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Factores de risco para Pneumonia Enzoótica em porcos de engorda

Contactos temporais por espaços curtos de tempo estão associados a um maior risco de Pneumonia Enzoótica.

16 Março 2016
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Artigo

Herd-Level Risk Factors for the Seropositivity to Mycoplasma hyopneumoniae and the Occurrence of Enzootic Pneumonia Among Fattening Pigs in Areas of Endemic Infection and High Pig Density. H Nathues, YM Chang, B Wieland, G Rechter, J Spergser, R Rosengarten, L Kreienbrock and E. grosse Beilage. Transbound Emerg Dis. 2014 Aug;61(4):316-28. doi: 10.1111/tbed.12033

 

O que se estuda?

Num estudo de casos e controlos realizado entre 2006 e 2010 foram recolhidos dados para identificar factores potenciais de risco para o aparecimento de Pneumonia Enzoótica (EP). Participaram 100 explorações de uma região com elevada densidade suína, onde a maioria das explorações estavam endemicamente infectadas por Mycoplasma hyopneumoniae (M hyo).

 

Como se estuda?

As explorações são distribuídas em três grupos segundo descrito na tabela que se segue:

Grupo Número de explorações Pneumonia Enzoótica Índice de tosse Seroprevalência de M hyo
Doentes 40 + elevado elevada
Sãs 25 - baixo baixa
Seropositivas 35 - baixo elevada

Em todas as explorações foi analisado o maneio, a cria, as condições ambientais e os sinais clínicos (índice de tosse), também foi avaliada a seroprevalência de M hyo, SIV e PRRS em porcos do final da engorda. Os resultados foram analisados para detectar diferenças entre os 3 grupos e apenas foi calculada a correlação entre as variáveis com diferenças claras, que foram analisadas mediante um modelo multivariável. Os factores identificados foram classificados como Índice de Risco Relativo (RRR, pelas suas siglas em inglês).

 

Quais são os resultados?

Os valores médios de seroprevalência e índice de tosse foram os seguintes:

Grupo Índice de tosse Seroprevalência de M hyo (%)
Doentes 4,3 86,6
Sãs 0,7 11,2
Seropositivas 0,9 86,3

 

Factores e RRR estatisticamente relevantes em explorações "doentes" relativamente às "sãs" e às "seropositivas":

  • A vacinação contra M hyo em leitões (1 dose às 2 semanas ou menos), aumentou o risco de ser uma exploração "doente" em 7,33 (p=0,026).
  • O tratamento antibiótico rotineiro dos leitões lactantes na primeira semana de vida com substâncias com eficiência contra M hyo aumentaram o risco em 6,88 (p=0,059).
  • O contacto (de vários minutos a diversas horas) entre porcos de engorda de diferentes idades durante o povoamento dos currais aumentou o risco em 4,42 (p=0,012)
  • O maneio por lotes de 1 ou 3 semanas aumentou o risco em 3,14 (p=0,049) em comparação com os de 2 ou 4 semanas
  • Os anticorpos concomitantes contra SIV H3N2 em porcos de acabamento aumentaram o risco em 1,03

 

Factores que influenciaram a seroprevalência de M hyo (com ou sem sintomas clínicos):

  • Maior risco ao aumentar a idade ao desmame (>23 dias)
  • O risco é reduzido nas explorações em que as nulíparas são expostas a animais vivos em lugar de fezes ou outro material
  • O risco é menor nas explorações com mais leitões desmamados por porca e ano

 

Que conclusões retirar deste trabalho?

Os programas de prevenção e as estratégias para controlo de EP nas explorações endemicamente infectadas tendem a estar baseados na vacinação e tratamento dos leitões. Os resultados deste estudo demonstraram que os programas também deveriam ter em conta factores de risco de doença clínica e de aumento da transmissão de M hyo. As estratégias eficientes para reduzir o impacto de EP parecem ser a aclimatação optimizada da reposição, assim como uma separação estrita entre lotes de porcos com um maneio tudo dentro-tudo fora.

 

Enric MarcoA visão a partir do campo por Enric Marco

A Pneumonia Enzoótica é talvez uma das doenças mais vulgares nas explorações suínas, especialmente nas zonas de alta densidade, onde a sua prevalência é habitualmente de 100%.

Durante os últimos anos, o seu controlo baseou-se na aplicação de diferentes estratégias vacinais, especialmente aplicadas a leitões. Não obstante, e apesar destas, a presença de manifestações clínicas e a detecção de seroprevalências elevadas em animais de engorda continuam a ser relativamente frequentes.

Os factores ambientais e de maneio têm sempre sido associados a esta problemática. É do conhecimento geral que as engordas de fluxo contínuo supõem um risco real de expressão desta doença, ao mesmo tempo que ambientes mal ventilados ou com uma excessiva densidade de animais. O presente artigo revê muitos destes factores e revela alguns detalhes de maneio que talvez tenham sido sobre-valorizados mas que deveriam ser tidos em conta nas nossas actuações futuras.

A possibilidade de contacto entre animais de diferentes idades tem sido sempre considerado um risco de expressão da Pneumonia Enzoótica e neste sentido o artigo não trás nada de novo. No entanto, refere que contactos temporais por espaços curtos de tempo estão associados também a um maior risco, e isto sim é uma novidade. Não estamos a falar de comparar fluxos contínuos com um maneio por lotes, mas sim de que o maneio por lotes seja correctamente realizado ou não.

O impacto de uma correcta adaptação sanitária das nulíparas na expressão da Pneumonia Enzoótica não parecia tão relevante desde que as vacinas são aplicadas habitualmente nos seus programas de adaptação. No entanto, as conclusões do artigo parecem claras, no sentido de que uma correcta adaptação deveria incluir o contacto directo com animais da exploração receptora.

O artigo detecta também um maior risco quando são aplicados planos vacinais precoces (< 2 semanas), quando os leitões são tratados na primeira semana de vida, quando são desmamados com mais dias ou quando as explorações são manejadas em bandas de 1 ou 3 semanas relativamente a 2 ou 4 semanas (com este tipo de bandas o desmame precoce é uma obrigação). No meu entender, estas descobertas estariam a indicar-nos que é importante ter em conta o que acontece nas maternidades se queremos conseguir um correcto controlo da Pneumonia Enzoótica. Desde a publicação do trabalho realizado por E. Fano e C. Pijoan (2007), onde era relacionada a expressão da doença na engorda com a prevalência em leitões desmamados, sabemos que o controlo precoce da doença é um dos pontos críticos. No entanto, algumas das consequências práticas do artigo de E. Fano são, possivelmente, erradas à vista dos resultados.Como por exemplo, os tratamentos precoces nos leitões ou pensar que uma vacinação extremamente precoce evita a colonização.

Do artigo que está a ser comentado, parece desprender-se o facto de que as acções são mais eficazes quando se destinam a reduzir a excreção de M.hyo em porcas reprodutoras que quando se concentram em controlar a infecção em leitões. Em geral, as explorações que conseguem uma melhor produção (maior número de leitões desmamados) são aquelas que apresentam uma boa estabilidade sanitária a nivel de reprodutores e que o artigo relaciona com um menor risco de expressão da Pneumonia Enzoótica.

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