacto com fontes de risco.
A autoridade sanitária estabelece um programa rigoroso de recolha de amostras para detectar precocemente o PRRSv em todos os efectivos do país; nas explorações caseiras são feitas directamente por funcionários oficiais e nas explorações industriais são realizadas pelos veterinários privados acreditados pela autoridade sanitária. SAG
O programa em curso não tem, ainda, uma data prevista para o seu termo e ela dependerá do resultado das medidas que os suinicultores e as autoridade implementaram.