13 de Novembro de 2020
O início do mês de Novembro foi caracterizado por uma descida da cotação dos porcos. Na Bolsa do Porco a descida, nesta primeira quinzena do mês, foi de 0,05€/kg carcaça. Em todo o caso, há indícios de que os matadouros estão a realizar descidas mais acentuadas do que a definida na Bolsa nestas últimas duas semanas.
Há aumento da oferta de porcos para abate e aumento dos pesos ao abate, fruto da excelente climatologia que permite bons crescimentos aos animais de abate. As vendas de carne estão mais fracas e vale ao mercado português o enorme volume de carne exportada para Países Terceiros nos 9 primeiros meses do ano (12267 ton.) para além das vendas de uns milhares largos porcos para abate que foram vendidos para matadouros espanhóis, principalmente para um matadouro espanhol em concreto.
Em sentido contrário, há a assinalar que, segundo conversas de “mentideros”, estão a entrar em Portugal porcos para abate oriundos da Bélgica e leitões para abate com origem na Holanda.
Já que referi o enorme volume de exportação de carne de porco portuguesa para Países Terceiros, devo salientar que os dados fornecidos pela IF dinamarquesa, por nós mesmos 3tres3 e pela Mercolérida dão-nos conta que, entre Janeiro e Setembro, Portugal exportou 300 ton de carne de porco para a Coreia do Sul, +170% em relação ao mesmo período de 2019 onde tinham sido exportadas 111 ton, para o Japão foram enviadas 1010 tons (+35% que em 2019, 745 ton) e para a China foram vendidas 10957 ton, ou seja, +730% em relação a 2019 em que foram vendidas, no mesmo período, 1321 ton.
Como referi acima, as vendas de carne estão mais fracas e com tendência a reduzir-se em função das novas medidas de confinamento e do estabelecimento do estado de emergência em Portugal. O encerramento de estabelecimentos do canal HORECA e a redução de clientes nos que se manterão abertos devido ao aumento de casos de Coronavirus e aos horários restritivos impostos pelo governo, retirarão consumidores dos restaurantes e cafés, com a consequente redução de consumos nesses espaços.
Por outro lado, poderá haver a tendência de aumento dos consumos caseiros, mas este possível aumento não compensará a redução dos consumos na restauração.
Valha-nos não haver, ainda, casos graves de infecções por Coronavirus nos matadouros portugueses que levem a reduções significativas nos abates por falta de pessoal nas linhas de abate, tal como tem acontecido um pouco por toda a Europa, com especial incidência nos matadouros alemães, dinamarqueses e franceses.
No que se refere aos consumos europeus de carne de porco, um pouco por toda a Europa o panorama é o mesmo que em Portugal. Confinamentos, restrições à mobilidade, encerramento de restaurantes, bares e cafés, e a consequente redução do consumo de carne de porco, a que se juntam os problemas de Peste Suína Africana na Alemanha que são um peso para o mercado da carne dentro do mercado comum.
A Alemanha não pode exportar para Países Terceiros e tem mantido a cotação dos porcos. Diz-se que é um “preço político”, se bem que se refira que há porcos vendidos 10-12 cêntimos abaixo desta cotação. Apesar de não haver variação na cotação dos porcos, há mais de meio milhão de porcos atrasados nas explorações, principalmente devido às restrições nos abates por falta de pessoal e ao aumento do distanciamento entre trabalhadores na linha de abate e nas salas de desmancha. Os pesos estão acima de 100kg de carcaça e há carne com origem na Alemanha a preços muitos baixos nos diversos países europeus o que pressiona o preço desse produto nesses países e em todo o comércio europeu da carne de porco.
Em Espanha há aumento da oferta de porcos nascidos, criados e abatidos em Espanha (este é a nova obrigação existente em Espanha para a carne que será exportada para Países Terceiros) que tal como em Portugal, beneficiam da boa climatologia para ver melhorar os crescimentos dos porcos, mas também aumentou a oferta de porcos para abate com origem na Bélgica e na Holanda, países que não conseguem vender os seus porcos para a Alemanha, como é habitual. Neste momento, os matadouros espanhóis têm muita oferta de porcos para abate e têm vontade de os abater para vender carne para os mercados externos, seja dentro da U.E., seja fora.
As exportações espanholas entre Janeiro e Setembro foram de 37250 ton para a Coreia do Sul (-40% que em 2019), 87000 ton para o Japão (-8,8% que em 2019) e 615800 ton para a China (+149%) a que se juntam mais 170000 ton de miudezas (+50%) o que transforma a Espanha no maior fornecedor da China de carne e miudezas de porco, ultrapassando os Estados Unidos. Neste momento, os mercados dos Países Terceiros valem 57% do total das exportações espanholas de carne de porco, sendo que os restantes 43% são vendas para países da U.E., sendo o seu primeiro cliente a França, seguida da Itália e vindo Portugal em terceiro lugar.
Outro dado importante a ter em conta no mercado mundial da carne de porco é a descida sustentada da cotação dos porcos na China em função do aumento da oferta interna de porcos que advém do aumento dos efectivos naquele país fruto da recuperação pós-Peste Suína Africana. Este aumento de produção já teve como consequência um aumento da procura de matérias-primas para a alimentação animal no mercado mundial, que levou a um aumento significativo dos preços destas commodities no mercado mundial. Espera-se, portanto, um aumento gradual e significativo dos custos de produção o que poderá ser mais um estrangulamento para a produção suína.
No que diz respeito à PSA na Alemanha, continuam a “pingar” focos. No total, e até ao dia 6 de Novembro, era 124 todos em javalis. Em todo o caso, apareceu um javali positivo na Saxónia, ou seja, fora da zona antes delimitada de Brandenburgo. É preciso que os alemães tenham muita atenção em relação ao eventual espalhar da Peste no seu país.
No que se refere às cotações, houve comportamentos díspares nos diferentes países da Europa, com descidas significativas nalguns deles (França, Dinamarca, Espanha e Portugal) e manutenções (Alemanha, Holanda). Esta semana (dia 11/11) será feriado na grande maioria dos países Europeus, onde se celebra o Dia do Armistício da II Guerra Mundial (na Alemanha não se celebra, visto que foram os derrotados) e será mais uma situação que implicará redução dos abates e aguardaremos para ver que impacto poderá ter nas cotações. Em relação a estas vejamos:
Em Espanha a cotação desceu 0,044€/kg P.V. (-0,059€/kg carcaça) na primeira quinzena de Novembro para 1,239€/kg PV (1,652€/kg carcaça). O peso subiu cerca de 1kg nesta quinzena e está 1,2kg acima do peso do ano passado nesta mesma altura. O mercado vai fluindo com as vendas de carne ao exterior, mas a oferta de porcos é mais abundante e isso implica a descida das cotações, que se faz de forma controlada, por enquanto.
Na Alemanha a cotação voltou a manter-se em 1,27€/kg carcaça. Os pesos subiram 300g nesta quinzena para os 98,9kg.
Na Holanda a cotação também se manteve em 1,34€/kg carcaça. A capacidade de abate é limitada devido aos protocolos de combate ao coronavírus nos matadouros e isso traz alguma pressão sobre os matadouros. A pressão da carne alemã e as dúvidas sobre os consumos natalícios lançam muita incerteza sobre o mercado holandês e não permitem pensar em subidas das cotações dos porcos. No que diz respeito ao mercado do leitão, a oferta é muito grande mas começam a haver sinais de melhoria no mercado do leitão.
Na Bélgica a cotação desceu 0,03€/kg PV e passou para 0,82€/kg PV. Os belgas continuam a enviar porcos para Espanha e começaram a enviá-los para Portugal (?). Veremos em que medida este factor poderá influenciar na melhoria do preço belga.
Na Dinamarca a cotação desceu 0,06€/kg carcaça passando a cotação para 1,32€/kg carcaça. O mercado da carne na Europa está muito complicado devido aos confinamentos provocados pelo coronavirus. Por outro lado, há 2 grandes matadouros dinamarqueses que fecharam portas, por iniciativa própria, para evitar infecções entre os seus trabalhadores e que essa situação levasse a que a China proibisse as exportações desses matadouros. Ao se manterem fechados, reduz-se a capacidade de abate e isso implica uma redução no ritmo de saída dos porcos das explorações, levando a um aumento da oferta e à consequente descida das cotações.
Em França, a cotação desceu 0,063€/kg carcaça fixando-se em 1,292€/kg carcaça. Os pesos subiram 600g para os 95,7kg (650 gramas abaixo do peso da mesma semana de 2019). O mercado francês queixas da grande desorganização dos circuitos de comercialização e de consumo, devido às restrições impostas pelo governo francês em função da COVID-19. O mercado encontra-se “pesado” e isso conduz a descidas da cotação já que os matadouros, se não vendem a carne, não poderão comprar porcos para abater.
Com a consecutiva descida das cotações desde Março, ora devido ao coronavírus ora devido à Peste Suína Africana, segundo o MPB francês, as cotações médias referentes aos 10 meses do ano 2020 encontram-se idênticas às do ano passado, com excepção da Dinamarca em que a cotação média se mantém bem acima da de 2019. Assim as cotações médias entre Janeiro e Outubro de 2020 em comparação com as de 2019 são as seguintes: em Espanha no Mercolérida foi 1,363€/kg PV (+2,08% que em 2019, em que a cotação foi 1,335€/kg PV, na Alemanha no AMI foi 1,636€/kg carcaça (-3,25%, 1,691€/kg carcaça), na Dinamarca foi 1,612€/kg carcaça (+13%, 1,427€/kg carcaça), na Holanda foi 1,693€/kg carcaça (-2%, 1,727€/kg carcaça) e finalmente em França no MPB foi 1,417€/kg carcaça (-2,88%, 1,459€/kg carcaça).
Veremos o que nos trazem estas próximas semanas que serão cruciais para a definição das cotações e de todo o mercado europeu até final do ano.