Medicação na água: como medicar em caso de depósitos

A medicação por reservatório é um método fácil e flexível de administrar medicamentos, mas pode não ser muito exacto se os produtos que utilizamos não forem perfeitamente solúveis. Como qualquer outro sistema, tem uma série de pontos críticos que devem ser tidos em conta se quisermos medicar correctamente:

• A capacidade do reservatório deve ser a primeira. A capacidade do tanque utilizado não deve ser superior ao consumo diário dos animais a tratar, de modo a permitir a preparação diária da medicação e, assim, evitar problemas de perda de actividade das moléculas utilizadas.
• O reservatório deve ter duas chaves, uma de entrada e outra de saída. A torneira de entrada deve estar fechada durante a preparação e administração do medicamento para não o diluir. A torneira de saída deve ser fechada durante a preparação do medicamento. Pode ser conveniente fechá-la se os depósitos forem pequenos e se for necessário preparar o medicamento várias vezes: ao fechar a torneira de saída, o processo de enchimento será mais rápido.
• Muitas vezes, os tanques são colocados no interior dos pavilhões, para que a água atinja uma temperatura semelhante à da divisão. Quando a temperatura da água potável excede os 22°C, o seu consumo é reduzido. Esta circunstância é especialmente importante se forem usadas tabelas para prever o consumo dos animais a serem medicados, pois pode levar a uma subdosagem do tratamento.
• Os tanques devem ter sempre tampas. Estas impedirão a entrada de matéria orgânica (poeiras, insectos, etc.), evitando ao mesmo tempo o impacto dos raios solares quando se encontram no exterior dos edifícios. A matéria orgânica pode alterar a eficácia de certos produtos, como as sulfonamidas, e o contacto do sol com a água desenvolve algas que podem afectar a correcta dissolução dos medicamentos e afectar a sua disponibilidade e actividade.

Podem usar também a nossa calculadora para medicação no depósito para facilitar o cálculo da dose necessária.

Imaginemos que queremos tratar 400 leitões de 20 kg de peso vivo no Verão com uma dose diária de 20 mg de ingrediente activo/kg de peso vivo e que a capacidade do tanque é de 800 litros.

O primeiro passo será conhecer o consumo de água por dia em função del tipo do animal a tratar, e isto pode ser feito através de tabelas de consumo.

Tabela 1. Necessidades de água diárias para poercos. Baseados em consumos de água no Verão. Temperatura, qualidade da água e tipo de bebedouro pode afectar este consumo. (Taylor e Roese. 2006)

Mas não devemos esquecer outros factores que podem aumentar ou reduzir o consumo, tais como: temperatura, humidade, tipo de alimentação, tipo de bebedouro, qualidade da água, etc. A melhor coisa a fazer é sempre verificar o consumo real de água no pavilhão a ser medicado.

No nosso caso, os leitões de 20 kg bebem 4 litros/dia, pelo que 400 leitões bebem 1.600 litros/dia.

O segundo passo será calcular qual a quantidade de produto activo por dia que é necessário e para isso deveremos:

• Conhecer a concentração do produto comercial, por exemplo, 10% (10 g de produto activo por 100 g de produto comercial).
• Calcular o peso total dos animais a tratar: 400 leitões de 20 kg = 8 000 kg.
• Determinar as necessidades de ingrediente activo: 8.000 kg x 20 mg = 160.000 mg (160 g).
• Determinar a quantidade de produto comercial a utilizar: se por cada 100 g de produto tivermos 10 g de ingrediente activo (10%). Para 160 g serão necessários: 160 g x 100 / 10 = 1.600 g de produto comercial.
• Tendo em conta o consumo calculado no primeiro passo, se em 1.600 litros de água temos de dissolver 1.600 g de produto comercial, por cada 1.000 litros de água potável precisamos de incluir 1 kg de produto comercial.

O terceiro passo será calcular como é que devemos repartir a medicação em função da capacidade do depósito:

• Se o consumo for de 1600 litros/dia e a capacidade for de 800 litros/tanque, a medicação diária deve ser dividida em duas tomas (manhã e noite). De manhã, misturaremos 800 g de medicamento num tanque cheio (800 l) e à tarde repetiremos a operação.
• Se tivermos dúvidas sobre se a segunda medicação será efectuada correctamente, pode ser interessante duplicar a dose da medicação da manhã, dando água não medicada à tarde. Neste caso, a medicação não será totalmente correcta, mas será melhor do que ter dúvidas sobre se tomaram ou não a medicação da tarde.

O quarto passo será preparar a medicação necessária para cada toma:

• Fechar a torneira do tanque para os bebedouros.
• Fechar a torneira do tubo principal para o tanque.
• Dividir os 1.600 g de produto comercial em duas doses por dia.
• Para preparar a toma da manhã, dissolver primeiro 800 g de produto comercial num balde de água morna.
• Esvaziar o balde com a solução no tanque e misturá-la bem.
• Abrir a torneira do tanque para os bebedouros da sala.
• Repetir à noite e nos dias seguintes de medicação.

Agora já podemos medicar.