Se apenas com o querer pudessemos acabar com o vírus de PRRS, este já tinha sido eliminado dos EUA há 10 anos, mas como parece que reduzir o seu impacto requer um duro trabalho, foi desenvolvido um esquema de maneio standartizado baseado nas melhores evidências disponíveis. Este esquema de maneio baseia-se na categorização standartizada de explorações proposto por Holtkamp et al. en 2011. As categorias baseam-se no status de infecção e transmissão do vírus de PRRS dentro da exploração para facilitar a comunicação entre produtores e veterinários e para ajudar no controlo da transmissão do vírus entre explorações e regiões.
Para conseguir uma implementação efectiva era necessária uma definição standart e objetiva do status das explorações. O primeiro passo para conseguir tal definição é a separação dos resultados analíticos em categorias baseadas no status de reprodutoras (mães) e ninhadas (leitões). Deste modo, o status das mães divide-se em quatro categorias: Infectadas (Estadio 1, PCR, isolamento positivo), Positivas (Estadio 2, anticorpos positivos, antigénios negativos) Status intermédio (Estadio 3, alguns anticorpos positivos e alguns negativos) e Não expostas (Estadio 4, negativo a anticorpos e antigénios). O status dos leitões define-se como Positivo (PCR, isolamento positivo), Teste negativo (mínimo de 8 semanas consecutivas com 95/5 PCR ao desmame) e Negativo real para os leitões nascidos de mães Não expostas. Estas definições permitem uma descrição clara e precisa do status da exploração entre todos os membros do pessoal sanitário e de produção para facilitar a discussão e a compreensão das práticas que devem ser implementadas.
Assumindo que o objetivo da maternidade é produzir leitões desmamados que se encontrem realmente livres de PRRS, é adoptada uma perspectiva baseado no risco, onde as explorações com maior risco de transmissão (Estadio 1) têm as estratégias de maneio mais intensivas e as que têm menor risco (Estadio 4), têm as menos intensivas.
A estratégia standartizada de maneio está descrita na tabela 1. Está dividida em 4 secções: Análise para determinar o status; Maneio em porcas e nulíparas; Maneio na maternidade e Maneio em leitões. São definidas as diferentes actuações e indicado se são de aplicação em cada estadio de PRRS. A personalização das descrições para serem adaptadas ás especificidades de cada exploração foi útil para melhorar a sua implementação.
Tabela 1. Definições de trabalho do maneio de leitões e porcas, baseadas no status de PRRS da exploração.
Status da exploração contra a PRRS1 | I (positiva inestável) | II (positiva estável) | III (negativa provisional) | IV (negativa) | ||
Descrição do status | 1: Instável / infecção activa | 2a: Estável a curto prazo | 2b: Em processo de eliminação | 2C: Estável a longo prazo | 3: Passagem a negativa - as porcas de reposição permanecem negativas durante ≥ 2 meses | 4: Negativa - negativa a ELISA e foram eliminadas as porcas previamente infectadas |
Análise para determinar o status2 | Estado por defeito, sem diagnóstico | 60 porcos por amostra; 4 semanas consecutivas; em leitões de 4 dias de vida; PRRS PCR Pool 5 | 60 porcos por amostra; 4 semanas de leitões de 4 dias e ao desmame; PRRS PCR, Pool 5 (um total de 8 semanas consecutivas de análises negativas) | 60 porcos por amostra; 4 semanas de leitões de 4 dias e ao desmame; PRRS PCR, Pool 5 (um total de 8 semanas consecutivas de análises negativas); Testes contínuos de 30 leitões desmamados em semanas alternadas ou de 60 cada 4 semanas; PCR, Pool 5 | ≥ 30 nulíparas são PCR e ELISA negativas pelo menos um mês após a introdução e muitas permanecem negativas; Testes mensais contínuos de 30 leitões desmamados; PCR, Pool 5 | 60 animais PCR e ELISA negativos após 2 amostras consecutivas separadas por, pelo menos, 30 dias |
Tempo mínimo para iniciar as analises para confirmar estatuto após o fecho da exploração | n/a | ≥ 22 semanas pós-infecção (inoculação) e que os nascidos mortos representem <12% dos NT | Após 4 análises consecutivas negativas de ≥ 60 leitões de 4 dias de vida | Após 4 análises consecutivas negativas de ≥ 60 leitões de 4 dias de vida | 9 meses | |
Maneio das porcas e nulíparas | ||||||
Introdução de nulíparas | Não | Não | Sim – Não expostas | Sim – Prev. infectadas | Sim – Não expostas | Sim – Não expostas |
Sémen/varrascos negativos a PRRS | Sim | Sim | Sim | Sim | Sim | Sim |
Vacinação antes da cobrição | Não | Sim | Sim | Sim | Sim | Sim |
Vacinação antes do parto | Não | Sim | Sim | Sim | Sim | Sim |
Trocar agulhas entre porcas e nulíparas | Sim | Sim | Sim | Sim | Sim | Não |
Feedback com fezes antes do parto | Não | Não | Não | Não | Não | Sim |
Feedback com fezes antes da cobrição | Não | Sim | Sim | Sim | Sim | Sim |
Feedback com tecido ou soro às primíparas | Não | Não | Não | Não | Não | Sim |
Status da exploração contra a PRRS1 | I (positiva inestável) | II (positiva estável) | III (negativa provisional) | IV (negativa) | ||
Descrição do status | 1: Instável / infecção activa | 2a: Estável a curto prazo | 2b: Em processo de eliminação | 2C: Estável a longo prazo - excressão não detectada durante ≥ 6 meses |
3: Passagem a negativa - as porcas de reposição permanecem seronegativas durante ≥ 2 meses |
4: Negativa - negativa a ELISA e foram eliminadas as porcas previamente infectadas |
Maneio na maternidade | ||||||
Lavagem de todas as jaulas com tempo de secagem entre ninhadas | Sim | Sim | Sim | Sim | Sim | Não |
São permitidos desmames parciais nas salas | Não | Não | Não | Sim | Sim | Sim |
Troca agulhas e lâminas de bisturí entre ninhadas | SSimí | Sim | Sim | Sim | Sim | Não |
Uso de banhos de água quente/ caixas de split nursing | Não | Sim | Sim | Sim | Sim | Sim |
Uso de carros de tratamento | Não | Sim | Sim | Sim | Sim | Sim |
Maneio em leitões | ||||||
Movimentos durante as primeiras 24 horas de vida apenas para adopções3 | Não | Não | Sim | Sim | Sim | Sim |
Ninhada de atrasados (1 porca adoptante por cada 26 jaulas)4 | Não | Não | Sim | Sim | Sim | Sim |
Mistura de pequenos em uma ninhada | Não | Não | Não | Sim | Sim | Sim |
Aguentar os porcos ao desmame por qualidade | Não | Não | Não | Não | Não | Sim |
Actualizado a Março de 2012 v4.0 – Adaptado de Lowe et. al., Proceedings of the AASV Annual Meeting 2012
1- Baseado nas classificações de explorações com PRRS da AASV, 2010.
2- Os planos de análise de PRRS por exploração devem ser implementados e revistos em cada exploração. Servirão como guia para o desenvolvimento e interpretação do plano de análise.
3- No momento do parto, as ninhadas equilibram-se em número para que cada porca tenha o mesmo número de leitões que de tetas funcionais. Em qualquer ninhada podem-se juntar ou tirar leitões, mas não ambas as coisas ao mesmo tempo (as porcas podem ser doadoras ou receptoras de leitões, mas não de forma simultânea). O objetivo é minimizar o número de movimentos de leitões depois do parto. Os leitões necessitam ingerir o colostro da sua própria mãe para optimizar a transferência de imunidade passiva e o desenvolvimento do seu próprio sistema imunitário. Também sabemos que a transferência de imunidade da mãe para a ninhada é mais eficiente entre animais aparentados. Isto significa que quantos mais leitões sejam criados pela sua mãe, melhor. Além disso a ordem das tetas é estabelecida definitivamente durante as primeiras 24 horas e os movimentos posteriores é provável que resultem em 2 leitões a lutar pela mesma teta e que outra se seque por falta de sucção. Isto levará à criação de uma ninhada de atrasados que necessitarão uma porca adoptante ou morrerão antes de chegaremao peso de mercado.
4- Após o estabelecimento das ninhadas (>24 horas iniciais) os leitões podem ser transferidos para ninhadas de atrasados (nova) mas, em nenhum caso, podem passar a ninhadas onde haja algum leitão morto nem podem ser intercambiados leitões individuais entre ninhadas.
5- As ninhadas de leitões pequenos foram formadas nas primeiras 24 horas ou menos ao passar todos os leitões pequenos da sala para uma ou mais ninhadas. Frequentemente estes leitões são movidos quando ainda estão húmidos. Por definição estas porcas são tanto dadoras como receptoras. Isto conduz a um risco mais elevados que outras formas de movimento.
As estratégias de maneio para porcas e nulíparas foram desenhadas para minimizar o risco da transmissão porca-porca do vírus de PRRS. As práticas mais intensivas são implementadas nas explorações com os maiores rácios de porcas virémicas/com excreção, passando-se rapidamente a práticas menos intensivas ao reduzir dito rácio. As práticas implicam que seja cessada a introdução de nulíparas (estadios 1, 2a); o uso de sémen/varrascos negativos a PRRS (todos), deter as vacinações pré-cobrição e pré-parto (Otake et al. 2002) (estadio 1), troca de agulhas entre porcas e nulíparas (Otake et al. 2002) (estadios 1, 2, 3), detenção do feedback com fezes antes da cobrição (Pitkin et al., 2009 e Dee et al. 2009) (estadios 1, 2, 3) e antes do parto (Pitkin et al., 2009 e Dee et al. 2009) (estadio 1) e detenção do feedback com tecido ou soro (múmias/placentas) em nulíparas (Pitkin et al., 2009 e Dee et al. 2009) (estadios 1,2,3).
As práticas de maneio na maternidade definem-se como as que estão implicadas no uso físico da sala de maternidade. Estão desenhadas para limitar a transmissão ninhada-ninhada. As práticas empregues são a lavagem de todas as jaulas com tempo de secagem entre ninhadas (Dee et al. 1994) (estadios 1, 2, 3), não é permitido o desmame parcial das salas (Dee et al. 1994) (estadios 1, 2a, 2b); troca de agulhas e lâminas de bisturí entre ninhadas ao processar ou tratar os leitões (Otake et al. 2002) (estadios 1, 2, 3), não utilização de banhos de água quente para leitões hipotérmicos, nem as caixas de split nursing (Pitkin et al., 2009 e Dee et al. 2009) (estadio 1) e também não é permitido o uso de carros de tratamento (Pitkin et al., 2009 e Dee et al. 2009) (estadio 1).
As práticas de maneio para leitões pretendem evitar a transmissão leitão-leitão (ou ninhada-ninhada). Estas práticas foram adaptadas do sistema “McREBEL” original (McCaw. 2000) mas separadas em práticas específicas para clarificar e facilitar a sua implementação. As práticas empregues nesta secção são: detenção dos movimentos de leitões entre ninhadas (estadios 1, 2a). Limitar os movimentos entre ninhadas nas primeiras 24 e apenas equilibrar ninhadas quanto ao número (estadios 2b, 2c, 3, 4), permitir o uso de uma ninhada de atrasados (porca adoptante) para cada 26 jaulas (estadios 2b, 2c, 3, 4), permitir a mistura de leitões pequenos numa só ninhada (estadios 2c, 3, 4), aguentar leitões durante 7 dias extras ao desmame por motivos de qualidade (estadio 4).
O desenvolvimento deste esquema de maneio não pretende definir novas práticas ou procedimentos na exploração de porcas com PRRS. A sua intenção é melhorar a comunicação do que necessita ser feito para melhorar as oportunidades de êxito na estabilização e maneio da reprodução. O esquema categoriza as intervenções chave de maneio para que possam ser utilizadas pelo pessoal da exploração e cria uma via de comunicação com o pessoal da exploração que pode gerar oportunidades a longo prazo para compreender que práticas são mais importantes e a adaptação do esquema para introduzir melhorias.