O stress pelo calor é um factor muito importante a ter em conta no ciclo produtivo do porco porque este tem menos sistemas para se defender do calor do que outras espécies. O ancestral do porco, o javali, evoluiu num ambiente vegetal frondoso e coberto e, portanto, pouco exposto ao sol. Por isso, os sistemas que a espécie foi desenvolvendo para perder temperatura foram, principalmente, comportamentais. Ou seja, procurar zonas de sombra e frescas onde se pudessem deitar lateralmente para aumentar a superfície de contacto do animal com o solo, humedecer o corpo com água ou barro quando a temperatura aumenta para perder calor corporal por evaporação e arfar como último recurso para evaporar a água quente directamente da boca e assim se resfrescarem. Dado que não evoluiram em zonas abertas e demasiado expostas, não teve a necessidade de desenvolver a sudação, o que agora o torna numa espécie especialmente sensível ao stress térmico por altas temperaturas.
Figura 1. Porco ibérico que cria a sua zona húmida para se deitar numa parcela exterior.
Para que o animal possa, portanto, termoregular da melhor maneira possível, há que jogar com diferentes estratégias:
- Logicamente, ter ventilação ajuda sempre. Ter uma ligeira brisa de ar pode fazer baixar uns quantos graus a sensação térmica que o animal tem, já que desloca o ar quente que o animal tem à sua volta e substitui-o por ar mais frío.
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Figura 2. Exemplo de animais deitados com altas temperaturas no meio envolvente.
- Fornecer um solo fresco e húmido pode ajudar. Ou seja, em condições de calor vamos evitar solos quentes e muito especialmente um solo de palha, não só para evitar crescimentos microbiológicos, mas porque a palha aumenta entre 3 a 4 graus a temperatura efectiva que sentida pelo animal. Se o solo não proporciona uma zona húmida e fresca, os animais irão procurá-la na zona de defecação, de modo que irão transferir a zona de descanso para esta área para humedecer os seus corpos e perder temperatura por evaporação. O resultado vai ser animais muito sujos, o que é um bom indicador de problemas de stress térmico por altas temperaturas no parque.
- É importante ter em conta que a humidade relativa do ambiente deve ser baixa para ajudar o animal a perder temperatura por evaporação. A norma é simples, ambiente seco e animal molhado para perder calor. Um ambiente carregado de água, que não aceita mais água e portanto não permite nenhuma evaporação, é o pior que pode acontecer a um animal com calor.
- Se as paredes da exploração recebem irradiação solar pela tarde, temos que as isolar no interior para que não aqueçam o ambiente quando os animais deveriam começar a notar o fresco e fazer a segunda refeição do dia. Com efeito, os animais tenderão a marcar mais claramente os períodos de inactividade e os de alimentação do que com temperaturas mais baixas, de modo que as refeições se concentrarão especialmente nas primeiras e últimas horas do dia, com muito menor actividade nas horas centrais.
- Fornecer um bom rácio entre os postos de alimentação/animais no parque é fundamental para assegurar que os animais, ou pelo menos alguns deles, os dominados, não comam fora das horas mais frescas. Comer com mais calor vai significar comer menos e isso vai-se notar já que haverá uma maior disperssão de pesos no parque entre dominantes e dominados. Uma distribuição incorrecta das zonas de alimentação e bebida, de actividade e de descanso pode aumentar a competição pelo alimento, que se verá agravada em condições de stress térmico nas quais se produz esta concentração de refeições.
- Finalmente, outra estratégia a considerar baseia-se na formulação das rações. Se se dão fórmulas menos difíceis para o aparelho digestivo (que produzem menos calor), o animal ingerirá mais ração e energia da dieta e se notará menos a redução no consumo devido ao calor. Parte dessa redução deve-se a que o animal não quer produzir calor pela própria digestão, pelo que ajudando-o a fazer uma digestão menos calorífica, se conseguirá que o animal coma mais. Por exemplo, incluir mais gordura na dieta consegue fazer aumentar os níveis de energia diminuindo a produção de calor da digestão, já que a gordura fornece energia directa com pouca perda devido a processos de digestão.
- Dentro da alimentação, também poderia ajudar se se arrefecer a água, ou que a alimentação seja líquida ou combinar as duas, que a alimentação seja líquida e a água fria.