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Estará perto do fim a descida da cotação dos porcos?

Na segunda quinzena de Outubro, a cotação desceu 0,03€/kg carcaça na Bolsa do Porco.

29 de Outubro de 2021

Dezoito semanas após se ter iniciado a descida da cotação dos porcos em Portugal, ou seja, desde meados de Junho (foram 14 semanas de descidas e 4 semanas de manutenção – as 4 semanas do mês de Agosto – tendo a descida da Bolsa totalizado 0,56€/kg de carcaça), finalmente voltou a haver manutenção da cotação na Bolsa do Porco. Em todo o caso, na segunda quinzena de Outubro, a cotação desceu 0,03€/kg carcaça na Bolsa do Porco.

Terá sido este o “canto do cisne” da descida em Portugal? Esperemos que sim, se bem que com a descida ocorrida na Bolsa de Lérida e sem acompanhamento na Bolsa do Porco, temo que tenha havido descidas na cotação realmente paga aos produtores portugueses por parte dos matadouros nacionais.

É de sublinhar que os suinicultores portugueses estão a vender os seus porcos ao preço mais baixo da Europa, apenas sendo suplantados, pela negativa, pelos suinicultores belgas. Pelas informações que me chegam, os produtores nacionais estão a vender os seus porcos abaixo de 1,20€/kg carcaça e se atentarmos às cotações de referência dos restantes países europeus (convertida em euros/kg carcaça), na Alemanha, onde há uma crise sem precedentes a cotação é 1,20€, em Espanha é 1,376€, na Holanda 1,31€, na Dinamarca 1,13€ mas os dinamarqueses recebem, em Dezembro, um bónus por parte dos matadouros que é de 0,17€/kg carcaça abatida no ano fiscal anterior, que vai de Novembro a Outubro, pelo que a cotação será de 1,30€, em França a cotação é 1,23€ para porcos equivalentes a 50% de músculo, pelo que se tem que juntar uma bonificação de, aproximadamente, 0,17€/kg carcaça referente à média de classificação nacional que ronda os 57% de músculo, o que dará uma cotação média de venda de 1,40€. Portanto, estes são dados que deverão levar a uma reflexão sobre as condicionantes do mercado português e o que leva a que este seja tão penalizador para os produtores.

Todo o ambiente negativo que existe sobre o mercado do porco na Europa é devido à redução das exportações para a China ocorridas, principalmente, a partir de Agosto. Em todo o caso, e segundo dados da U.E. referentes às exportações de carne de porcos para Países Terceiros, entre Janeiro e Agosto de 2021, houve um aumento de 8,7% das exportações globais sendo atingido um total de 3714742 tons. Deste total, foram enviadas para a China um pouco mais de 2 milhões de toneladas, o que representa -5,1% que em igual período de 2020, só que devemos ter em consideração que apenas no mês de Agosto de 2021, foram enviadas, para a China, apenas 154 mil tons, quando no mesmo mês de 2020 tinham sido enviadas 262,5 mil tons, ou seja, houve uma redução de 41% nos envios para a China somente em Agosto. Sem dúvida, que esta redução tem causado graves distúrbios na fileira suinícola europeia com a consequente dificuldade em retirar carne do mercado interno, visto que encontrar novos clientes não é tarefa que se possa fazer com rapidez.

Apesar de tudo, tem havido novos destinos para a carne de porco europeia e esses destinos têm crescido significativamente as suas compras, como são os casos das Filipinas que aumentaram 169% as suas compras, entre Janeiro e Agosto totalizando 241 mil tons, da Coreia do Sul +9,8% para as 15 mil tons, do Vietname com +33,5% para as 102,5 mil tons. Evidentemente que a China tem um peso enorme nas exportações europeias (representa 54% das exportações da U.E) e sem que este país aumente as suas compras, haverá grandes dificuldades no mercado do porco na Europa.

A forte descida das cotações na Europa, conjuga-se com mais um factor negativo que é o aumento do custo de produção em função do brutal aumento da cotação das matérias-primas. Há matérias-primas que quase subiram para o dobro e há outras que subiram mais que isso. Para além disso, há correm informações nos mercados que poderá haver falta de alguns destes ingredientes e que, mesmo caros, poderá não haver disponibilidade para venda. O quadro futuro prevê-se negro, pois não há qualquer indicação de que haja alguma tendência, sequer, de estabilização e muito menos de descida nas cotações dos ingredientes para as rações e isto irá reflectir-se num contínuo aumento do preço das rações até ao final do ano e para o próximo ano de 2022.

No que diz respeito às cotações por países, em Espanha a cotação desceu 0,047€/kg PV (-0,63/kg carcaça) para 1,032€/kg PV (1,376€/kg carcaça). Os pesos continuam a subir, mas o diferencial entre o peso deste ano e o do ano passado passou 2,5kg para 2,2g PV, portanto os porcos continuam mais pesados que o ano passada na mesma altura. A cotação espanhola descue0,52€/kg PV desde o início da descida e neste momento, o diferencial com a cotação alemã é de apenas 0,10€/kg PV, quando já foi de 0,30€/kg PV. Isto torna a carne espanhola mais competitiva no mercado interno da U.E. permitindo-lhe maiores possibilidades de escoamento.

Na Alemanha manteve a cotação em 1,20€/kg carcaça. A oferta de porcos é superior à procura, e isto acontece quando há uma enorme redução de oferta devido ao abaixamento do efectivo. Por outro lado, continuam as dificuldades em abater animais e em desmanchar carcaças devido às quarentenas por Covid-19 dos trabalhadores destas unidades de abate e processamento. Esta diminuição de mão-de-obra dificulta os abates e a consequente saída de porcos das explorações. Por outro lado, apareceu um javali positivo à Peste Suína Africana fora da zona delimitada. Este é mais um factor de instabilidade no mercado alemão que poderá vir a influenciar negativamente os preços de venda. O peso médio de carcaça está nos 97,3kg.

Na Holanda também manteve a cotação em 1,31€/kg carcaça.

Na Bélgica a cotação manteve-se em 0,75€/kg PV.

Na Dinamarca a cotação manteve-se em 1,13€/kg carcaça. Houve um aumento da procura de carne de porco por parte dos Países do Leste da Europa o que permitiu estabilizar o mercado do porco e da carne. Na realidade, o aumento dos focos de PSA na Polónia, Hungria e Roménia implicou que estes países tenham tido maior necessidade de importar carne dos restantes parceiros europeus e isso foi uma boa ajuda para o mercado interno do porco. Apesar de algum aumento da procura, o preço da carne manteve-se num patamar bastante baixo e assim deverá continuar por mais 3-4 semanas até que comecem as compras relativas ao Natal na grande maioria dos países europeus para que se possam produzir os produtos transformados que são habituais consumir por toda a Europa.

Em França foi a grande excepção de todos os países Europeus, tendo subido a sua cotação 0,005€/kg carcaça fixando-se em 1,229€/kg carcaça. O peso manteve-se nos 95kg e é igual ao peso do ano passado na mesma semana. A França tem, neste momento, os porcos com a cotação mais elevada na Europa. Os matadouros compram menos porcos do que os oferecidos e aproximam-se duas semanas consecutivas com 1 feriado em cada uma delas. Mesmo assim, houve condições de subir a cotação no MPB. Veremos se estes feriados terão influência negativa no mercado do porco francês.

O mercado parece encaminhar-se para o fim da descida, mas como iremos ter o Feriado de Todos-os-Santos em toda a Europa, veremos como este dia a menos de abate influenciará o abate de porcos e, consequentemente, a sua cotação.

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