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Caso clínico: Infecção pulmonar poli-microbiana

As infecções pulmonares podem ser causadas por diferentes agentes ao mesmo tempo

4 Outubro 2004
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Descrição da exploração




Trata-se de uma exploração de ciclo fechado com 600 porcas situada numa zona de França com baixa densidade porcina: a exploração conta com:

  • Maneio semanal
  • Desmame aos 21 dias (20 bandas)
  • Fabrico do alimento na própria exploração
  • Reposição própria

Origem das primíparas: Na exploração entram avós, a partir das quais se criam as fêmeas para reposição, as quais se separam dos animais de produção aos 18 kg.

Aos 180 dias transferem-se para uma quarentena onde permanecem até aos 250 dias após os quais são inseminadas numa sala de cobrição especial (35 lugares) e depois são transferidas para as salas de gestação.

Alojamentos:

Varrascos Cobrição Gestantes Maternidade
6 varrascos em produção 180 porcas alojadas em jaulas individuais 180 porcas em jaulas individuais
170 porcas em grupos (grupos de 10)
4 parques de 30 lugares

Transição Crescimento Engorda
4 parques de 280 lugares
(ar filtrado)
4 parques de 300 lugares
(alimento seco)
(construção antiga)
19 parques de 280 lugares
(alimentação líquida)
(construção recente)

A sucessão dos pavilhões é coerente, existe sempre uma ligeira sobredensidade na transição.


Situação sanitária da exploração




Antecedentes

A exploração é indemne para Aujeszky e PRRS.

Em Junho de 2000 detectou-se um aumento da mortalidade na engorda passando de 3 para 5%, afectando maioritariamente os porcos que se encontravam no final desta fase. No matadouro detectou-se um aumento importante das rejeições (até 10% por lote) devido a pleuresias com abcessos. Decidiu~se enviar amostras pulmonares de animales que ainda se encontravam na exploração e de animais abatido para o laboratório. A análise bacteriológica acusou a presença de Actinobacillus pleuropneumoniae biovar 1 serovar 2 (B1S2). Após esta descoberta decidiu-se vacinar os animais com uma autovacina seguindo o seguinte protocolo vacinal:

  • Leitões: 2 injecções às 6 e 10 semanas de vida.
  • Primíparas: 2 injecções às 6 e 10 semanas de vida e 1 de rappel à entrada na quarentena.
  • Porcas: 2 injecciones às 6 e 3 semanas antes do parto e em ciclos posteriores às 3 semanas antes do parto.

Ao fim de vários meses observou-se uma reducção da mortalidade e das rejeições. Contudo, no matadouro continuaram-se a observar lesões de pleuresia (até 30% dos pulmões).

Profilaxia e tratamento

Profilaxia
Porcas Mal Rubro: primíparas 2 vezes + rappel na maternidade (15 dias depois do parto)
Parvovirus: primíparas 2 vezes + rappel na maternidade
Leitões Micoplasma: 2 injecções aos 5 e 27 dias de vida
Tratamento
Amoxicilina (20 mg/kg) no primeiro dia de vida
Alimento de primeira idade com suplemento de calistenia (120 ppm)



Visita à exploração




Durante o Verão de 2002, o produtor avisa o veterinário após observar presença de animais fracos e tosse no pavilhão de transição em animais entre 5 a 6 semanas de vida, perdas de 6 a 8% devido a mortalidade e sacrificio de leitões com atrasos de crescimento e aumento do número de rejeições por pleuresia no matadouro.

Medidas cautelares

O veterinário decide tomar as seguintes medidas cautelares: tratar os leitões no momento do desmame cmn cefquinoma (2 mg/kg) por via parenteral e um suplemento de 400 ppm de amoxicilina na dieta de primeira idade.


Segunda visita à exploração




Na semana seguinte voltou-se a visitar a exploração e visitaram-se todos os pavilhões:


Quarentena
Cerca de 20% das primíparas apresentavam tosse.
Ausência de imunização digestiva ou respiratória.
Observou-se um desenvolvimento normal dos animais e sem problemas na entrada em cio.
Varrascos - gestação
Sem problemas de entrada em cio.
Fertilidade: 85%.
Ausência de tosse.
Maternidade
Resultados reprodutivos correctos.
Bom comportamento maternal das mães.
Diarreia neonatal sobretudo nas ninhadas procedentes de primeiros partos (nalgunas ninhadas a mortalidade é muito elevada).
Nas 2 últimas bandas observa-se uma forte tosse aos 15 das de vida (15% em 2 minutos) assim como artrite (3% dos leitões).
Transição
Presença de tosse nos animais de 6 semanas de vida (30% em 2 minutos) desde há 1 mês com atrasos no crescimentos e mortalidade entre 6 e 10%.
Ausência de sinais digestivos.
Cumprimento das normas técnicas e ambiente correcto.
Crescimento
Ausência de sintomas digestivos ou respiratórios.
Heterogeneidade nos animais devido aos problemas observados na transição.
Engorda
Até 80 kg: Normal
A partir de 80 kg: os porcos apresentam anorexia de curta duração (1 a 2 dias) e tosse forte (15% em 2 minutos).
Ausência de mortalidade. Rejeições parciais no matadouro sobre um grande número de carcaças (7-8%).

Exames complementares

Decidiu-se realizar um controle sobre um número significativo de carcaças no matadouro para ter uma ideia precisa da frequência das lesões observadas e origens das rejeições.

Por outro lado, praticaram-se alguns exames de laboratório para conhecer a origem das desordens e lesões observadas:

  • Necropsias
  • Análises bacteriológicas
  • Análises serológicos para PRRS
  • PCR para circovirus sobre lesões


Resultados dos exames



Resultados dos controles no matadouro

A maioria dos controles realizaram-se durante o mês de Setembro, em termos médios, entre 80 a 90% dos pulmões não apresentaram pneumonia enquanto que entre 30 a 50% apresentaram lesões de pleuresia. Entre 7 a 8% das cavidades torácicas foram rejeitadas.


Pulmão colapsado (sem abcesso)


Pulmão com lesão de pleuresia com abcessos

Exames laboratoriais

Leitões em lactação: realizou-se a necropsia em laboratório de leitão de 15 dias de vida. Observou-se presença de pneumonia e pleuresia leve. Isolou-se Bordetella bronchiseptica dos pulmões.

Leitões na transição: 3 leitões não tratados que tinham começado a apresentar sinais clínicos (tosse, emagrecimento) foram abatidos e enviados ao laboratório.

Necropsias:


Leitões de 40 dias necropsiados
  • Exame circulatório e hemato-linfopoiético (coração, baço): Normal
  • Aparelho respiratório:
    • Corte nasal: normal.
    • Pulmões: lesões de pneumonia nos lóbulos (hepatização). Notas globais 10 a 22/28.
    • Pleuresia num dos leitões.
  • Aparelho locomotor: observa-se de forma geral uma ligeira inflamação de uma ou mais articulações.
  • Aparelho digestivo: normal

Pulmões com presença de lesões de pneumonia a nível dos lóbulos apicais e cardíacos. Ausência de pleuresia.


Hepatização encarnada e atelectasia do tecido pulmonar


Bacteriologia:

  • Pulmões: Isola-se Haemophilus parasuis em 2 de 3 leitões (nas lesões de pneumonia).
  • Articulações: Não se evidenciou a presença de nenhum gérmen significativo nas lesões de artrite.
  • Bacteriologia sobre pulmões recolhidos no matadouro: isolou-se; Actinobacillus pleuropneumoniae B1S2.

Análises serológicas para PRRS

  • Realizaram-se serologias em 10 leitões de 25 kg e 10 porcos de engorda de 100 kg e todas as análises foram negativas.

PCR para circovirus sobre lesões

  • PCR Circovirus tipo 2 sobre pulmões e gânglios: todas as análises foram negativas.

Diagnóstico



Devido à ausência de PCV2 nos tecidos lesionados a circovirose foi excluida das hipóteses sobre o diagnóstico, de forma que os sintomas de atraso no crescimento observados na transição provavelmente não se podem ligar com presença do sindrome do atraso de crescimento (PMWS).

O isolamento de Bordetella bronchiseptica de pulmões de um leitão lactante, de Haemophilus parasuis nas lesões de pneumonia de leitões na transição e de Actinobacillus pleuropneumoniae nas lesões de pleuresia dos pulmões recolhidos no matadouro fez suspeitar de uma infecção pulmonar multifactorial.

Medidas tomadas e Evolução 1. Alojamento das primíparas na quarentena:

  • Contaminação digestiva: exposição a excrementos de porcas na maternidade de 2 a 3 vezes por semana durante toda a quarentena.
  • Contaminação respiratória: contacto nariz com nariz com uma porca de refugo (em bom estado de saúde).

2. Instauração de uma nova autovacina:

Reprodutores:

  • Actinobacillus pleuropneumoniae B1S2 (estirpe isolada em Outubro de 2002).
  • Haemophilus parasuis (estirpe isolada em Novembro de 2002).
  • Bordetella bronchiseptica (estirpe isolada em Novembro de 2002).

    ==> 2 injecções (5 ml) nas porcas às 6 e 3 semanas antes do parto e em ciclos posteriores uma 3 semanas antes do parto.

    ==> 2 injecções (2 ml) nas primíparas às 7 e 11 semanas de vida e dose de rappel (2 ml) à entrada na quarentena.

    Demais animais:
  • Actinobacillus pleuropneumoniae B1S2 (estirpe isolada em Outubro de 2002).
  • Haemophilus parasuis (estirpe isolada em Novembro de 2002).

    ==> 2 injecções (2 ml) às 7 e 11 semanas de vida.

    Observação: a vacinação atrasou-se uma semana com a finalidade de proteger os porcos durante o maior tempo possível.

3. Instauração de tratamentos antibióticos nos leitões à espera do efeito esperado da vacinação.

  • Leitões lactantes: amoxicilina (20 mg/kg) durante o primeiro dia de vida via parenteral + Oxitetraciclina LO (30 mg/kg) no momento do desmame por via oral.
  • Leitões na transição: suplementação da dieta de primeira idade com 400 ppm de amoxicilina.
  • Crescimento: nenhuma intervenção.
  • Engorda: marbofloxacina (2mg/kg) 3 vezes com um intervalo de 24 horas nos animais que tenham sintomas até aos 150-160 dias de vida.

4. Desinfecção do ambiente

  • Com a finalidade de diminuir a pressão de infecção no ar nos pavilhões de transição, crescimento e engorda, uma vez por dia pulveriza-se um desinfectante.


Evolução do caso



Na actualidade a patologia ficou estabilizada graças à prevenção mediante antibióticos. Deverá realizar-se um acompanhamento dos resultados durante os meses seguintes com a finalidade de poder avaliar o efeito da auto-vacinação e da contaminação das primíparas.


Comentários



O caso aparece numa exploração de ciclo fechado e deve-se a uma infecção pulmonar polimicrobiana (Actinobacillus pleuropneumoniae, Haemophilus parasuis y Bordetella bronchiseptica). Este caso da lugar à posteriori a vários comentários:

O esquema seguinte resume o papel dos diferentes agentes patogénicos existentes nesta exploração:





As primíparas, ainda que procedam da messma exploração (auto-substituição), possuem um microbismo próprio e portanto um status imunitário muito diferente ao das porcas que se encontram em producção. É por isso que se torna necessário conseguir uma imunização ao nível digestivo e respiratório. Desta forma, as primíparas desenvolvem uma imunidade que poderão transmitir aos seus leitões após o parto. Mediante este tipo de medida espera-se oferecer uma melhor protecção aos leitões contra os gérmenes digestivos (responsáveis pela diarreia) e gérmenes respiratórios (responsáveis pela tosse na maternidade e na transição.

As primíparas são portadoras de Actinobacillus pleuropneumoniae B1S2 e a autorenovação é um obstáculo para o saneamento da exploração. Neste ponto devemos perguntar a nós mesmo sobre que medidas nos permitirão parar a circulação deste gérmen entre os reprodutores, ¿a autovacinação será suficiente?

A PCR para circovirose permitiu-nos confirmar a ausência de PMWS. Este método, ainda que controverso, pareceu ser uma ferramenta interessante no diagnóstico desta patologia.

Relativamente a Haemophilus parasuis, este mostrou ter uma virulência particular na transição nesta exploração indemne para PRRS e PMWS. Chegados a este ponto poderíamos perguntar pela existência de estirpes de Haemophilus parasuis hiperpatogénicas.Por otro lado, ¿que importância devemos conceder à presença de Bordetella neste caso?

Comentários ao artigo

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