Já passou um mês desde o meu último comentário, e as coisas continuam iguais ou mais etéreas que nunca.
A prevista descida dos cereais esteve a ponto de acontecer há uns 10 dias, com descidas significativas tanto em Chicago (Cbot), como o Liffe ou o Matif. Mas os mercados conseguiram travar a descida respaldados tanto pelos conflitos que se propagam pelos países árabes como por outros problemas em países emergentes, o que propicia, entre outras coisas, a subida do petróleo.
As espadas continuam ao alto, os importadores continuam a dizer-nos que a reposição está cara, pero ao mesmo tempo os imediatos oferecem-se com descontos significativos, o que provoca que a mensagem altista não seja entendida pelo comprador. Por outro lado, estamos na época do ano de menor produção de ração no Hemisfério Norte, o que não ajuda nada à tomada de decisões. Porque um pouco mais ou menos, com as compras de Fevereiro e Março e algo Nacional ou francês, tem cobertas as necessidades de Abril.
Para terminar de baralhar, temos cevada para entregas Abril / Maio oferecida a níveis de 230-235 €/ton em Lérida e a 232-237€/ton na zona de Barcelona. Esta oferta provém da intervenção Europeia e por isso chega a preços tão atractivos.
Bruxelas, finalmente, decidiu-se pela eliminação do levy de 12€/ton mas de momento o seu efeito nos preços tem sido nulo.
Outro factor a ter em conta é a subida do preço do petróleo que como é lógico tentarão que se materialize também numa subida de fretes e transporte em geral.
Como corolário temos as divisas a continuar o seu baile particular, ao compasso que marcam as notícias económicas, sejam os conflitos árabes, problemas vários ou a indefinição do yuan chinês.
A tudo isto cada vez fica menos tempo para chegar à nova colheita e isso deveria pesar sobre os stocks finais, mas de momento não se nota. Falando de stocks finais, segundo o International Grains Council chegaremos ao final da colheita com umas existências de trigo de 18 milhões de toneladas. Dito de outro modo, com uma cobertura de aproximadamente 28% do consumo, o que é uma percentagem suficiente e cómoda. No que diz respeito ao milho, os stocks no final da campanha situam-se em 119 milhões de tons., o que supõe uma cobertura de 14%, uma percentagem bastante baixa. Apesar disso, pelo menos na Europa, continuamos a ter mais oferta e preços mais competitivos de milho que de trigo. Resumindo, deveremos continuar vigiando as armas à espera que o mercado se defina.
Se o complexo de cereais está como está…o da proteína nem vale a pena falar. Continua-se sem tomar decisões nem a médio nem a longo prazo: continuamos com coberturas curtas de pouco mais de um mês. Verdade seja dita, as ofertas para posições mais longas estão a preços similares aos das entregas imediatas, o que não convida a tomar decisões. É por isso que ninguém se atreve a cobrir longos prazos com preços a níveis de 330€/ton. e ainda por cima estando às portas de nova colheita, na que há uma produção récord mas também um consumo récord, o que não facilita a existência de movimentos significativos. A subida do petróleo também mantém as expectativas de máxima produção de biodiesel e isso também contribui para que ninguém se mova demasiado, porque "o que se mexe muito, não sai na fotografia"….ou o que é pior, sai tremido.
Por outro lado, a farinha de colza depois da paragem invernal começa a mover-se e já se oferece colheita nova (a partir do mês de Agosto) a níveis de 215- 210 €/ton. no armazém porto. De momento ainda não parecem preços muito atractivos, mas com o aumento da produção prevista para a Europa, os preços deveriam continuar a ceder, pelo que poderíamos ter outra fonte de proteína a preços competitivos.
Para terminar o girassol de alta proteína (entre 34-36 %) continua, ou melhor dito, deveria seguir os passos da colza.
Escrito em 02/03/2011