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O objectivo mais importante do uso de antibióticos na medicina animal é a prevenção e o tratamento do sofrimento animal por meio de um bom maneio da saúde. Na maioria dos países, os antibióticos só podem ser usados com uma receita assinada por um veterinário que tenha estabelecido uma boa relação veterinário-cliente-animal. Os veterinários estão cientes dos benefícios dos antibióticos e desejam proteger sua eficácia a longo prazo, tanto no tratamento de humanos como de animais, para as gerações futuras. O veterinário desempenha um papel fundamental no uso responsável de antibióticos e é a principal referência em qualquer estratégia de redução de antibióticos.
Tivemos o prazer de entrevistar 4 veterinários suínos de alguns dos principais países produtores de suínos do mundo, incluindo Estados Unidos, Itália, Dinamarca e Espanha. Neste primeiro artigo, resumimos a discussão geral sobre estratégias de redução de antibióticos nos seus respectivos países, como são definidas as metas e como as suas respectivas indústrias as seguem.
Todos os veterinários entrevistados destacaram que, sem dúvida, os governos de seus países estão extremamente preocupados com a redução geral do uso de antibióticos. Todos descreveram as várias iniciativas delineadas pelos seus programas nacionais oficiais. Michael Agerley é um dos 12 veterinários de Porcus, uma grande clínica veterinária de suínos na Dinamarca que fornece aconselhamento sobre saúde animal a 200.000 porcas (ou 20% da população de porcas dinamarquesas). Agerley é muito claro ao descrever "a pressão que seu governo colocou sobre os ombros dos veterinários suínos" desde o início da iniciativa nacional dinamarquesa, que começou há dez anos. A Dinamarca tem um banco de dados público nacional chamado "VETSTAT" (imagem 1) e a partir dele são relatados rotineiramente a quantidade total de antibióticos prescritos por exploração e por veterinário. Esses níveis são avaliados continuamente pelo seu governo. Agerley destacou o foco público da mais recente iniciativa da comunidade científica dinamarquesa em que os "10 piores veterinários", que prescrevem o maior volume de antibióticos, serão incluídos numa lista a ser publicada regularmente num boletim. Como podemos ver facilmente, este tópico é extremamente importante na prática diária de todo veterinário de suínos. O Dr. Agerley ficou muito orgulhoso após o trabalho árduo dos veterinários de Porcus e dos seus produtores, pois eles conseguiram evitar entrar nessa lista!
Na Espanha, o Plano Nacional de Resistência aos Antibióticos (PRAN) (imagem 1) foi lançado em 2014 por meio de uma directiva da Comissão Europeia. Miguel Ángel Sanz, director regional de UVESA em Castela e Leão, explicou que o PRAN foi significativamente impulsionado pela participação de empresas produtoras como a UVESA, empresa produtora de carnes com mais de 400 milhões de euros de receitas anuais, que é líder tanto na avicultura como na suinicultura, com mais de 40.000 porcas em plena produção. Sanz destacou que o PRAN tem um objectivo muito claro de reduzir o uso generalizado de antibióticos e, embora tenha começado como um programa voluntário, a indústria tem feito um grande esforço para que seja um sucesso, como a sociedade exige. Finalmente, Sanz assinalou que à medida que a indústria reduz o uso de antibióticos, estas mudanças devem ser executadas em paralelo com a preservação de um negócio competitivo e rentável. Efectivamente, isto significa que os veterinários necessitam ferramentas e a liberdade para equilibrar a prevenção e o tratamento de patologias existentes em interesse do bem-estar humano e animal.
Annalissa Scollo é um dos 12 veterinários suínos de uma grande clínica veterinária na Itália chamada Suivet. Ele tem mais de 10 anos de experiência no campo da medicina suína. Scollo concordou com a importância da redução do uso de antibióticos e confirmou que também é importante para a indústria suína italiana como um todo. No entanto, na sua opinião, sente que ainda há uma proporção de produtores e empresas que não estão preparados para efectuar as mudanças que são necessárias. Descreveu que existem directrizes nacionais e regionais em relação à redução de antibióticos, mas que não há multas ou penalizações para quem as não seguir. Como resultado, ele acredita que mais esforços devem ser feitos para criar os incentivos necessários para proceder com eficácia.
Jean Paul Cano é director do departamento de Vigilância Sanitária do sistema Pipestone nos Estados Unidos. Pipestone é um grande sistema de produção de suínos que lida com aproximadamente 280.000 porcas (ou seja, 4-5% da população das explorações de porcas dos EUA) e também oferece serviços de consultoria de saúde a outros produtores fora de seu sistema. Ele ofereceu a sua perspectiva sobre a indústria suína dos EUA e a questão da redução de antibióticos, observando que o uso de antibióticos nas explorações é regulamentado nos EUA pela Food and Drug Administration (FDA). Destaca o facto de 
que a normativa para o uso de antibióticos nas rações teve mudanças muito importantes nos últimos 10 anos desde que foi promulogada a Lei de Modernização e Segurança Alimentar (Food Safety and Modernization Act-FSMA) em 2010-2011. Relativamente ao uso de antibióticos na ração, um novo conjunto de regulamentações mudou o foco do governo para uma abordagem mais proactiva. A FSMA garantiu que as fábricas de rações seriam tratadas como instalações de fabricação de alimentos humanos no que diz respeito à segurança alimentar. Em 2015, começou a operar sob a Directiva de Alimentos Veterinários (VFD), que orienta e documenta o uso adequado de antibióticos nos alimentos. Fornece uma estrutura que garante que os veterinários de campo participem no direccionamento do uso apropriado de antibióticos. Cano ressaltou que tem sido um passo importante no caminho para o uso responsável de antibióticos na indústria suína.
No próximo artigo desta série, discutiremos as experiências e estratégias dos nossos entrevistados na redução do uso de antibióticos nas suas explorações, que nos contarão as suas histórias de sucesso e não tão bem-sucedidas.
