Melhorar a biossegurança através da investigação de surtos

Em artigo anterior ("Desmontando mitos sobre biossegurança nas explorações de suínos") descrevemos como as investigações normalizadas de surtos, conduzidas como uma análise integrada do risco de biossegurança em conjunto com uma investigação epidemiológica, podem ser utilizadas para identificar e dar prioridade aos riscos de biossegurança nas explorações de suínos. Nesse artigo, um risco de biossegurança foi definido como uma circunstância, acção ou inacção que aumenta a probabilidade de uma ou mais de três falhas. As três falhas são:

• falha na prevenção da contaminação ou infecção por um agente portador de agentes patogénicos (suínos, pessoas, veículos, etc.);
• falha na mitigação da contaminação ou infecção; e
• falha na prevenção da transmissão do agente patogénico do portador para os suínos da exploração, uma vez que o portador do agente patogénico tenha entrado na exploração.

Os riscos de biossegurança resultam da execução de procedimentos operacionais, incluindo os necessários para a criação de suínos e os que são estritamente executados para reduzir os riscos de biossegurança, como o duche à entrada e à saída da exploração. A identificação dos riscos de biossegurança requer um estudo profundo dos processos de produção:

1. Quem executa os procedimentos operacionais?
2. Quais são as circunstâncias estruturais, as instalações e o equipamento com que são efectuados?
3. Quando são efectuados?
4. Onde são efectuados?
5. Como são efectuados os procedimentos operacionais?

O resultado da investigação é uma lista dos riscos de biossegurança de maior prioridade que podem ser abordados com medidas de controlo de biossegurança. Este artigo descreve um caso real sobre a forma como as investigações de surtos são utilizadas para identificar e dar prioridade aos riscos de biossegurança e aplicar medidas de controlo para os enfrentar.

Descrição da investigação do surto

Uma exploração de 5.000 porcas, que produziu leitões até ao desmame, localizada numa área com uma população suína relativamente densa, mas sem explorações positivas conhecidas num raio de 16 km, registou um surto de PRRS. Foi efectuada uma investigação do surto utilizando um programa normalizado de investigação de surtos duas semanas após a observação dos primeiros sinais clínicos.

Embora a causa exacta do surto não tenha sido identificada, a investigação revelou vários riscos importantes de biossegurança associados à entrada de pessoal. A exploração utilizava procedimentos para a entrada/saída de pessoas através dos duches. Os duches constituíam uma linha divisória entre a entrada e o escritório. A exploração não tinha um banco de entrada e observámos uma quantidade significativa de terra arenosa no chão da entrada quando entrámos na exploração. No entanto, soubemos que o pessoal da exploração limpava a entrada diariamente. O material de limpeza da exploração era guardado numa sala acessível tanto pelo escritório (lado "limpo" da linha de fronteira) como pela entrada (lado "sujo" da linha de fronteira). Os mesmos utensílios e produtos de limpeza, incluindo o balde e a esfregona, eram utilizados para limpar o escritório e a entrada. No final do dia de trabalho, um único trabalhador entrava na sala de limpeza pela porta do escritório, recolhia os materiais de limpeza e dirigia-se à entrada pela segunda porta. O processo inverso ocorria quando acabava de limpar a entrada, após o que tomava um duche.

Medidas aplicadas para fazer face aos riscos de biossegurança

Foram identificados riscos de biossegurança em vários aspectos dos processos de produção, tanto estruturais como processuais e relacionados com os recursos.

Os aspectos dos processos de produção em que podem ser aplicadas medidas de controlo para reduzir os riscos de biossegurança são designados por pontos de controlo críticos. Os pontos de controlo críticos podem estar relacionados com aspectos estruturais dos processos de produção, aspectos processuais ou aspectos relacionados com os recursos.

Neste caso, os chuveiros eram a linha divisória entre a entrada e os escritórios. No entanto, as portas que ligam a sala de limpeza ao escritório e à entrada criaram confusão quanto à localização da linha divisória. Este problema estrutural foi resolvido com a colocação de um banco à entrada da exploração. A porta que dava acesso à sala de limpeza a partir da entrada foi removida e foi colocada uma câmara de UV nesta área. Esta alteração eliminou a possibilidade de aceder ao lado limpo do escritório a partir da entrada, a menos que o pessoal tomasse banho para entrar através da linha divisória designada. A câmara de UV também aumentou a biossegurança de pequenos artigos que entram no escritório. Além disso, um conjunto de utensílios e produtos de limpeza destinados à limpeza da entrada foi colocado num armário separado, acessível apenas a partir da entrada.

Os procedimentos operativos foram melhorados através do ajustamento do horário de limpeza da entrada. A tarefa foi transferida para a última tarefa do dia, depois de o empregado designado para limpar a entrada ter tomado duche.

No que diz respeito aos recursos, foi dada formação a todos os colaboradores sobre o papel e a importância da linha de separação na prevenção da introdução de agentes patogénicos na exploração. Os colaboradores foram treinados para tomar banho sempre que saem e quando voltam a entrar na exploração por qualquer motivo. Além disso, o pessoal da exploração recebeu as ferramentas adequadas para realizar as tarefas de limpeza, fornecendo um conjunto de utensílios de limpeza para a limpeza da entrada e um segundo conjunto para a limpeza do escritório.

Para serem eficazes, as medidas de controlo da biossegurança devem abordar os riscos significativos que aumentam a probabilidade de transmissão de um agente patogénico a uma exploração. O resultado desta investigação de surto foi a identificação e a definição de prioridades de vários riscos de biossegurança associados à entrada de colaboradores e outro pessoal, o que resultou na implementação de medidas de controlo de biossegurança para abordar estes riscos de biossegurança em primeira instância. Foram identificados outros riscos de biossegurança, no entanto, dado que a investigação normalizada de surtos é sistemática e exaustiva, considerámos que dispúnhamos de informações suficientes para estabelecer correctamente as prioridades em termos de riscos de biossegurança que deviam ser abordados em primeiro lugar.