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Há menos oferta de porcos e a sua cotação sobe em toda a Europa. E que impactos terá a guerra na Ucrânia?

Na segunda quinzena de Fevereiro a cotação dos porcos subiu 0,12€/kg carcaça na Bolsa do Porco.

2 de Março de 2022

Na segunda quinzena de Fevereiro a cotação dos porcos subiu 0,12€/kg carcaça na Bolsa do Porco. Há muito menor oferta de porcos em Portugal e na Europa, e isso reflecte-se nas subidas significativas e consistentes da cotação dos porcos em toda a Europa.

Como se passou de um excedente de porcos para abate e carne para vender para uma escassez que permite estas subidas com grande significado? Há, na minha opinião, 4 factores que justificam esta mudança de comportamento no mercado.

Desde logo, uma redução significativa dos efectivos reprodutores em quase toda a U.E. no ano 2021 e com grande significado nos maiores países produtores, que dá informação sobre o nível de produção para 2022. De acordo com os dados do Eurostat, e referentes às declarações de existências de suínos em Dezembro de 2021 (os dados de Espanha não estão incluídos nestes números), existiam menos 5,5 milhões de cabeças de suínos nos 10 países que forneceram dados entre os quais figuram a Alemanha (-2,5 milhões de cabeças), a Dinamarca, os Países Baixos, a Bélgica, a Polónia e a França. No que diz respeito ao efectivo reprodutor, a descida é de cerca de 7%, ou seja, menos 400 mil porcas reprodutoras.

Outro dos factores foi o enorme abate de leitões para assar que aconteceu por altura do Natal e Ano Novo, quer em Portugal quer em Espanha, leitões com origem em explorações que habitualmente produzem porcos de abate e irá começar a notar-se mais a falta destes porcos para abate a partir de Abril.

É de notar que, com a entrada em vigor do Regulamento que impede o uso de antimicrobianos como promotores de crescimento – Lei do Medicamento – tem havido um significativo aumento da mortalidade de leitões no pós-desmame em toda a Europa e isto irá traduzir-se numa ainda menor oferta de porcos para abate nos próximos meses.

E o terceiro factor, e não necessariamente o menos importante, é o brutal aumento dos factores de produção, seja o custo da alimentação, que já vinha desde finais de 2020 e que se agudizou durante o ano transacto, sejam os custos energéticos (electricidade, gás e combustível), sejam outros factores. Ora, era insustentável que os produtores pudessem aguentar muito mais tempo a vender os seus porcos muito abaixo do custo de produção e o preço de venda teria que subir. Neste momento os produtores continuam a perder dinheiro, mas as perdas são menores e o mercado encaminha-se para que estes possam sair de perdas.

Por outro lado, os matadouros estão com alguma dificuldade em poder, por enquanto, fazer repercutir, nos preços da carne, o aumento da cotação dos porcos e o aumento dos seus factores de produção, principalmente os energéticos. Pelo que sei, há facturas de energia eléctrica que triplicaram nos últimos 5-6 meses.

O quarto factor é a reabertura da economia dos Países naquilo que poderemos chamar (e coloco entre aspas” o “pós-Covid” ou o “pós-pandemia” – veremos se é “pós” ou não – com o alívio quase total das restrições anteriormente impostas. A reabertura completa dos espaços públicos (restaurantes, bares, discotecas, etc) e a livre circulação de pessoas, quase sem qualquer tipo de restrições, irá estimular o consumo em todos os países (já o está a fazer) e a possibilidade de que haja menor dificuldades em que os turistas possam viajar entre países, o que será um enorme estímulo ao consumo.

Mesmo com a menor exportação de carne de porco para a China (-20% entre Jan e Nov/21 em comparação com o mesmo período do ano anterior) houve uma compensação com aumento das exportações para outros países Asiáticos (Japão, Vietname, Coreia do Sul, Filipinas, Singapura) e daqui em diante, havendo menos oferta de carne no mercado da U.E., talvez seja suficiente manter, em 2022, o nível das exportações para Países Terceiros de 2021 para que o mercado europeu tenha um bom comportamento em termos económicos.

A contrariar todos estes factores positivos, temos a guerra na Ucrânia e os impactos negativos que a mesma irá ter no mercado do porco europeu e, principalmente, no português no que se refere ao abastecimento de matérias-primas. A Ucrânia representa cerca de 2% do destino de toda a carne de porco exportada pela U.E., sendo o seu principal fornecedor a Polónia. Parecendo que 2% tem pouco peso na quantidade de carne exportada pela U.E., em termos de volume a Ucrânia compra a mesma quantidade que os Estados Unidos ou o Vietname (veja-se a importância que se vem dando às importações vietnamitas no último ano). Portanto, o volume de exportação é de cerca de 130 mil toneladas, que não é um valor despiciente.

A Ucrânia é o maior fornecedor de milho a Portugal, com cerca de 40% do total importado e também nos fornece óleo de girassol, girassol, colza em grandes quantidades. Com o conflito naquele país, seguramente que haverá falhas no abastecimento destas matérias-primas para a alimentação animal, para além de, havendo falta, os preços virem a disparar ainda mais fazendo subir o custo alimentar.

Veremos como evoluirá o conflito e os seus impactos no futuro a curto e médio prazo e o impacto no fornecimento de matérias-primas para a alimentação animal em Portugal. Esperemos que a guerra termine com alguma rapidez, pois o prolongar no tempo trará enormes dificuldades a todos e que haja algum bom-senso e alguma contenção de alguns agentes económicos em Portugal para que não açambarquem matéria-prima deixando outros “a pé”, como se costuma dizer.

No que diz respeito à evolução das cotações europeias do porco, houve subidas generalizadas em todos os mercados.

Em Espanha a cotação subiu 0,084€/kg PV (+0,112€/kg carcaça) passando a cotação para 1,172€/kg PV (1,563€/kg carcaça). Os pesos desceram cerca de 650g nesta quinzena. Claramente a oferta de porcos, no país vizinho, é inferior à procura e irá continuar, pelo que a perspectiva é de que continuem a haver subidas na cotação dos porcos, subidas essas que irão influenciar positivamente o mercado português, evidentemente.

Na Alemanha a cotação subiu 0,12€/kg carcaça esta quinzena fixando-se 1,32€/kg. Houve uma ameaça dos matadouros que não iriam aceitar a primeira subida de 0,05€/kg que ocorreu na terceira semana do mês. Afinal, não só aceitaram como concordaram com uma subida de 0,07€/kg carcaça na última semana do mês, perfazendo, assim, os 0,12€ no total sinal de que a oferta de porcos pode ser vendida sem problemas, apesar da queixa dos matadouros que não conseguem transferir para a carne estas subidas dos porcos já que as vendas de carne não têm os estímulos necessários para poder permitir a subida dos preços. Os pesos baixaram 100g para os 97,2kg carcaça

Nos Países Baixos a cotação subiu 0,04€/kg carcaça para 1,32€/kg carcaça. A inesperada subida da cotação dos porcos da Alemanha foi o tónico para a subida nos Países Baixos. O desaparecimento do excesso de porcos permitiu estas subidas e irá levar a mais subidas nas próximas semanas, apesar de haver comerciantes de porcos que continuem cautelosos quanto à subida da cotação dos porcos.

Na Bélgica a cotação também subiu 0,12€/kg PV passando a cotação para 0,87€/kg PV.

Na Dinamarca a cotação subiu 0,03€/kg carcaça para 1,09€/kg carcaça. O mercado europeu da carne de porco continua relativamente parado e sem grande procura nem condições de subir preços. Apesar deste fraco comportamento do mercado da carne, há muito menor oferta de porcos para abate e os porcos atrasados (neste momento representam apenas 3 dias de abate na Dinamarca, quando o seu número já foi o equivalente a 3 semanas de abate) já foram praticamente todos absorvidos o que permitiu a subida, ainda que ligeira, da sua cotação.

Em França a cotação subiu 0,013€/kg carcaça para 1,286€/kg carcaça. Os pesos desceram 100g para os 96,4kg. O peso é cerca de 500g mais baixo que na mesma semana do ano passado. Começa a haver menor oferta de porcos em França, tal como acontece noutros países europeus e isso vai influenciando, positivamente, a evolução das cotações.

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