Vacinação em reprodutoras
A diarreia neo-natal por E. coli pode ser prevenida através da imunidade colostral que será conseguida através da vacinação das porcas gestantes, no entanto, a imunidade induzida por estas vacinas desaparece após o desmame. As vacinas comerciais disponíveis são bacterinas inactivadas, sub-unidades fimbriais purificadas e inclusive algumas contém enterotoxinas LT para administração sob a forma parenteral.
Foto 1: Diarreia neonatal causada por E. Coli. (Cortesia Dr Hector Patullo)
O primeiro contacto da nulípara gestante com a vacina deverá ser separado em 2 doses para estimular uma maior resposta imunitária. Em porcas multíparas a vacinação recomenda-se que seja feita 2 semanas antes do parto. A imunização passiva através de anticorpos colostrais protege os leitões do aparecimento de diarreia por ETEC até ao desmame. O êxito dos planos de vacinação reside no uso de vacinas que contenham antigénios fimbriais específicos de cada exploração. Para tal, a genotipificação dos isolados de ETEC obtidos para cada caso em particular poderá ser muito benéfica. Além disso, é necessário contar com um bom maneio do encolostramento dos leitões.
Foto 2: Cultivos diferenciais para o diagnóstico de E. Coli.
Vacinação em leitões
Uma vez desaparecida a imunidade colostral é necessário o desenvolvimento de uma resposta activa da mucosa com produção local de IgA anti F4 e/ou F18 para a protecção pós-desmame. O desenvolvimento de imunidade activa pode ser conseguido através do uso de vacinas de sub-unidade, vacinas vivas, vacinas mortas ou vacinas recombinantes administradas de forma oral ou parenteral aos leitões.
Foto 3: Diarreai pós-desmame causada por E. Coli. (Cortesia Dr Hector Patullo)
Vacinas orais
Vacinas de sub-unidade
Foi demonstrado que a fímbria F4 purificada - mais especificamente a sua porção ac - é um potente agente imunogénico, induz bons níveis de imunidade sistémica e altos níveis de imunidade de mucosa, prevenindo assim a adesão e colonização bacteriana. O momento de aplicação desta vacina em leitões é crucial já que os porcos necessitam ter expressado os receptores fimbriais intestinais (F4R) que permitem a adesão bacteriana (Van den Broeck et al., 1999). Estes receptores permitem que a E. coli produza doença mas, por sua vez, a sua presença também e necessária para a indução de imunidade. Estudos experimentais demostraram a imunização oral utilizando plantas transgénicas que contém factor de adesão fimbrial F4, assim como a sub-unidade maior FaeG, outro potente indutor de imunidade de mucosa de E. coli, com muito bons resultados nos leitões (Joensuu et al. 2006).
Por outro lado, não foi possível demonstrar que a vacinação oral com fimbria F18 purificada possa induzir boa imunidade de mucosa em porcos. Esta diferença na imunidade conferida entre vacinas que contém as fímbrias F4 ou F18, é devida à diferença estrutural entre ambas as fímbrias. A adesão através de F18 é devida à presença de uma sub-unidade menor FedF, enquanto que para F4 é devida à sub-unidade FedG a qual está presente em numerosas cópias por fímbria (Bakker et al., 1992).
Vacinas atenuadas
Outro tipo de vacinas contra ETEC são as vacinas atenuadas e as vacinas vivas avirulentas. As estirpes vacinais aderem à mucosa intestinal induzindo imunidade local e aderindo a receptores intestinais prevenindo assim a adesão dos ETEC patogénicos. Vacinas vivas atenuadas com a porção F4ac demonstraram uma boa indução da imunidade da mucosa, no entanto, não foi possível demonstrar a sua eficácia clínica contra a infecção com ETECF4+ (Bozic et al.2002).
Actualmente está a ser usada no Canadá, Brasil e UE uma vacina avirulenta que expressa a fímbria F4, mas não produz enterotoxinas. Foi demonstrado que esta vacina diminui a colonização, assim como a duração e severidade da diarreia em desafios de campo com estirpes ETEC F4+. Esta vacina pode ser administrada na água de bebida e recomenda-se em animais de mais de 17 dias de idade. Outro tipo de vacina viva com bons resultados em porcos lactantes contém a fímbria F18ac. Esta vacina não demonstrou prevenir a adesão fimbrial mas sim a redução dos sinais clínicos pela indução de IgA locais e a redução na excreção bacteriana nas fezes. As possíveis limitações do uso de vacinas vivas avirulentas são a falta de protecção cruzada contra outras estirpes ETECF18 e a potencial reversão em estirpes patogénicas.
A administração oral de antigénios encapsulados é outra alternativa que foi estudada para induzir imunidade de mucosa em porcos lactantes. Esta estratégia poderá prevenir a neutralização por parte dos anticorpos maternais ou a degradação dos antigénios vacinais durante a sua passagem através do tracto gastrointestinal. Estudos baseados na encapsulação das estirpes ETEC F18+ e factores fimbriais F18 mostraram resultados variáveis quando foram administrados sob a forma oral a porcos lactantes (Bertschinger et al., 2000). A encapsulação de fímbrias F4 demonstrou uma redução dos sinais clínicos e da excreção bacteriana nas fezes quando se comparou com a administração de antigénios F4 em suspensão. No entanto, não foi possível reduzir a colonização com estirpes ETECF4+ (Calinescu et al., 2005).
Vacinas parenterais
Uma estratégia proposta para a vacinação de leitões lactantes na presença de anticorpos colostrais é a vacinação parenteral. Para tal fim, vacinas mortas ou bacterinas, administradas durante o periodo de aleitamento, poderão induzir uma resposta imunitária sistémica mais potente, em vez de uma resposta da mucosa como a induzida pelas vacinas de administração oral (Bozicet al.2002). Vacinas baseadas em estirpes ETEC F4+ mortas com tratamento por formol demonstraram bons resultados com uma escassa resposta intestinal perante a infecção de estirpes virulentas de ETEC F4+. Outro sistema de vacinação proposto é a vacinação parenteral antes do desmame baseada na administração de fímbria F4, a qual induz bons níveis sistémicos de IgA. Trabalhos experimentais com estirpes ETEC F4+ geneticamente modificadas que expressam uma proteína recombinante com os antigénios FaeG-FedF-LT192A2: B demonstraram uma boa produção de IgA sistémica inibindo a adesão de estirpes ETEC F4+ e F18+, prevenindo o aparecimento de diarreia clínica em leitões após a infecção com estirpes ETEC F4+ (Ruan et al.,2011).
Conclusões
Os programas de vacinação para prevenir a diarreia neo-natal e pós-desmame em porcos devem ser estabelecidos em cada exploração. Alcançar bons níveis de imunidade colostral através de planos de vacinação de porcas reprodutoras é o primeiro passo para prevenir a diarreia neo-natal. Este primeiro esquema deverá ser complementado por indução de imunização activa, no pré ou pós-desmame para prevenir a diarreia pós-desmame.