13 de Maio de 2022
Um dos dados mais significativos do mercado, nesta primeira quinzena de Maio, foi o regresso do “Preço da Bolsa”. Após mais de 4 anos sem publicar um preço de referência, desde Janeiro de 2018 (foram 8 anos nos últimos 10 em que não houve preço de referência), a Bolsa do Porco indicou como cotação 2,15€/kg carcaça, dando indicação de manutenção em relação à semana anterior. Portanto, preço sem alterações com uma cotação de referência de 2,15€.
Desta forma, é mais fácil que todos os agentes de mercado tenham uma luz por onde se guiar quando se trata de comprar e vender porcos. Que haja agentes de mercado que os vendam acima e outros que os vendam abaixo desta cotação de referência, é normal e natural. É o mercado a funcionar.
Por outro lado, o mercado é mais transparente e permite que se possam fazer comparações mais claras e fidedignas com os mercados do porco dos restantes países europeus.
Em Portugal, a oferta de porcos continua a ser reduzida, mas as vendas de carne também continuam fracas, não permitindo que os matadouros consigam fazer repercutir a totalidade do aumento do preço dos porcos nos preços de venda da carne.
Além disso, e como os porcos espanhóis estão um pouco mais baratos que os portugueses, vão entrando porcos espanhóis nos matadouros, o que impede que a cotação dos porcos em Portugal possa subir e mete “pressão” sobre o escoamento dos porcos nacionais, que como referi acima é reduzida e por isso, consegue aguentar bem essa “pressão”.
A redução das exportações de carne de porco para Países Terceiros é um facto que traz queixas ao mercado português. Segundo dados do IF da Dinamarca, as exportações portuguesas de carne de porco, no 1º trimestre de 2022 caíram fortemente para a China (-87,7%. Mas se o número 87,7% é impactante, o valor absoluto, em toneladas ainda o é mais. Portugal exportou menos 8150 tons de carne de porco, entre Janeiro e Março de 2022 quando comparado com o mesmo período de 2021. Este peso, convertido em peso carcaça e considerando uma carcaça de 80kg, representa menos 102 mil porcos exportados para China do que em 2021, ou seja, praticamente representa uma semana de abate (Portugal abate cerca de 100 mil porcos semanais). Esta forte descida das exportações para a China não foi compensada pelos aumentos das exportações para o Japão, em que foram exportadas 210 tons (+100 tons que em 2021, ou seja, +89%) e para a Coreia do Sul que comprou 451 tons (+310 tons que em 2021, ou seja, +225%).
Já que falei na China, este país continua a ser uma grande incógnita no que diz respeito à compra de carne de porco a nível mundial. Todos os dados apontam para uma redução das compras chinesas de carne de porco nos mercados mundiais, mas tendo em consideração os problemas com a Covid-19 e o aumento do número de pessoas confinadas, é muito natural que essas compras ainda possam ser mais reduzidas, o que afectaria negativamente os mercados.
Em todo o caso, e como já tive oportunidade de referir nos meus anteriores comentários, a oferta de carne de porco a nível europeu é inferior à dos anos anteriores, visto que se irá fazer sentir, de uma forma mais significativa nas próximas semanas e meses, a redução de efectivo de reprodutoras que ocorreu em toda a Europa, com excepção de Espanha (o aumento do efectivo espanhol não chega, nem de perto nem de longe, para colmatar a redução a nível europeu) e o aumento da mortalidade dos leitões que implicará menor número de porcos de abate daqui em diante.
A redução da oferta de porcos para abate é tão acentuada que uma boa parte dos matadouros em Espanha já só trabalham 4 dias por semana por este motivo que se junta ao aumento dos custos de energia. Desta forma, os matadouros conseguem ser mais competitivos e tentam reduzir custos.
O que teremos que ver é de que forma o aumento do preço da carne aos consumidores, que veio para ficar, ou por outras palavras, de que forma o aumento permanente da inflacção que reduz o poder de compra dos consumidores, afectará as suas compras de carne nos próximos meses e de que maneira esse comportamento influenciará a cotação dos porcos.
Outro dos dados significativos do mercado nesta quinzena foi a descida de 0,15€/kg carcaça ocorrida na Alemanha. Para já, e nesta segunda semana do mês de Maio, a forte queda alemã não teve influência no mercado espanhol, francês e dinamarquês, mas seguramente terá nos mercado vizinhos (Países Baixos, Bélgica, Áustria e Polónia). O comportamento do mercado alemão para a segunda metade de Maio será determinante para segurar as cotações dos outros países, se a Alemanha mantiver cotação, ou para baixar cotações, se a Alemanha continuar na senda da descida.
Portanto, a incógnita que fica é se esta descida é apenas temporária, para aliviar o mercado alemão de carne que, sendo muito menos do que nos anos anteriores, é demasiada para o consumo interno e, como o mercado alemão continua impedido de exportar para Países Terceiros, terá que encontrar espaço no mercado comunitário para esse escoamento de carne de porco, ou se será defintiiva.
O aumento da competitividade da carne faz-se através do preço e que melhor decisão para ganhar competitividade do que baixar o preço da matéria-prima, leia-se porcos? Já desde a Páscoa que o preço da carne alemã tinha baixado, sem que a cotação dos porcos tivesse descido. Os matadouros alemães continuavam a fazer pressão para a descida da cotação e conseguiram-no de uma forma muito significativa.
No que diz respeito à evolução das cotações europeias do porco, em Espanha a cotação subiu 0,005€/kg PV (+0,007€/kg carcaça) passando a cotação para 1,545€/kg PV (2,06€/kg carcaça). Os pesos subiram cerca de 500g nesta quinzena em consequência da redução de abates da Páscoa.
Na Alemanha a cotação baixou 0,15€/kg carcaça esta quinzena, passando para 1,80€/kg. Os pesos subiram 300g para os 98kg carcaça nesta quinzena.
Nos Países Baixos a cotação manteve-se em 1,86€/kg carcaça. Há oferta disponível de porcos para abate nos Países Baixos e na Alemanha, devido aos atrasos decorrentes da Páscoa, o que causa maior pressão sobre o mercado. Até à semana passada, o preço alemão era claramente mais alto que o dos seus vizinhos, mas com a descida da Alemanha as cotações realinharam-se. A cotação nos Países Baixos manteve-se, apesar da descida alemã e será mau sinal para o mercado se os matadouros neerlandeses aproveitarem a descida alemã para descer o preço dos porcos no seu país.
Na Bélgica a cotação baixou 0,07€/kg PV nesta quinzena passando para 1,24€/kg PV.
Na Dinamarca a cotação subiu 0,02€/kg carcaça nesta quinzena para os 1,46€/kg carcaça. A não subida das temperaturas em toda a Europa impede o aumento do consumo de carne de porco e daí que não tem havido condições para que haja aumentos de cotação mais significativos na Dinamarca. Todavia, a venda de alguma peça faz-se a bom ritmo, o que é importante para o mercado da carne de porco daquele país escandinavo. Tendo em consideração o aumento dos custos de produção, é necessário que as cotações dos porcos subam, mas para que estas subam é necessário que o consumo aumente. Se as condições climatéricas não ajudarem, os consumos terão dificuldade em aumentar. É de salientar que a Dinamarca tem aumentado as vendas para Países Terceiros, ao contrário dos seus competidores europeus, o que tem permitido “aguentar” o mercado.
Em França a cotação subiu 0,006€/kg carcaça para 1,698€/kg carcaça. Os pesos baixaram 100g para os 95,6kg. O peso é cerca de 150g mais elevado do que na mesma semana do ano passado. O mercado está bastante equilibrado em França e isso tem-se feito sentir nas ligeiras subidas que vão ocorrendo, semana após semana, no MPB.