Para começar vamos considerar 3 premissas:
- Primeira: os mercados podem subir, baixar ou ficar mais ou menos na mesma.
- Segunda: com base nos fundamentais do mercado (colheitas, consumos, stocks de final de campanha...) e dependendo do momento em que nos encontramos podemos intuir a tendência do mercado.
- Terceiro, de uma forma geral, todos os operadores do mercado querem saber qual é o preço mínimo e máximo dentro de uma tendência.
A primeira é uma verdade inquestionável. No que à segunda concerne, embora sendo verdade não é frequente acertar, pelo menos no que ao imediato se refere, porque é influenciada por uma miríade de factores como taxas de câmbio, outros mercados de matérias primas, decisões políticas, decisões macroeconómicas, etc.
Relativamente à terceira, bom é impossível sabê-lo e muito mais improvável acertar. O que talvez seja uma sorte pois se fosse de outro modo não seria necessária a presença da maioria dos operadores com que trabalhamos neste mercado e passaríamos a engrossar as listas do desemprego.
Tudo isto vem a propósito do sentimento que muitas vezes experimentamos, de que não sabemos nada e não acertamos as nossas decisões de compra, não esqueçamos que aos outros (atrevo-me a dizer que a todo o mercado em geral) lhes ocorre o mesmo.
Bom, filosofia aparte, falemos dos mercados. Começamos pelo trigo, este tem se situado ao redor dos 200€/ton para posições de Agosto/Setembro/Outubro. A cevada recuperou os níveis de inicio de campanha (mais ou menos 210€/ton destino Lérida) e o milho está mais ou menos estável à volta dos 263€/ton sobre Lérida. E tudo isto porquê? Mudou a tendência? No meu entendimento a tendência mantém-se, mas a tempestade da dívida Americana (o pacto sobre o aumento do limite de endividamento, que muito embora ninguém acredite que não ocorra, nos faz dançar ao ritmo das manchetes), a tempestade Europeia (Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha, Itália, etc, os testes de stress e muitos outros problemas), os mercados estão baralhados e apesar das colheitas (sobretudo as Europeias, que não deixaram de melhorar e fala-se de níveis de produção aceitáveis na Rússia e na Ucrânia), não deixam que os fundamentais tenham tanto peso como o panorama político-económico
Além do mais como já comentámos no último artigo, estamos num momento complicado, nos portos há pouca mercadoria e a pouca que existe vai chegando a conta gotas. Esta vai ser a situação até ao final de Agosto, tendo em conta que o preço do milho segue em níveis proibitivos, os consumos de cevada e trigo são altos e sem possibilidade de os alterar a curto prazo.
Acho que em Agosto/Setembro os mercados vão serenar e podemos ter uma ideia mais clara do que nos esperará este Inverno, ainda que isto em pleno Agosto fica muito distante.
Resumindo tenho a sensação que estamos perante uma oportunidade de vender sobretudo cevada. Porque estamos de facto perante uma oportunidade de compra, o que quer dizer é que a cevada vai continuar a subir, se chegar aos 240€/ton, o trigo deveria cotizar à volta de 250€ e, quanto ao milho, é melhor nem pensar... Se não ocorre um milagre que faça subir o preço da carne, dos ovos e os produtos pecuários em geral... que Deus nos valha!
No que diz respeito à proteína esta segue de perto os cereais. Agora cotiza ao redor dos 300€/ton e pela enésima vez penso que a tendência não está clara e por isso se voltar a cotizar à volta dos 280€/tn deveríamos cobrir pelo menos parcialmente as nossas necessidades.
Escrito a 28 de Julho de 2011