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Esperamos muito poucas alterações para Março

Pensamos que os preços do cereal vão evoluir muito pouco durante Março, em qualquer sentido. O litoral continua elevado relativamente ao nacional e as ofertas que há nos portos para longo prazo, à volta de 180 €/t para trigos e milhos, não estimulam as decisões de compra.

À medida que avançamos no calendário falta menos tempo para as novas colheitas. Os vendedores têm muito pouco tempo para liquidar as posições longas retidas de cereal nacional no caso de, em Junho, chegar uma grande colheita a um mercado já parcialmente coberto pelos compradores.

A procura esteve praticamente desaparecida durante o mês de Fevereiro. O fabricante ajustou as posições de compra já realizadas à menor produção de ração típica deste mês, por ser um mês mais curto.

Na oferta ainda houve menos mudanças, se é que isso é possível. Os balanços e os stocks da actual colheita parecem bem ajustados, mesmo melhorando as previsões para todos os grãos, segundo o International Grain Council e o USDA. Em geral, as condições meteorológicas no Hemisfério Norte continuam a ser boas.

Em Espanha, poderíamos concluir que nos sobram 100 dias para as novas campanhas com pouco mercado aberto por cobrir. Por isso, se as condições meteorológicas continuarem a ser favoráveis, de agora até ao final da campanha, as possibilidades de movimentos altistas dos preços são realmente reduzidas.

 

Cereais

Até ao momento e a nível mundial, os dados de que dispomos mostram mais produção estimada para o milho e estabilidade para os trigos (tabela 1).

Tabela 1. Produção mundial dos principais cereais nas 8 últimas campanhas em milhões de toneladas.
Fonte: International Grain Council.

milhões de Tm 09/10 10/11 11/12 12/13 13/14 14/15 15/16 16/17 difer
Trigo 679 652 696 657 716 730 736 752 16,00
Cereais Secundários 1.120 1.098 1.154 1.146 1.291 1.318 1.270 1.350 80,00
Milho 820 831 878 873 999 1.019 973 1.049 76,00
Cevada 149 122 134 131 145 144 149 149 0,00
Sorgo 58,30 62,10 56,00 56,20 58,30 64,40 62,50 62,30 -0,20
Aveia 23,60 19,80 23,00 21,30 23,80 23,00 22,60 23,80 1,20
Centeio 18,60 12,90 13,80 14,50 16,90 15,30 12,80 13,70 0,90
Painço, triticale, outros 50,50 50,20 49,20 50,00 48,00 52,30 50,10 52,20 2,10
Total mundial 1.799 1.750 1.850 1.803 2.007 2.048 2.006 2.102 96,00

No balanço de oferta e procura, os stocks de segurança são elevados, falamos de 508 milhões de toneladas no total de cereais que supõem um aumento de 10-12% relativamente a duas campanhas atrás e mais de 15 % relativamente a três.

Tabela 2. Balanço mundial de grãos, produção, consumo e stocks finais em milhões de toneladas. Fonte: International Grain Council.

 

  13/14 14/15 15/16
estim.
16/17
previsão
Cereais totais       19/01 23/02
Produção 2007 2048 2006 2094 2102
Comércio 310 322 345 340 342
Consumo 1935 2009 1984 2062 2069
Existências remanescentes 413 453 475 507 508
Alteração interanual 72 40 22   33
Trigo
Produção 716 730 737 752 752
Comércio 157 153 165 168 169
Consumo 698 715 720 738 738
Existências remanescentes 190 204 221 235 236
Alteração interanual 18 15 17   15
Milho
Produção 999 1019 973 1045  1049
Comércio 122 125 136 135  136
Consumo 951 994 970 1028  1035
Existências remanescentes 182 207 209 225  224
Alteração interanual 48 25 2   14
Soja
Produção 284 320 315 334 336
Comércio 113 127 134 137 139
Consumo 282 312 321 333 334
Existências remanescentes 28 38 32 35 35
Alteração interanual 3 9 -5   3

Para a Europa, como já comentámos, o mês de Fevereiro não foi diferenciador de uma perspectiva meteorológica. No entanto, Março pode diferenciar-se um pouco mais do ponto de vista das condições das culturas de Inverno e dos dados de sementeiras reais por países. O estado das culturas em  países de grande produção, como a França, é “bom e muito bom" para 93% do trigo forrageiro e 90 % da cevada. Em Espanha, de momento, é esperada uma ligeira diminuição da superfície global mas, dependendo do tempo, poderemos esperar uma colheita semelhante à da actual campanha.

Gráfico 1: Produção europeia de trigo forrafeiro, cevada e milho das duas campanhas anteriores e estimativa para a campanha actual em milhões de toneladas. Fonte Strategie Grains.
Gráfico 1: Produção europeia de trigo forrafeiro, cevada e milho das duas campanhas anteriores e estimativa para a campanha actual em milhões de toneladas. Fonte Strategie Grains.

As posições de compra estratégicas para novas colheitas por parte da indústria de alimentação, de momento, foram baixas ou muito baixas, diríamos que talvez 10 % do total em Espanha. Os mesmos níveis de preços oferecidos para nova campanha relativamente ao que resta da velha, não estimularam a que dita percentagem seja maior, como aconteceu em outros anos.

 

Soja

Por um lado já está confirmado que a Argentina manterá as retenções que agravam a exportação de grão de soja durante 2017 em 30% e durante 2018 e 2019 vai reduzi-las em 1 ponto percentual por mês, pelo que passarão a ser, no final, de 18%. Isto repercutirá na rentabilidade do produtor e a possibilidade de que os preços baixem, assim como de elevar a superfície destinada a soja neste país.

O Brasil, pelo seu lado, continua a confirmar grandes rendimentos nos hectares já colhidos e alguns números locais avaliam a colheita em cerca dos 108 milhões de toneladas.

Nos Estados Unidos os rendimentos obtidos superam os históricos como vemos no gráfico 2, o que faz pensar que, se a superfície de sementeira aumenta de novo esta Primavera, como seguramente vai acontecer, se voltem a actualizar os balanços de previsão para final 2017 com record histórico novamente.

Gráfico2. Rendimento de produção de grão de soja nos EUA. Dado em bushel por acre. Fonte: USDA
Gráfico2. Rendimento de produção de grão de soja nos EUA. Dado em bushel por acre. Fonte: USDA

A procura, como vemos no gráfico 3, continua muito elevada mas a tendência de exportações para os EUA deve ceder sensivelmente, como já aconteceu nestas duas últimas semanas, em linha das 400.000 t vs as 800 - 1 milhão que tinhamos anteriormente. A Argentina e o Brasil terão mais protagonismo no abastecimento da procura relativamente aos EUA, por isso tal redução.

Gráfico 3. Volume semanal de exportações de grão de soja EUA na campanha actual e as cinco anteriores (milhões de bushels). Fonte: USDA
Gráfico 3. Volume semanal de exportações de grão de soja EUA na campanha actual e as cinco anteriores (milhões de bushels). Fonte: USDA

 

Outras proteínas

 

Neste momento nota-se que os preços das proteínas alternativas recuperaram, além de que o diferencial foi reduzido, principalmente pela descida acumulada do preço da soja na última semana em Chicago.

Nutricionalmente continuam a ser uma opção muito rentável a colza, os DDGS, o palmiste e o glúten, entre outros.

 

Previsões

Pensamos que os preços do cereal vão evoluir muito pouco durante Março, em qualquer sentido. O preço na costa continua elevado relativamente ao nacional e as ofertas que há nos portos para longo prazo, à volta de 180 €/t para trigos e milhos, não estimulam as decisões de compra.

Para a soja e, consequentemente, o resto das proteínas, os preços parecem elevados. Nem as posições dos fundos de investimento nem o câmbio de moeda auguram descidas muito significativas. À medida que o Brasil e a Argentina tenham mais presença no mercado de exportação os preços poderão ceder mais.

Tabela 3. Previsão de preços por matéria-prima para o próximo mês.

Matéria-prima Intervalo de variação (€ / Tm) Tendência
Trigo -3 — +2 =
Milho -3 — +2 =
Cevada -1 — +1 =
Soja -15 — +6
Colza 0 — +3 =
DDG -2 — +5 =
Girassol -1 — +3 =
Bagaços 0 — -5
Alfalfa -1 — +2 =
Polpa -1 — +3

28 de Fevereiro de 2017

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