1. O que podemos perder no transporte?
Carregar porcos é uma tarefa à que por desgraça damos pouca importância. Não costumamos ter em a conta que perder algo neste poto é perder mais de um ano de trabalho e, o que é pior, o seu valor económico.
Neste artigo veremos tudo aquilo que podemos perder com um mau transporte.
1.1. Perda de todo o porco (morte)
A morte do animal é o caso de perda mais extrema. Esta produz-se quando o porco se vê ante uma situação de stress à que não se pode adaptar e sofre um colapso do sistema circulatório.
1.2. Perdas na carcaça
Serão devdas à rejeição de uma parte da carcaça ou da totalidade da carcaça. Normalmente as rejeições são devidas a rasgos na pele, hematomas ou feridas mais profundas.
Poderiamos pensar que isto tem pouca importância já que a pele tem pouco valor mas não é assim, pelo menos perderemos o valor do seu peso (uns 4 kilos aproximadamente), mas ainda, segundo o destino final da peça, a pele tem muito mais valor já que nos faz desvalorizar toda a peça, o exemplo mais claro é o presunto.
Quando as lesões sejam mais graves, como hematomas, feridas, etc, pode-se produzir a rejeição da(s) peça(s) e/ou da carcaça inteira.
1.3. Perdas na carne
Se temos uma carne em más condições teremos que fazer um maior esforço tecnológico para conseguir algo de valor com ela ou, no pior dos casos, não a poderemos utilizar.
Os factores de stress durante a carga ou o transporte podem levar a uma acidificação muscular e, no caso de persistir, inclusive a morte (Ritter, 2009). Esta acidez é a que nos dá um pH menor que 5,8 ao abate e inferior a 5,4 às 24 h. Estas carnes costumam ser pouco úteis para a sua venda em “fresco” por terem mais perda de água ainda que se possam “aproveitar” com alguma “facilidade” em produtos cozidos. Também costumam ser más carnes para os produtos curados.
1.4. O factor humano
Se bem que exista bastante bibliografía no que se refere às perdas na parte animal, pouco se tratou do factor humano e da sua importância no transporte.
1.5. A exploração inteira (biossegurança)
No caso de que uma exploração sofra a entrada de uma doença de declaração obrigatória na que há que proceder ao abate de todos os animais, teríamos que considerar os seguintes pontos para poder valorizar as perdas:
- Custo do abate da totalidade dos animais.
- Custo da manutenção da exploração durante o período de vazio.
- Custo de arrancar de novo com a produção.
- Perda de beneficios durante o período de inactividade.
Num cenário menos desastroso pode-se produzir a entrada de uma doença que não seja de declaração obrigatória mas que possa ocasionar perdas económicas importantes para a nossa exploração.
2. O valor económico do que podemos perder
Para valorizar as perdas no transporte teremos em conta toda a cadeia de valor, começando pelas perdas ao nível da produção até chegar às perdas ao nivel do produto elaborado.
A seguinte tabela mostra valores médios de perdas por rejeição de diversas peças em distintos degraus da cadeia. Os custos a nível de produção baseiam-se na base de dados de Sip-Consultors e para valorizar o preço do matadouro e consumidor usámos os dados do observatório dos alimentos do MARM.
Produção | Matadouro | Venda | |
Rejeição pele cabeça | 0,33 | 1,6 | 8 |
Rejeição pele entremeada | 0,44 | 4,875 | 10,75 |
Rejeição pele lombo | 0,88 | 19,2 | 44 |
Rejeição pele presunto | 0,66 | 18,6 | 120 |
Rejeição cabeça | 4,4 | 1,6 | 8 |
Rejeição entremeada | 2,75 | 4,875 | 10,75 |
Rejeição lombo | 8,8 | 19,2 | 44 |
Rejeição presunto | 11 | 18,6 | 120 |
Rejeição total da pele | 4,4 | 15.2 | 18 |
Rejeição animal | 88 | 208 | 41 |
Vemos as possibilidades de perda vão desde o valor mínimo de 0,33 € no matadouro até aos 416 € em valor de venda.
Existe uma multitude de trabalhos que falam das perdas que ocasiona o transporte, mas todos se centram apenas na perda ocasionada na produção e não no possível valor desta perda. Neste sentido as perdas oscilam entre 0,05 % (Riches, 1996) e 2,39 % (Lewis, 2006).
Considerando as perdas na produção estimou-se que no ano 2006 nos USA perderam-se 46 milhões de dólares (Ritter, 2009).
Vendo o intervalo de variabilidade, é interessante poder dar um valor médio a estas perdas, que situaríamos em 0,22 % para os animais mortos e 0,44 % para os que não se movem, um total de 0,66 % (Ritter, 2009).
País | Ano | Mortes % | Referência |
Alemanha | 2003 2002 2001 2000 1999 1993 |
0,10 0,10 0,13 0,15 0,17 0,50 |
(Werner et al 2007) (Werner et al 2007) (Werner et al 2007) (Werner et al 2007) (Werner et al 2007) (Christensen, 1994) |
Itália | 1993 | 0,10 | (Christensen, 1994) |
Holanda | 1993 1980 1976 1976 1972 1968 1960 |
0,16 0,21 0,30 0,38 0,52 0,47 0,15 |
(Christensen, 1994) (Corstiaensen 1977) (van Logtestijn 1982) (van Logtestijn 1982) (van Logtestijn 1982) (van Logtestijn 1982) (van Logtestijn 1982) |
Portugal | 1993 | 0,16 | (Christensen, 1994) |
Espanha | 1992-1994 | 0,33 0,15 0,22 |
(Gonsalvez 2006) (Palacio 1996) (Guardia 1996) |
Reino Unido | 1994 1993 1991-1992 1961-1973 |
0,05 0,09 0,07 0,10 |
(Ritches 1996) (Christensen, 1994) (Warris and Brown) (Allen 1979) |
Bélgica | 1993 | 0,30 | (Christensen, 1994) |
Canadá | 2004 2004 2003 2003 2001 1996 |
0,12 0,10 0,07 0,09 0,17 0,14 |
(Haley, 2001) (Haley, 2001) (Sunstrum, 2006) (Benjamin, 2005) (Haley, 2001) (Murray 2000) |
República Checa | 1997-2004 | 0,11 | (Vecerek et al 2006) |
Dinamarca | 1998-2002 1996 1993 1984 1978 |
0,02 0,02 0,03 0,12 0,12 |
(Barton Gade et al 2007) (Barton Gade et al 1997) (Christensen, 1994) (Barton Gade et al 2007) (Barton Gade et al 2007) |
França | 1997 1995 |
0,07 0,08 |
(Colleu and Chevillon 1999) (Colleu and Chevillon 1999) |
Ritter, 2009
A variabilidade dos resultados é muito elevada oscilando em função do país e também do ano (0,07 % a 0,5 %).
As perdas no transporte podem-se dever a múltiplas causas, entre as mais importantes destacaremos o espaço, as patologias, a distância, a temperatura, a estação do ano, o jejum, o maneio na carga e o transporte e finalmente o desenho do camião.
3. Conclusões
Há muito trabalho para realizar em diferentes países na hora de reduzir as perdas ocasionadas no transporte.
Os resultados que vimos neste relatório dizem-nos que actualmente em zonas onde se trabalha com bons camiões e em boas condições podem-se chegar a perder 200 € por camião (considerando 2% de perdas), isto sem tener em conta a qualidade da carcaça e o valor destes animais à venda, onde o valor chegaria aos 800 € por camião. Resultados demolidores.