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Maneio estratégico das porcas de substituição para um controlo de PRRS sustetável

O resultado desejado do maneio estratégico da reposição a nível de empresa é a minimização das perdas económicas potencialmente causadas por PRRS.

Após a introdução do vírus de PRRS numa exploração de reprodução, é frequente observar fracasso reprodutivo e aumento da mortalidade (Loula, 1991). Em poucos meses, os parâmetros reprodutivos podem voltar a valores similares aos de antes da infecção; no entanto, a coexistência de sub-populações infectadas e susceptíveis perpetúa a transmissão viral dentro da exploração (Dee et al., 1996). O vírus pode replicar-se tanto em nulíparas negativas como nas previamente infectadas se estão misturadas com indivíduos excretores (Figura 1). Esta dinâmica provoca o desmame contínuo de leitões infectados que tendem a estar clinicamente afectados após a mistura e a queda da imunidade maternal. As transições com uma infecção activa representam um risco de infecção para as porcas e as explorações vizinhas. Os estudos económicos indicam que a maior parte do custo associado a PRRS tem efeito nos leitões de transição e não nas porcas (Neumann et al., 2005; Holtkamp et al., 2011).

Figura 1. Mecanismo de perpetuação da infecção por PRRSV numa reprodução

Mechanism of perpetuation of PRRSV infection in a breeding herd

Em países onde foi alcançado um consenso sobre o impacto económico da doença, o objectivo principal para o controlo de PRRS é a produção consistente de leitões desmamados negativos. A American Association of Swine Veterinarians nomeou uma comissão, liderada pelos Drs Holtkamp e Polson em 2011, para desenvolver uma terminologia standartizada para classificar as explorações segundo o seu grau de infecção pelo PRRSV. A classificação descreve recomendações experimentais para definir as explorações desde Positivas (categoria I) a Negativas (categoria IV) durante o processo de estabilização ou eliminação. Uma exploração é descrita como estável (categoria II) quando as amostras de soro de pelo menos 30 leitões antes do desmame, analisadas através de PCR em grupos de cinco, são negativas em quatro amostras mensais consecutivas (120 amostras de soro = 24 testes de PCR distribuídos homogeneamente durante 90 dias). Uma vez os animais estejam estabilizados, as nulíparas negativas a ELISA podem ser misturadas com a população previamente infectada com relativamente pouco risco de infecção. Se 60 nulíparas são negativas a um ELISA individual dois meses depois da sua introdução na população, a exploração pode ser definida como Provisoriamente Negativa (categoria III). Quando todas as porcas originalmente infectadas (ELISA positivas) tenham sido substituídas (“rolled-over”) por nulíparas ELISA-negativas sem evidência de infecção, a exploração pode ser classificada como Negativa (categoria IV).

Para eliminar o PRRSV das explorações foi proposto o método de despovoamento de porcos infectados e repovoamento com porcos negativos e o de "análise e eliminação". No entanto, o procedimento mais rentável para eliminar o vírus é o encerramento da exploração ou preenchimento-encerramento-homogenização (Yeske, 2011). O protocolo é aplicado a reproduções infectadas de forma aguda ou endémica e normalmente inicia-se com a introdução de tantas nulíparas como as que as instalações possam albergar (preenchimento), de seguida interrompe-se a reposição interna ou externa de fêmeas ou machos até que a exploração possa ser definida como estável (encerramento) e, finalmente, leva-se a exposição simultânea de todos os indivíduos adultos ao vírus residente de PRRS ou à vacina do vírus vivo modificado (Homogeinização), este último ponto é realizado uma ou duas vezes. Uma variação chamada reposição externa (“off-site breeding”), consiste em ter uma instalação separada onde são criadas e cobertas as porcas de reposição negativas, que só serão movidas para a reprodução quando se tenha confirmado a estabilidade, ou as referidas porcas possam ser infectadas com a mesma estirpe utilizada para homogenizar a reprodução, exactamente no mesmo momento. Os protocolos de bio-segurança e monitorização são essenciais para assegurar a introdução de PRRSV nestas nulíparas.

Figura 2. Exemplo de procedimentos e detecção de PRRSV em leitões ao desmame durante o encerramento da exploração

Example of procedures and wean-pig PRRSV detection during herd closure

A proporção de leitões positivos por PCR ao desmame começa a decair umas semanas depois da homogeinização (Figura 2). Num dado momento durante o encerramento, provavelmente após 16 semanas, os porcos nascem não virémicos mas são infectados durante a lactação com um ratio muito baixo (Cano et al., 2008). Portanto, a bio-segurança interna, para minimizar a transmissão nas salas de maternidade e uma segregação eficiente dos leitões desmamados, são essenciais para completar a eliminação de PRRSV da exploração. Um estudo recente da Universidade de Minesota revelou que, desde o momento do encerramento, as explorações demoram cerca de 30 semanas (12 a 43 semanas) para desmamar leitões PCR-negativos de um modo constante.Os autores descobriram que o método de exposição e o grau de infecção prévia ao vírus afectavam significativamente o tempo necessário para se estabilizar (Linhares et al., 2012).

Com protocolos ligeramente diferentes, os veterinários da América do Norte confiam nos métodos actuais para eliminar o PRRSV de uma exploração, pemanece, no entanto a pergunta para queijo: "o que fazer com as nulíparas uma vez eliminado o vírus?".

“A reposição deve ser negativa, vacinada ou ser infectada com vírus residente?

A decisão sobre a adaptação da reposição para PRRS pode ser excessivamente simplista com base no risco de uma nova infecção na reprodução. Se for assumido que este risco está em função da densidade de porcos local, a prevalência de PRRSV da zona e o nível de bio-segurança da uma exploração, podem ser propostas três situações e intervenções potenciais:

Risco Baixo Médio Alto
Densidade local e prevalência de PRRS Muito baixa Baixa-média Médio-alta
Infra-estruturas de bio-segurança e protocolos Excelentes Aceitáveis Pobres
Frequência esperada de surtos de PRRS Rara A cada 2 ou 3 anos A cada ano ou mais
Grau de infecção de PRRS da empresa Negativo Negativo-estável Estável-Positivo
Objetivo de produção Multiplicador externo Multiplicador interno ou comercial Comercial
Plano de acção após um surto de PRRS Eliminação Estabilização Controlo
Diagnóstico de PRRS em leitões desmamados PCR/ELISA-negativo PCR-negativo PCR-negativo/positivo
PRRS na reposição externa/sémen Negativo Negativo Negativo
Periodo de quarentena da reposição (semanas) 6 3 2
Imunização das nulíparas (adaptação) Não Vírus vivo-modificado e/ou vivo-residente Vírus vivo-modificado
Recuperação das nulíparas (“cooling”) (semanas) Não 14 Não

Nas explorações situadas em zonas com pouca densidade e/ou pouca prevalência e com uma bio-segurança adequada, a eliminação de PRRSV está indicada. Quando a introdução da doença foi esporádica e o objetivo é produzir porcos negativos, a reposição pode ser negativa e ser monitorizada através de um programa de vigilância exaustivo. Por outro lado, devido a que as consequências de um surto de PRRS numa exploração negativa tendem a ser significativamente mais elevadas que nas de uma exploração previamente exposta, a imunização das porcas de substituição em explorações com risco moderado-alto é muito recomendável. Apesar da falta de conhecimento sobre uma protecção heteróloga completa nas reproduções e dificuldade para prever o próximo surto de PRRSV, estudos recentes mostram que a imunidade prévia não só reduz o tempo necessário para alcançar a estabilidade mas também é necessária para recuperar o nível de produtividade prévio à infecção e minimizar as perdas produtivas durante o surto (Linhares et al., 2012).

Embora a exposição das nulíparas às porcas velhas, leitões virémicos ou tecidos sejam os métodos de adaptação propostos, a dificuldade para determinar a dose e o tempo de infecção limita seriamente o uso dessa estratégia. A injecção de vírus selvagem nas porcas de reposição é uma prática habitual, do mesmo modo que o uso de vacinas vivas modificadas. A severidade dos sinais clínicos e a capacidade do processo para conseguir uma exposição eficiente, mas evitando a entrada de porcas que estejam a eliminar vírus na reprodução, tem que ser avaliada para decidir entre o vírus vivo-modificado e o selvagem. A fase de recuperação do periodo de aclimatação numa exploração estável tem que ser de, pelo menos, 100 dias em grupos tudo dentro/tudo fora para evitar a recirculação do vírus. Quando o risco de infecção for elevado, a possibilidade de se fazer um encerramento da exploração cada vez que entra um novo vírus PRRS é complicada. Nestes casos, a decisão mais vantajosa pode ser a maximização da imunidade e a minimização da exposição recorrendo ao uso sistemático da vacinação das nulíparas à chegada e um mês depois e a vacinação dos leitões ao desmame.

O resultado desejado do maneio estratégico da reposição a nível de empresa é a minimização das perdas económicas potencialmente causadas por PRRS. Uma medida integrada de êxito é o cálculo do número médio de semanas nas quais se desmamam leitões PCR-negativos por exploração de reprodução no conjunto do sistema produtivo. Os porcos negativos têm maiores possibilidades de se desenvolver que os positivos, inclusive se são transferidos para zonas de alta densidade suína e alta prevalência de PRRS, porque a vacinação ao desmame permite-lhes desenvolver uma imunidade activa, normalmente, antes de qualquer exposição.

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