30 de Dezembro de 2022
Apesar do aumento da procura, já habitual nesta altura do ano, a realidade é que a cotação não sofreu qualquer alteração na Bolsa do Porco nesta última quinzena de Dezembro e do ano, tendo ficado em 2,252€/kg carcaça.
Está por se saber qual o verdadeiro impacto da greve dos inspectores sanitários que ocorreu nesta última quinzena do ano, mas de uma forma geral, a oferta está ajustada à procura e tem alguma tendência de ser menor nas próximas semanas/meses.
Na realidade, estivemos em período de entrega de declaração de existências de suínos durante todo o mês de Dezembro e se Portugal não fugir á regra dos restantes países da U.E., deveremos ter menos efectivo no nosso país. O forte aumento dos custos de produção no ano que agora finda, aliado à incerteza do que poderá passar-se com uma esperada redução do consumo de carne nos tempos mais próximos em função da diminuição do poder de compra das famílias devido ao aumento dos preços ao consumidor são um factor de grande incerteza para os produtores de porcos e isso irá reflectir-se na oferta em 2023. Se esta redução da oferta é superior à redução da procura de carne, é a grande questão do momento.
Em toda a Europa haverá menos oferta de porcos em 2023 do que houve no ano que agora finda, com a Alemanha à cabeça. Neste país a redução de efectivo é muito significativa. Menos 10%, ou menos 2,5 milhões de animais em Novembro deste ano quando comparado a Novembro de 2021 e -18,2% (-4,75 milhões de cabeças) em relação a Novembro de 2020. Nos últimos 10 anos o efectivo total baixou quase 25%, ou seja, menos 7 milhões de cabeças e baixou 43,5% no número de explorações (-13 mil). A justificação, segundo os alemães, tem que ver com o aumento dos custos de produção, com as dificuldades de exportação para Países Terceiros que são inexistentes devido às restrições impostas pela existência de Peste Suína Africana na Alemanha e com a imposição de regras de bem-estar animal mais restritivas do que as da U.E. Também por estes ou outros motivos, a Dinamarca, a Bélgica, os Países Baixos e a Polónia também terão menos efectivo em 2023, ou seja, a oferta de carne de porco na Europa irá ser menor mas, reforço a minha dúvida colocada acima: será que a redução da procura será maior do que esta redução da oferta?
Há alguma expectativa no futuro próximo do mercado do porco na U.E., principalmente no volume de vendas para a China. Com o aumento do abate de porcas reprodutoras na China entre o Verão de 2021 e o Verão deste ano, os produtores esperavam poder vender os seus porcos a melhor preço este final de ano (também se aproximam as festividades do Ano Novo chinês), mas como o recrudescer dos casos de Covid naquele país e com o aumento dos confinamentos obrigatórios da população nas grandes cidades, os consumos foram inferiores ao esperado e, por isso, os abates também foram menores do que o expectável. Neste momento, os produtores chineses estão a “empurrar” porcos pesados para abate e este aumento da oferta poderá impedir a U.E. de vender mais carne para a China no início de 2023. A comprovar-se que a U.E. venderá menos carne de porco no início de 2023 para a China, veremos que impacto isto terá no total do mercado europeu.
No que se refere ao mercado europeu do porco, e tendo em consideração que o Natal e o Ano Novo calharam ao Domingo, estes dias feriado não tiveram grande impacto na redução dos abates, pelo que a fluidez na saída de porcos para abate e nas vendas de carne foi grande. Os pesos em carcaça continuaram a baixar, nalguns países com maior significado que noutros.
No que diz respeito à evolução das cotações europeias do porco, em Espanha a cotação manteve-se nesta quinzena em 1,645€/kg PV (2,194€/kg carcaça). Segundo os dados da Mercolérida, o peso aumentou cerca de 250g nesta quinzena. Teremos que aguardar pela primeira semana do ano para ver qual é a verdadeira evolução do peso dos porcos em Espanha.
Na Alemanha, a cotação manteve-se na segunda metade de Dezembro em 2,00€/kg. O peso desceu 800g para os 96,5kg carcaça nesta quinzena em função do bom ritmo de abate de porcos e da já mencionada redução da sua oferta. Prevê-se que não haja alteração na cotação até ao final da primeira semana do ano.
Nos Países Baixos a cotação manteve-se em 2,02€/kg carcaça nesta quinzena.
Na Bélgica a cotação também se manteve em 1,41€/kg PV.
Na Dinamarca a cotação baixou 0,05€/kg carcaça para 1,64€/kg carcaça na segunda metade de Dezembro. Apesar das vendas de carne serem boas quer dentro da Dinamarca, quer no que concerne às vendas para outros países da U.E., os envios para a Ásia, principalmente para a China, foram inferiores e isso afectou negativamente a cotação dinamarquesa. Há muitas reticências na Dinamarca sobre o que será o mercado do porco em 2023, já que haverá redução da oferta de porcos em todo a Europa, mas os dinamarqueses prevêem que os consumos, não só na Europa mas também nos restantes mercados de exportação, sejam inferiores e que isso traga dificuldades no escoamento de carne a partir da Dinamarca.
Em França, a cotação subiu 0,014€/kg carcaça para 1,821€/kg na segunda metade de Dezembro. Os pesos desceram 200g para 96,1kg e são 300g inferiores aos da mesma semana do ano anterior. Esta subida no final do ano, ainda que ligeira, é um sinal evidente de que a procura é superior à oferta de porcos, em função da redução de efectivo que vem ocorrendo em França nos últimos meses. Adicionalmente à menor oferta de porcos, os matadouros gauleses aumentam os abates para poderem responder ao aumento da procura de carne de porco de início de ano, já que é habitual haver promoções na venda desta carne em Janeiro.