Chegámos ao fim desta série de artigos sobre o maneio de vacinas. Tentámos abordar todos os aspectos relacionados que devem fazer com que estas vacinas funcionem no nosso sistema. No entanto, queremos encerrar esta série falando sobre a razão pela qual por vezes falamos de “falha da vacina” ou dizemos que não temos a certeza de que as vacinas estão a funcionar, total ou parcialmente.
Quando isso acontece, muitas vezes olhamos para a vacina e para uma falha na protecção que ela gera, mas, em muitos casos, essa falha provém de uma utilização ou manuseamento inadequados das vacinas.
![](https://www.3tres3.com.pt/3tres3_common/dist_nou/css/images/imb5.png)
Principais causas de falha vacinal
DIAGNÓSTICO
Os erros de diagnóstico conduzem a decisões incorrectas. É importante recordar que a detecção de um agente infeccioso nem sempre é sinónimo de que este é responsável pelo problema clínico observado.
A selecção da vacina contra o agente patogénico responsável pelo processo será fundamental para garantir o sucesso do tratamento do problema clínico.
O objectivo da vacinação também será fundamental:
- se quisermos alcançar a imunidade da população, faremos uma vacinação geral para reduzir a transmissão horizontal;
- se quisermos imunizar os leitões e reduzir a transmissão vertical da doença, vacinaremos por idade e por períodos de produção específicos.
MOMENTO DE APLICAÇÃO
É essencial conhecer e controlar a dinâmica da doença dentro da população, que é diferente em cada exploração, pelo que é necessário monitorizá-la e escolher o momento certo para a aplicação da vacina, de modo a que a imunidade possa ser gerada antes de os animais entrarem em contacto com o(s) agente(s) patogénico(s) e ser eficaz. Os problemas que podem ocorrer são:
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vacinar demasiado perto da apresentação da doença ou demasiado tarde;
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vacinar os leitões demasiado cedo na presença de anticorpos maternos pode levar a um bloqueio dos antigénios da vacina, causando uma diminuição dos títulos de anticorpos no sangue do leitão e reduzindo a eficácia da vacina pelo que, para evitar esta situação, deve ser considerada a altura ideal de vacinação, tanto dos leitões como das porcas;
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vacinar em situações de stress que conduzam à imunossupressão;
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vacinar as porcas demasiado cedo ou demasiado tarde para proteger os leitões de processos entéricos, uma vez que necessitamos de protecção na primeira semana de vida.
FLUXO DE PRODUÇÃO INCORRECTO
Uma exploração mal planeada e gerida, com lotes de idades misturadas, densidades populacionais excessivas e uma gestão deficiente do tipo “tudo dentro e tudo fora” pode aumentar a pressão da infecção e reduzir a eficácia da vacina. A mistura de idades pode predispor a que uma percentagem de animais não receba vacinas ou as receba no momento errado.
ESTADO SANITÁRIO DOS ANIMAIS
ANIMAIS FRACOS: Uma má condição corporal ou um porco que não satisfaz todas as suas necessidades não gerará uma resposta imunitária eficaz após a vacinação. Se o número destes animais na nossa população de suínos for elevado, não conseguiremos uma boa imunização do efectivo.
- ANIMAIS DOENTES: Animais doentes têm uma resposta imunológica pior e isso pode piorar a resposta à vacinação. É muito importante verificar o estado de saúde da população e, se estivermos a passar por um processo patológico, não vacinar, dando prioridade à recuperação dos animais. Um exemplo claro disso é evitar vacinar animais em épocas de recirculação do PRRSv, pois isso pode interferir no estabelecimento da imunidade.
A presença de doenças subclínicas, como algumas patologias digestivas, também desempenha um papel importante numa resposta imunitária deficiente.
![Foto 1. Parque de animais doentes.](https://www.3tres3.com.pt/3tres3_common/art/pt/17310/leitão-apatico_299825.jpg?w=820&q=1&t=1738143282)
CONSERVAÇÃO: NÃO RESPEITAR A CADEIA DE FRIO
Vários problemas com o armazenamento da vacina (temperaturas altas ou baixas, congelamento, humidade não controlada, etc.) podem levar à falha da vacina. Podem rever todos os pontos a seguir no segundo artigo desta série.
![Foto 2. Esquerda: Conservação correcta de medicamentos. Direita: As instalações de recepção de medicamentos asseguram a manutenção da cadeia de friio.](https://www.3tres3.com.pt/3tres3_common/art/pt/17310/ma-conservacão_299824.jpg?w=820&q=1&t=1738143338)
CONTROLO AMBIENTAL E INSTALAÇÕES
O stress afecta a capacidade de gerar uma boa resposta à vacinação. Um ambiente hostil, uma ventilação deficiente, uma temperatura incorrecta, falta de higiene, densidade excessiva, espaço insuficiente para os comedouros ou bebedouros, etc., resultarão em animais em condições sub-óptimas que podem ser factores predisponentes para uma resposta imunitária deficiente e, por conseguinte, um possível fracasso da vacinação.
APLICAÇÃO DA VACINA
No artigo anterior da série examinámos em profundidade a forma correcta de aplicar a vacina, mas existem diferentes decisões ou factores neste processo de aplicação que podem levar ao fracasso da vacina:
- DOSE INCORRECTA: É claro que a administração de uma dose incorrecta pode, com toda a probabilidade, resultar numa falha da vacina. A dosagem incorrecta pode ir desde uma má interpretação do folheto informativo da vacina até outros aspectos, tais como:
- falta de manutenção das seringas ou utilização de uma seringa inadequada;
- uso de un tamanho de agulha errado pode levar ao entupimento das agulhas e, por conseguinte, a uma má dosagem. O estado das agulhas também é fundamental.
- Sobredosagem voluntária:
- uso de meias doses para poupar dinheiro.
APLICAÇÃO INCORRECTA: pessoal mal treinado, que não segue as recomendações que vimos no artigo anterior, que não está envolvido na melhoria da exploração, ou a vacinação realizada demasiado rapidamente ou de forma imprecisa, pode resultar num ponto de aplicação da vacina incorrecto ou numa dosagem incorrecta.
![Foto 3. Ponto de aplicação correcto.](https://www.3tres3.com.pt/3tres3_common/art/pt/17310/aplicacão-de-vacina_299826.jpg?w=820&q=1&t=1738143376)
USO DE SOBRAS: Os frascos de vacina iniciados não devem, em caso algum, ser conservados para utilização posterior, em primeiro lugar porque perderão as suas condições de armazenamento corretas e, em segundo lugar, porque os frascos perderão a sua esterilidade quando as agulhas forem inseridas e poderemos infectar os animais que vacinamos com este excedente com um agente que tenha contaminado o frasco e ainda porque o prazo de validade máximo de cada produto depois de aberto pode ser consultado nas fichas técnicas de cada produto.
- MISTURA COM OUTROS PRODUTOS ou vacinas sem estar descrito no folheto.
- RECONSTITUIÇÃO DAS VACINAS: Se for caso disso, devem ser utilizadas seringas de utilização única para este efeito e a vacina deve ser utilizada no prazo de algumas horas.
NÃO VACINAÇÃO: A falta de pessoal, as emergências na exploração devido a problemas mecânicos, avarias, etc., nunca podem justificar que a vacinação não seja efectuada atempadamente. Por este motivo, devemos dimensionar bem o nosso equipamento e ter planos de contingência claros para o caso de surgir alguma destas situações na exploração.
SITUAÇÕES EXCEPCIONAIS: Nos planos de erradicação baseados na utilização de vacinas, é essencial assegurar a protecção dos efectivos e, para tal, 100% dos animais devem ser vacinados, incluindo protocolos específicos para os enfermarias, eventuais porcas de substituição, etc.
Além disso, as vacinas podem por vezes causar reacções adversas, como febre, perturbações nervosas e/ou digestivas, baixa ingestão de alimentos, apatia, etc. Estas reacções podem ocorrer de diferentes formas e será importante monitorizar os suínos bem após a vacinação, de modo a actuar o mais rapidamente possível. Estas possíveis reacções adversas estão descritas nas fichas técnicas dos produtos e devemos conhecê-las bem para as podermos detectar e actuar quando necessário.