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Importância da ordem da coinfecção entre PRRSv e PCV2

O presente artigo prova que, pelo menos “in vitro”, a ordem importa. Nos casos de infecções mistas PRRS/PCV2, quando a infecção por PRRS é anterior ou simultânea à infecção por PCV2, as consequências são piores que quando a sequência é inversa.

28 Janeiro 2015
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Artigo

The effect of infection order of porcine circovirus type 2 and porcine reproductive and respiratory syndrome virus on dually infected swine alveolar macrophages. Tsai YC, Chang HW, Jeng CR, Lin TL, Lin CM, Wan CH, Pang VF (2012). BMC Veterinary Research, 8:174

 

Resumo do artigo

O que se estuda?

Este estudo in vitro foi desenhado para determinar se a ordem da coinfecção entre PCV2 e PRRSv afecta a função dos macrófagos alveolares (AMs).

 

Como se estuda?

Utilizaram-se 12 porcos SPF (de 5-6 semanas de vida) aos que se realizou uma lavagem broncoalveolar com recolha de AMs. Depois foram aplicados seis diferentes protocolos de infecção dos AMs: PCV2, PRRSv, PCV2 + PRRSv (18h mais tarde), PRRSv + PCV2 (18h mais tarde), PCV2 + PRRSv (simultaneamente) e soro (controlo).

Para avaliar a funcionalidade dos AMs analisaram-se, em diferentes momentos pós-infecção, a viabilidade celular, os efeitos citopáticos, a percentagem de positividade aos antigenes, a capacidade fagocítica e de eliminação microbiana, os perfis de citoquinas e o nível de transcrição de FasL.

 

Quais são os resultados?

Observou-se uma diminuição transitória na taxa de fagocitose no grupo PCV2 relativamente ao grupo controlo. Contudo, observou-se uma diminuição da taxa de fagocitose em todas as avaliações pós-infecção para todos os grupos inoculados com PRRSv, que foi menor que a dos grupos controlo e PCV2. Por outra lado, a taxa de fagocitose a 90 ou 108 horas pós-infecção no grupo PRRSv foi menor que nos grupos onde a infecção com PCV2 foi anterior ou simultânea com PRRSv.

 

Horas pós-inoculação única ou primária do vírus

Cambios en la capacidad fagocítica de los macrófagos alveolares porcinos en diversos momentos post-infección por PCV2, PRRSv, PCV2 + PRRSv, PRRSv + PCV2, PCV2 + PRRSv

leyenda

Gráfico 1. Alterações na capacidade fagocítica dos macrófagos alveolares suínos em diversos momentos pós-infecção por PCV2, PRRSv, PCV2 + PRRSv, PRRSv + PCV2, PCV2 + PRRSv (simultaneamente) e um controlo. Os dados expressam-se como diferença percentual relativamente ao grupo controlo.

 

Uma infecção prévia ou simultânea por PCV2 poderia interferir ou obstaculizar, pelo menos parcialmente, a infecção por PRRSv. O PCV2 afectou a replicação de PRRSv mas também reduziu os efeitos adversos provocados por PRRSV sobre a capacidade fagocítica dos AMs suínos.

Contudo, quando a infecção por PRRSv se estabeleceu antes de que se inoculasse com PCV2, não se observou a inibição parcial da infecção pelo PRRSv (pelo PCV2). Ao invés, o PRRSv poderia potenciar a replicação de PCV2.

A capacidade microbicida dos grupos inoculados com PCV2 e/ou PRRSv (excepto PCV2 às 18 h pós-infecção) era menor que no grupo controlo. O grupo inoculado primeiro com PRRSv e depois com PCV2 mostrou uma capacidade microbicida relativamente menor que os grupos inoculados com PRRSv e os inoculados com PCV2 prévia ou simultaneamente com PRRSv.

 

Horas pós-inoculação única ou primária do vírus

Cambios en la capacidad de eliminación microbiana de los macrófagos alveolares porcinos en varios momentos post infección por PCV2, PRRSv, PCV2 + PRRSV, PRRSV + PCV2, PCV2 + PRRSV

leyenda

Gráfico 2. Alterações na capacidade microbicida dos macrófagos alveolares suínos em vários momentos pós-infecção por PCV2, PRRSv, PCV2 + PRRSV, PRRSV + PCV2, PCV2 + PRRSV (simultaneamente) e um controlo. Os dados expressam-se como diferença percentual relativamente ao grupo controlo.

 

Que conclusões se extraem deste trabalho?

Os resultados confirmam que as interacções de diferentes vírus (e momentos de infecção) são complicadas e podem causar vários quadros clínicos no campo.

O PCV2 poderia interferir com o PRRSv se chega antes de que o PRRSv tenha estabelecido uma infecção.

A reduzida capacidade microbicida dos AMs suínos em todos os grupos inoculados sugerem que a infecção por PCV2 e/ou PRRSv pode favorecer a multiplicação e a sobrevivência de outros agentes oportunistas ou secundários nos pulmões dos porcos.

 

Enric MarcoA visão de campo por Enric Marco

O complexo respiratório suíno afecta um elevado número de explorações. A clínica que observamos no campo, geralmente, é o resultado de distintas combinações de infecções de vírus e bactérias. Esta característica é a que explica que frequentemente o que encontramos na prática supera, em agressividade, as infecções individuais descritas na bibliografia.Para estabelecer planos profiláticos eficientes há que saber algo mais sobre a dinâmica destas combinações, pois a sequência das infecções pode ser determinante na agressividade e em qual deve ser a ordem a seguir na aplicação de medidas profiláticas.

O presente artigo prova que, pelo menos “in vitro” e no que concerne ao complexo respiratório, a ordem importa. Nos casos de infecções mistas PRRS/PCV2, quando a infecção por PRRS é anterior ou simultânea à infecção por PCV2, as consequências são piores que quando a sequência é inversa. Portanto, em casos de complexo respiratório (PRDC) a prioridade deveria ser o controlo da infecção pelo vírus do PRRS. Com um bom controlo do PRRS, ou seja, o que evitasse a produção de leitões virémicos, conseguir-se-ia retardar o momento em que se produz a recirculação viral e, em consequência, estariamos a alterar a sequência de infecção já que a circulação de PCV2 seria anterior à do PRRS. Ao consegui-lo, e de acordo com as conclusões do artigo, a capacidade fagocítica dos macrófagos alveolares ver-se-ia menos prejudicada e a capacidade microbicida também. Por outras palavras, os porcos teriam maior capacidade de lutar contra as infecções, tanto víricas como bacterianas. Como já comentámos em anteriores ocasiões, um correcto controlo do PRRS deve contemplar a homogenização do estado imunitário das porcas e para isso a correcta adaptação das marrãs é um elemento indispensável. Além disso, não se podem esquecer todas as medidas destinadas a evitar a difusão interna do vírus, entre as quais a principal é um rigoroso maneio dos lotes.

Convém relembrar que quando os porcos são afectados por um complexo respiratório, os únicos agentes patogénicos que actuam não são apenas víricos, mas também as bactérias (infecções secundárias) estão presentes e em muitos casos determinam a gravidade do processo. O controlo destas infecções secundárias deve apoiar-se, naturalmente, nos tratamentos antimicrobianos aplicados a tempo, ainda que se conseguissemos atrasar a recirculação do vírus PRRS, o próprio animal manteria uma capacidade de luta antimicrobiana superior melhorando-se os resultados obtidos.

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