O Síndroma Reprodutivo e Respiratório Suíno (PRRS) é uma doença com um grande impacto sobre a produtividade das explorações suínas mas, como toda a gente sabe, é muito difícil medir este impacto de um modo preciso a nível de exploração porque devem ser tidos em conta muitos parâmetros:
- O tipo de exploração: Maternidade? Ciclo fechado? Transição e engorda? Engorda?
- A situação anterior da exploração relativamente a PRRS: referido o custo de uma infecção numa população não exposta ou o custo de uma infecção crónica?
- A dinâmica da circulação de PRRS: se a exploração está infectada cronicamente, é estável ou instável?
- A situação sanitária geral da exploração: a PRRS tem um impacto clínico menor numa exploração livre de Mycoplasma hyopneumoniae que numa infectada por Mycoplasma hyopneumoniae.
Neste artigo trata-se de proporcionar aos leitores uma ideia do custo da PRRS, em condições francesas, baseados em três estudos realizados nos últimos anos.
1. Em 2005, a ACERSA, uma organização nacional francesa, estimou o custo da introdução de vírus de PRRS numa exploração não exposta em 30 euros por porca reprodutora por causa do fracasso reprodutivo, os abortos e a mortalidade nas salas de parto. Nas fases de baterias e engorda, devido ao impacto sobre a taxa de mortalidade, a taxa de conversão e o GMD, o custo de PRRS ascendeu a 84 €/porca. Portanto, numa exploração francesa não exposta, o custo total da introdução de vírus PRRS deve acercar-se aos 114 €/porca durante o primeiro ano após a infecção.
2. Outro estudo recente foi levado a cabo pela OVS (organismo de vigilância sanitária) da Bretanha em 2007. Foi calculado o impacto económico da circulação de PRRS comparando 22 explorações:
- 6 negativas
- 6 com uma infecção "baixa" de PRRSV (explorações com programas vacinais nas porcas, sem circulação viral nas baterias e com circulação irregular na engorda).
- 6 com infecção "alta" de PRRSV (explorações com ou sem programas vacinais nas porcas, com circulação viral em todos os lotes de engorda analisados e alguns de engorda).
Os parâmetros estudados foram a conversão e o GMD desde o desmame até ao matadouro, o número de desmamados/porca/ano, o número de porcos produzidos/porca/ano, o número de nascidos totais, a percentagem de mortalidade nas baterias e engorda e o custo dos serviços veterinários e medicação por cada 100 kg de carcaça. Os resultados estão resumidos na tabela 1.
Tabela 1: Custo médio do PRRS por porca e ano e por 100 kg de carcaça, em 6 explorações com infecção "baixa" de PRRSv e 6 com infecção "alta", ao serem comparadas com 6 explorações livres de PRRSv (OVS da Bretanha 2007). IC: intervalo de confiança
Infecção "baixa" | Infecção "alta" | |||||
Média | IC 95% | Média | IC 95% | |||
€/porca/ano | 17 | 29,6 | 60,7 | 62,7 | 18,9 | 106,6 |
€/100 kg peso carcaça | 1,91 | 1,6 | 3,28 | 3,4 | 1,02 | 5,77 |
3. Foi calculado por nós o impacto económico de um protocolo de estabilização de PRRS (e em consequência, o custo de PRRS) numa das explorações que damos assessoria.
O estudo foi realizado numa exploração de 452 porcas de ciclo fechado da Bretanha, que trabalhava com 10 lotes (desmamando aos 21 dias e com partos a cada duas semanas). A reposição era comprada com 110 kg e permanecia em quarentena durante 7 semanas antes de entrar na exploração.
Após o diagnóstico de infecção por PRRSv no final de 2010, foi implementado um protocolo de estabilização entre Maio e Dezembro de 2011. Foram aplicadas as seguintes medidas:
- Uma vacinação massiva de toda a exploração em duas aplicações com um intervalo de 4 semanas (porcas, baterias e engorda) com uma vacina viva modificada.
- Uma vacinação dos lotes sucessivos, com duas aplicações após o desmame, com uma vacina viva modificada.
- Uma melhoria da biossegurança interna, especialmente do fluxo de porcos e humanos, higiene, uso de agulhas individuais e aclimatação da reposição.
Para saber o retorno do investimento, foi calculado o impacto económico do ganho em produtividade e o aumento da conversão.
Para isso standartizamos o preço da ração e o preço do kg de porco vendido com a média de ditos parâmetros entre 2010 e 2012.
A tabela 2 mostra o peso carcaça total produzido antes e depois do programa de estabilização e a evolução dos custos variáveis: a ração consumida e os custos de medicação (incluidos os do protocolo vacinal frente a PRRS estimado em 18.000 €). A margem foi estimada como a diferença entre as vendas e os custos variáveis (ração e custos sanitários).
Apesar do elevado custo do programa vacinal frente a PRRSv (40 €/porca em 2011), houve retorno desde o ano da estabilização, graças à melhoria tanto da produtividade como da conversão. Nesta exploração, o impacto económico da circulação do PRRSv foi estimado em 185 €/porca.
Tabela 2: Impacto económico de PRRS calculado mediante o retorno do investimento de um protocolo de estabilização.
2010 | 2012 | |
Número de porcos vendidos/porca presente/ano | 23,3 | 25,5 |
Peso porcos vivos produzidos/porca presente/ano | 2.719 kg | 2.886 kg |
Ganho extra/kg carcaça (€) | 0,156 € | 0,143 € |
Número médio de porcas presentes (2010-2011-2012) | 452 | |
Taxa de conversão | 2,93 | 2,74 |
Custos sanitários/porca (€) (vacinação frente a PRRSv incluída) | 148 € | 133 € |
Preço por kg (peso carcaça) médio (2010-2011-2012) | 1,30 € | |
Preço por kg (ração) médio (2010-2011-2012) | 0,24 € | |
Margem = [vendas] – [(custo ração + custo sanitário)] (€) | 437.776 | 522.063 |
Aumento da margem relativamente a 2010 (€) | 84.288 € | |
Aumento da margem por porca relativamente a 2010 | 185 € |
Conclusão e discussão
É bastante difícil falar sobre os custos da infecção por PRRSv devido a que o tipo de exploração, o seu estado sanitário e a dinâmica do vírus variam entre explorações dificultando muito a standartização de tal cálculo, inclusive dentro de um mesmo país. Nos 3 estudos apresentados, o custo da PRRS oscilava entre os 17 €/porca/ano e os 185 €/porca/ano!