28 de Maio de 2021
Tal como era previsível (se é que hoje em dia se podem fazer previsões sobre alguma coisa no mercado agro-alimentar) e é habitual por esta altura do ano, a cotação dos porcos subiu. Todos os agentes de mercado sabem que começa o período em que a oferta de porcos é menor e em que os consumos aumentam (veremos se este ano será assim no que ao aumento dos consumos diz respeito).
Na realidade, o aumento do consumo que, a pouco e pouco, vai acontecendo tem que ver com o levantamento dos desconfinamentos que vão ocorrendo um pouco por toda a Europa, com a abertura da restauração, com o aumento das vacinações contra a Covid -19 que permitem que as regras de confinamento se vão afrouxando paulatinamente e a melhoria das condições climatéricas que permitem que se comecem a fazer algumas churrascadas nos países do Norte da Europa. Todas estas situações permitem que as famílias se vão juntando, apesar de ainda haver algumas restrições em vigor, e que aumentem os consumos de carne de porco.
As subidas significativas da cotação dos porcos que aconteceram no Norte da Europa (Alemanha, Holanda e Dinamarca) acabaram por ajudar o mercado espanhol que também acabou por subir a sua cotação, ainda que de forma menos expressiva. Em todo o caso, não há que esquecer que a cotação espanhola está muito acima das cotações daqueles países do Norte e que qualquer subida nesses países acaba por trazer menos pressão à cotação espanhola.
Em Portugal, a Bolsa do Porco subiu 0,07€/kg carcaça na segunda quinzena de Maio, seguindo os restantes mercados da Europa, mas principalmente seguindo o mercado espanhol que é o que influencia mais o mercado português. A oferta vai-se reduzindo e isso leva a uma redução dos pesos de abate. Por outro lado, a menor oferta de porcos para abate irá permitir que a indústria tenha necessidade de colocar menos carne de porco no mercado nacional e, com isso, aliviar a pressão sobre os preços da carne que se continua a vender mal no mercado interno.
Em Espanha faltam porcos para as necessidades dos matadouros e o mercado do país vizinho divide-se em matadouros que exportam para Países Terceiros e aqueles que vendem para o mercado interno espanhol e europeu. Havendo menos porcos, estes acabam por subir apesar dos matadouros espanhóis continuarem a ir comprar os porcos que necessitam a Portugal, a França, à Holanda, à Alemanha e à Bélgica. Os espanhóis compram porcos onde os há e a preços convidativos (os porcos nestes países são mais baratos que em Espanha) e, em função disto, os matadouros têm carne a preços mais competitivos para colocar no mercado interno, enquanto que os matadouros que exportam para Países Terceiros optam por abater porcos nascidos e criados em Espanha, visto que esta é uma exigência desses mercados, principalmente da China.
Em todos os países europeus há redução da oferta de porcos ainda que o consumo de carne não tenha crescido o suficiente para estimular o aumento da cotação. A subida da cotação ocorre pela redução da oferta de porcos para abate e não pelo aumento do consumo de carne. Os produtores começam a reter alguns porcos, como é costume, já que sabem que na semana seguinte venderão os seus porcos com mais peso, mas sobretudo, mais caros o que lhes permite aumentar margens.
Apesar deste tendencial bom comportamento do mercado europeu do porco e de as exportações para fora da U.E. continuarem a bom ritmo, há maior pressão da China no sentido de comprar carne mais barata na Europa e, evidentemente em Espanha, já que a cotação dos porcos na China tem baixado significativamente (quase 50% de descida) nas últimas semanas tendo passado de cerca de 5€/kg PV para 2,59€/kg PV. Este é um ponto importante a ter em conta pois pode implicar um travão na subida das cotações dos porcos na Europa. Veremos que implicações terá esta pressão chinesa.
Um dado a ter em conta no mercado da Europa do Norte tem que ver com a ocorrência de 2 feriados na segunda quinzena de Maio (Quinta-Feira da Ascensão e Pentecostes) o que reduziu a capacidade de abate. Todavia, estes feriados não trouxeram dificuldades no escoamento de porcos e na evolução positiva das cotações.
No que diz respeito às cotações europeias:
Em Espanha a cotação subiu 0,048€/kg PV (+0,064€/kg carcaça) para 1,518€/kg PV (2,024€/kg carcaça). Os pesos desceram cerca de 350g nestas duas semanas e estão 1,3kg abaixo do peso ano passado nesta mesma altura.
Na Alemanha a cotação subiu 0,12€/kg carcaça para 1,54€/kg carcaça. Os pesos de carcaça baixaram 1 kg para 96,5kg. O mercado está dominado pela escassez de porcos havendo aumento da procura por parte dos matadouros. Essa escassez reflecte-se, evidentemente, na descida do peso de abate. Aliás, o peso dos porcos é mesmo inferior ao do ano passado por esta mesma altura e inferior ao peso de 2019. Com a reabertura da actividade económica, o mercado do porco ganha novo impulso que se reflecte na cotação dos porcos e na melhoria da venda de carne. Em todo o caso, e como é habitual, as cotações de verão na Alemanha deverão ficar abaixo das cotações de Espanha, apesar da melhoria do mercado interno alemão.
Na Holanda a cotação subiu 0,05€/kg carcaça para 1,68€/kg carcaça. A oferta de carne vai-se reduzindo, fruto da boa exportação holandesa para a China e o mercado holandês vê-se num dilema de ter que subir a cotação dos porcos devido ao aumento das vendas para China, mas a ter alguma dificuldade em fazê-lo devido à pressão da carne de porco alemã a preços ainda baixos. O que é verdade, é que o comércio internacional de carne de porco está num bom nível e isso ajuda à subida da cotação dos porcos na Holanda.
Na Bélgica a cotação subiu 0,13€/kg PV para 1,07€/kg PV.
Na Dinamarca a cotação subiu 0,09€/kg carcaça para 1,57€/kg carcaça. A oferta de porcos não é forte, mas o consumo interno de carne de porco ainda é relativamente fraco devido à covid-19. Os pedidos de carne oriundos do Sudeste Asiático e da China são bons e a bons preços, mas alguma retracção dos consumos internos não permitem que o comércio da carne esteja mais aliviado.
Em França a cotação subiu 0,003€/kg carcaça para se situar em 1,544€/kg carcaça. Os pesos subiram 600g para os 96,1kg, em função dos 2 feriados que ocorreram nesta quinzena, e estão 540g abaixo dos pesos do ano passado na mesma semana. O mercado está equilibrado entre a oferta e a procura o que não permitiu oscilações na cotação para acompanhar as subidas generalizadas dos mercados europeus.