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Caso clínico: Melhoria da produtividade de uma exploração após a sua reorganização em bandas de 5 semanas

A organização da produção em bandas pode ser um factor de melhoria dos seus resultados

30 Maio 2003
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Descrição da exploração



Trata-se de uma exploração que uma empresa dedicada à produção de rações integrou em 1999. A exploração dispõe de capacidade para 140 porcas e produz leitões até ao fim da transição que deverão ser engordados nas explorações de engorda integrados da empresa.

A distribuição do espaço da exploração é a seguinte:

  • 30 lugares de maternidade (3 salas de 10 lugares).
  • 4 pátios exteriores de 30 m2 para adaptação de nulíparas e detecção de cio das porcas.
  • 105 lugares de gestação.
  • 300 lugares de transição (3 salas de 100 lugares).

As instalações são bastante boas, dado que a exploração foi reformada há poucos anos. Os pátios externos são ideais para realizar uma boa detecção de cios.

O plano vacinal é o seguinte:

  • Vacina em grupo de Aujeszky cada 4 meses.
  • Vacina bivalente Parvo - Mal Rubro depois do parto.
  • Vacina de Coli - Clostridium 1 mês antes do parto. Vacinação extra 2 meses antes do parto nas primíparas.
  • Vacina trivalente (Aujeszky, Parvo e Mal Rubro) das nulíparas que entram na exploração. Revacinação 3 semanas depois.

Problemas da exploração



A exploração vem trabalhando desde os últimos 3 anos com um sistema tradicional, em bandas semanais, mas o tamanho dos lotes é muito variável. O mau desenho da exploração para o funcionamento com bandas semanais, juntando o facto de que os lotes não estão bem definidos, provoca os seguintes problemas:

  • As salas de maternidade e transição não podem trabalhar Tudo dentro- Tudo fora, dado que só dispõe de 3 salas. Numa mesma sala de maternidade e de transição coincidem animais de diferentes idades.
  • Como os lotes estão desajustados, o rendimento da maternidade não é óptimo. Em algumas ocasiões a ocupação é escassa e noutros momentos a acumulação de partos força o desmame de porcas lactantes.
  • A produção de leitões saídos da transição é pouco homogénea e pouco numerosa. Este facto condiciona o enchimento das engordas, dado que torna impossível que se possa encher uma engorda só com o fornecimento desta exploração e obriga a misturar com outras origens para conseguir um lote de engorda mais ou menos razoável.

Apresentação do caso






Nos finais de 2001, a empresa integradora contactou connosco para que tentássemos melhorar a produtividade da exploração. Realizámos uma visita e avaliámos os rendimentos obtidos até aquele momento.

Comprovámos que a produtividade da exploração era baixa, mas o que mais nos preocupou foi que observámos uma certa tendência para a pioria dos principais parâmetros produtivos.




Ano 1999
Ano 2000
Ano 2001
Desmamados/porca-ano
19,36
20,71
18,5
Partos/porca-ano
2,3
2,49
2,19
Nascidos totais/parto
11
10,34
10,1
Nascidos vivos/parto
9,86
9,41
9,21
Fertilidade (%)
81,62
84,84
77,17
Intervalo desmame-1ª cobrição
10,36
7,96
11,37
Intervalo desmame-cobrição fecundante
16,6
13,9
20,8
Idade ao desmame
19,9
18,9
17,9
Nº porcas exploração
136
132
148
Mortalidade na transição
2,1
3,1
5,1


À priori não entendemos porque estão a nascer tão poucos leitões, as porcas são de uma boa genética e o maneio da detecção de cios e cobrição parecem adequados. Depois da última cobrição, as porcas são transferidas dos pátios de detecção de cio para o pavilhão de gestação. A condição corporal ao longo do ciclo reprodutivo não é má mas talvez as porcas se desmamem um pouco justas de carnes.



Realizamos serologia nas porcas e leitões para comprovar o estado sanitário da exploração e comprovamos que a exploração é negativa a Aujeszky, mas o PRRS recircula ao nível da transição.


Estudo do caso



Estudámos os principais parâmetros reprodutivos e em geral observámos que desde que foi integrada, a exploração apresenta uma certa tendência para piorar os seus resultados.

Durante o último ano, piorou a fertilidade, perdemos um leitão nascido por parto e duplicou a mortalidade na transição.

Surpreende-nos especialmente o baixo número de leitões nascidos (tanto vivos como totais) por porca da exploração. O tratador é muito meticuloso e estamos certos de que está a registar bem os dados, pelo que realmente estão a nascer poucos leitões. Estudámos a evolução do número de nascidos totais ao longo do tempo:



Desde que foi integrado, o tratador parece que tenta aumentar o número de leitões vendidos à custa de aumentar o efectivo da sua exploração. Passou de ter um efectivo de 130 porcas para quase 150. Se os lotes da exploração estivessem bem definidos, isto não representaria nenhum problema, dado que a capacidade óptima rondaria as 160 porcas (desmamando aos 21 dias). Contudo, encontrámo-nos com lotes mal definidos, com épocas do ano onde se concentram os partos e outras épocas onde escasseiam. A maternidade trabalha muito forçada porque as porcas que entram forçam a saída das lactantes. Esta situação leva a uma redução da idade do desmame:



A idade ao desmame reduziu-se em 2 dias desde que a exploração se integrou. Durante 2001 desmama-se com frequência a uma média de 17 dias e em alguns meses chega-se aos 15 dias de média. Isto significa que algumas porcas estejam a ser desmamadas de forma realmente precoce (inclusive aos 13 dias pós-parto).

Pensamos que um desmame tão cedo pode estar a afectar a entrada em cio, fertilidade e prolificidade das porcas. Além do mais, este factor também parece estar a afectar a sobrevivência dos leitões no desmame. Pensamos que impondo uma idade ao desmame maior, podemos solucionar grande parte dos problemas.

Contudo, tal como esta feita a exploração, ainda que tendo lotes bem definidos, com bandas semanais, nunca poderemos realizar um maneio Tudo dentro- Tudo fora nas salas de desmame e maternidade.

Além de que o número de leitões saídos por semana é muito baixo e este facto prejudica os interesses da empresa, que procura encher engordas externas misturando o menor número de origens.

Isto faz com que pensemos colocar a exploração a funcionar em bandas.


Evolução do caso



a) Eleição do tipo de banda mais favorável

Dispomos de 3 salas de maternidade de 10 lugares e 3 salas de desmame de 100 lugares. A distribuição de salas da exploração é muito má porque não nos permite um maneio Tudo dentro - Tudo fora das salas utilizando bandas semanais, bandas de 2 semanas ou bandas de 3 semanas.

Só as bandas de 4 semanas ou de 5 semanas nos permitiriam um maneio Tudo dentro - Tudo fora nesta exploração. Optámos por bandas de 5 semanas porque com as bandas de 4 semanas desmamamos os leitões muito novos e só os poderíamos alojar na transição durante 3 semanas e meia no máximo.

b) Evolução do caso

No início do ano 2002 começámos a trabalhar para estabelecer as bandas de 5 semanas. Trabalhámos com Regumate, alargando lactações e deixando passar algum cio. Este facto fez com que a idade ao desmame aumentasse significativamente e que parâmetros como o intervalo desmame - 1ª cobrição também se alargasse. Consequentemente, esperámos que esse ano de 2002 não fosse demasiado bom ou que inclusive viéssemos a perder produção.

Ano 1999
Ano 2000
Ano 2001
Ano 2002
Inicio banda
desmamados/porca-ano
19,36
20,71
18,5
19,7
20,05
Partos/porca-ano
2,3
2,49
2,19
2,27
2,07
Nascidos totais/parto
11
10,34
10,1
11
11,20
Nascidos vivos/parto
9,86
9,41
9,21
9,9
10,06
Fertilidade (%)
81,62
84,84
77,17
77,06
83,37
Intervalo desmame-1ª cobrição
10,36
7,96
11,37
14,76
10,78
Intervalo desmame-cobrição fecundante
16,6
13,9
20,8
24,7
19,87
Idade ao desmame
19,9
18,9
17,9
22,2
21,87
Nº porcas na exploração
136
132
148
145
150
Mortalidade na transição
2,1
3,1
5,1
3
1,054



contudo, como vemos na tabela, durante o ano em que estabelecemos a banda, não só não perdemos produção, como ainda a viemos a melhorar.

Desde que forçámos um desmame mais tardio, o resultado mais significativo é o ganho em leitões nascidos totais. Enquanto que durante o ano anterior não havia praticamente nenhum mês que chegasse aos 11 leitões nascidos totais, desde que se aumentou a idade ao desmame, sempre superámos os 11 e inclusive chegámos a 12. Ao cabo de 4 meses depois de começar a alargar a idade ao desmame, (Julho 2002) já estamos a obter um leitão a mais por parto.



Também reduzimos muito a mortalidade na transição, onde passámos de 5% durante 2001 para 1% desde que se iniciou a banda.

O censo da exploração não se viu afectado, e mais, ao ter os lotes bem organizados podemos aumentar o censo sem comprometer a idade ao desmame.

Os resultados noutros parâmetros desde que se iniciou a banda não são espectaculares; contudo, é de esperar que aumentando a idade ao desmame, além da prolificidade, também melhoremos a fertilidade e a entrada em cio das porcas. A exploração encontra-se muito bem encaminhada para melhorar a sua produtividade de forma notável.

Comentarios

Trata-se de uma exploração de 140 porcas que produz leitões até ao fim da transição e cuja distribuição do espaço não permite um bom maneio em bandas semanais. Dispõe de 30 jaulas de maternidade (3 salas de 10 lugares), 4 patios exteriores de 30 m2 para adaptação de nulíparas e detecção de cio nas porcas, 105 lugares de gestação e 300 lugares de transição ou baterias (3 salas de 100 lugares).

1) Eleição do tipo de banda mais favorável

A distribuição de salas da exploração é muito má porque não nos permite um maneio Tudo dentro - Tudo fora das salas utilizando bandas semanais, bandas de 2 semanas ou bandas de 3 semanas:

a) Bandas semanais: Necessitaríamos no mínimo de 4 salas de maternidade (5 dias de adaptação, 19 dias de lactação e 4 de vazio sanitário) e 6 de transição (4 dias de vazio sanitário e 38 de ocupação) para poder trabalhar de forma adequada. Capacidade produtiva: Entre 7 e 8 partos semanais.

b) Bandas de 2 semanas com desmames a 19 dias: Desmamando aos 19 dias necessitaríamos de 2 salas, dadeo que o tempo de ocupação seria de 4 semanas (5 dias de adaptação, 19 dias de lactação e 4 de vazio sanitário). Nas salas de transição também haveria problemas dado que desmamaríamos cerca de 150 leitões cada 2 semanas. Capacidade produtiva: 15 partos cada 2 semanas.

c) Bandas de 2 semanas com desmame aos 28 dias: Esta opção podería encaixar-se na distribuição da exploração, mas é muito menos produtiva. Trata-se de encontrar um tempo de ocupação das salas de maternidade de 6 semanas (1 semana de adaptação, 4 semanas de lactação e 1 semana de vazio sanitário). Ocuparíamos uma sala de maternidade em cada 2 semanas e o mesmo sucederia com a transição. Teríamos um tempo de ocupação da transição de 5,5 semanas e meia semana de vazio sanitário. Capacidade produtiva: 10 partos em cada 2 semanas.

d) Bandas de 3 semanas: Neste caso, o tempo de ocupação das salas de maternidade e transição também é de 6 semanas, pelo que a capacidade produtiva é equivalente à das bandas de 2 semanas com desmame aos 28 dias. Contudo , tem o benefício de que os lotes de animais são maiores e as porcas com repetições cíclicas integram-se no lote seguinte. Necessitaríamos de 2 salas de maternidade e de 2 salas de transição, o que não se encaixa nesta exploração. Poderíamos pensar num maneio em bandas de 3 semanas enchendo uma sala e meia de maternidade cada 3 semanas, mas isto implica que numa sala nunca se pratique um maneio Tudo dentro - Tudo fora e que esta sala sempre seja a mesma. O mesmo sucederia com a transição. Além do mais, como no caso das bandas de 2 semanas com desmame a 28 dias, representaria reduzir o efectivo da exploração. Capacidade produtiva: 15 partos em cada 3 semanas.

e) Bandas de 4 semanas: As bandas de 4 semanas permitiriam um maneio Tudo dentro - Tudo fora das salas de maternidade e transição. Contudo, trata-se de uma banda dificílmente praticável nesta exploração porque o tempo de ocupação se reduz a 4 semanas. Desmamaríamos os leitões muito jovens e só os poderiamos alojar na transição durante 3 semanas e meia no máximo. Capacidade produtiva: 30 partos a cada 4 semanas.

f) Bandas de 5 semanas: As bandas de 5 semanas são as únicas que encaixam perfeitamente na distribuição do espaço desta exploração. Capacidade produtiva: 30 partos cada 5 semanas. A distribuição do espaço seria a seguinte:

  • Maternidade e transição: Temos um tempo de ocupação de 5 semanas da maternidade, o que significa dispor de uma semana para a entrada das porcas, cerca de 23 dias de mádia para lactação e 5 dias para limpar, desinfectar e realizar um bom vazio sanitário antes da entrada do lote seguinte. Encheremos e esvaziaremos as 3 salas de maternidade de uma só vez, o que significa atingir um objectivo de 30 partos cada 5 semanas. O mesmo sucederá na transição, onde os leitões poderão estar alojados durante 4 semanas e meia aproximadamente.
  • Zona de cobrição e gestação: Funcionando em bandas de 5 semanas, teremos 4 lotes de produção de 30 porcas aproximadamente. Contudo, necessitamos espaço para 5 lotes de produção, porque necessitamos de espaço para "mover grupos" (para poder mover os lotes de porcas).
    • Teremos um lote de porcas na maternidade, pelo que nos faltam 4 lotes de gestação para dispor do espaço necessário.
    • O espaço que dispomos nos parques pode-nos servir para realizar a função de "mover grupos", além de detectar cios nas porcas desmamadas. As 30 porcas desmamadas são mudadas para 2 dos pátios de detecção de cio, onde dispõem de 2 m2 cada uma. Á medida que vão entrando em cio são mudadas para a gestação, onde são inseminadas.
    • Nos outros 2 pátios realizamos a entrada e adaptação de primíparas na exploração. Introduzimos 12 nulíparas (a reposição de 2 lotes) cada 10 semanas, com o qual temos um período de adaptação de 20 semanas antes da cobrição.
    • Na gestação dispomos de 105 lugares, com o qual temos espaço para os 3 lotes que nos faltam, além de 15 lugares extra para possíveis repetições, porcas vazias, abortos…

2. Reagrupamento dos lotes de porcas cada 5 semanas

Para agrupar cada 5 semanas grupos de porcas que estavam a funcionar em lotes semanais, trabalhamos com Regumate, modificando a idade ao desmame e deixando passar algum cio.

Para assegurar o seu bom funcionamento, o Regumate começa-se a administrar no dia anterior ao desmame. A entrada em cio atrasa-se tanto tempo como desejemos e ao fim de 4-5 dias após o fim da sua administração, a porca entra em cio. Trata-se de um tratamento caro (cerca de 0.60 Euro diários), pelo que devemos aplicá-lo nas porcas estritamente necessárias.

As porcas nulíparas que devem entrar na exploração também se ajustam aos lotes utilizando Regumate. Para isso, detecta-se-lhes o cio e começa-se-lhes a administrar Regumate ao fim de 10 dias depois do último dia em que a porca entra em cio. Neste caso também se aplica às porcas estritamente necessárias, se deixamos passar os cios, as porcas que fiquem próximas ao lote correspondente, evita-se o uso de Regumate.

Por último, para não perder demasiados dias produtivos, damos uma margem de tempo de 2 ciclos produtivos para organizar os distintos lotes.

3. Melhoria de rendimentos com o maneio em bandas

Os benefícios que deu o maneio em bandas a esta exploração são:

  • Agrupar lotes de produção: Conseguimos tirar 300 leitões de uma só vez, o que permite encher engordas com uma única origem.
  • Estabilizar problemas sanitários: O funcionamento em bandas permitiu-nos estabilizar a PRRS da exploração. Recentemente realizou-se um seroperfil à PRRS e os leitões foram totalmente negativos. Os benefícios na redução da mortalidade na transição são provavelmente devidos ao facto de desmamar leitões com mais dias, sumado ao maneio Tudo dentro - Tudo fora das 3 salas de transição.
  • Agrupar e tornar mais eficiente o trabalhoo do tratador: Durante uns dias o tratador centra-se exclusivamente nas tarefas mais críticas da exploração (detecção de cio - cobrição, atenção aos partos, maneio no ínicio da transição…), com o que pode aumentar a sua produção e dispor de mair tempo livre.

Neste caso conseguimos estes 3 propósitos, além de melhorar a produção e atingir um maneio Tudo dentro - Tudo fora na maternidade e transição numa exploração que não o permitia. Ainda o censo da exploração não se viu afectado, e mais, ao ter os lotes bem organizados podemos aumentar o efectivo sem comprometer a idade ao desmame.

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