O nosso mercado tem um comportamento cíclico já que se cimenta nas colheitas, ou seja, ano após ano repete-se. Não obstante, e para que não seja tão fácil, tal como as colheitas, cada ano é diferente. A que propósito vem isto? Pois para tentar clarificar um pouco o comportamento do mercado do mês de Dezembro.
Já tínhamos comentado que a princípios do ano, antes da Primavera, deviam resituar-se os preços e comentávamos os motivos. O mercado não pode subir permanentemente, os fundos davam sinais de querer alterar as tendências, todas as notícias estavam sobre a mesa, as previsões para as próximas colheitas eram boas (ou pelo menos isso iam dizendo os ralatórios), etc. Pois o mercado decidiu resituar-se antes de tempo, não esperar por Fevereiro/Março e começar a descida em Dezembro. Como sempre são um cúmulo de factores os que afundaram a descida: portos cheios a deitar por fora de mercadorias e previsão de novas chegadas, mercado comprador com coberturas a 90% para Dezembro/Janeiro, e sobretudo (e para mim o detonador), o facto de que republicanos e democratas nos Estados Unidos não se puseram de acordo sobre o chamado “abismo fiscal” motivaram a debilidade do dólar, passando a sua cotação de 1,28- 1,29 para cerca de 1,32. Em resumo, só devido ao “factor divisa” os cereais cederam cerca de 8-10 €/Tm e a soja cerca de 12-14 €/Tm. O somatório de todos estes factores foi favorável a que o preço dos cereais tenha diminuído perto de 16 €/Tm (exceptuando a cevada, que devido à inexistência de oferta cedeu menos), por outro lado, a soja deixou pelo caminho a módica quantia de 35 €/Tm.
Agora estamos num “compasso de espera", no momento e a curto prazo continuarão a pesar as coberturas, continuaremos a ver vontade de vender por parte dos importadores, pressionados pela falta de espaço nos portos. Para o médio/longo prazo as coisas estão menos claras, para não dizer que estão escuras de todo:
- Prevê-se que os preços da carne, em geral, não serão baratos, sobretudo na Europa devido à falta de oferta (motivada também pela aplicação das normativas sobre bem-estar animal).
- Seguindo a lógica de mercado, estes anos atrás depois da descida de preços a partir de Março, depois subiam e não cediam até chegarem as novas colheitas. Este ano poderia também adiantar-se a história e ser diferente a partir de Fevereiro. Não olvidemos que os fundamentais não mudaram, a nível mundial os números sobre as colheitas são bastante ajustados e os stocks de final de campanha de milho e trigo reduzem-se.
- Ninguém o comenta mas temos que ter presente que em Espanha a colheita foi 5 milhões de toneladas menos, sobretudo de cevada e trigo. Isto obrigará a todo o interior a ir abastecer-se aos portos quando chegarem ao fim os cereais da colheita. Este factor nunca é baixista.
É por isto que me atrevo a aventurar, ainda com o risco de me equivocar, que ao dia de hoje seria prudente e acompanharia o mercado de perto, tendo claro que se deveria aproveitar este momento, não hoje, mas também nas próximas semanas, para marcar posições e comprar até à campanha.
Falemos agora da soja, o panorama não difere muito. A nova colheita do Hemisfério Sul (Brasil e Argentina basicamente) chegará em Abril, com efeitos práticos no nosso mercado em Maio. A nova colheita apresenta um aumento muito importante de produção como já comentámos. É por isso que se prevê uma descida importante de preços a partir da nova colheita. Ao dia de hoje a soja de Maio a Dezembro pode-se conseguir a 360-365 €/Tm, ou seja, 50-60 €/Tm abaixo dos preços actuais. Ainda não está claro que se deva tomar posições. Resumindo, os próximos quatro meses devemos cobri-los mais ou menos para o dia. Vigiando bem de porto as divisas não venham estas a subir, o que afectaria directamente os preços. Também para ir aproveitando oportunidades já que até que cheguem as colheitas a única origem que dispomos é dos Estados Unidos e a sua campanha não foi brilhante, o que pode favorecer em algum momento movimentos especulativos importantes.
No que diz respeito à colza, entendemos que até à chegada da nova campanha (em Agosto) a sua utilização será pouco significativa por quanto a colheita foi curta e os preços não são competitivos quando comparados com os da soja.
8 de Janeiro de 2013