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Microbioma e infecções virais

Este artigo relaciona diferentes perfis de microbiota com a maior ou menor gravidade na clínica, lesões e carga viral numa infecção conjunta com os vírus do PRRS e PCV2, o que abre uma janela de oportunidades.

8 Novembro 2017
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Artigo

Rebecca A. Ober, James B. Thissen, Crystal J. Jaing, Ada G. Cino-Ozuna, Raymond R.R. Rowland, Megan C. Niederwerder. Una mayor diversidad en la microbiota en el momento de la infección se asocia con mejores tasas de crecimiento en cerdos después de la coinfección con el virus del síndrome respiratorio y reproductivo porcino (PRRSV) y el circovirus porcino tipo 2 (PCV2). 2017. Veterinary Microbiology vol 208, pag 203 http://dx.doi.org/10.1016/j.vetmic.2017.06.023

O que se estuda?

O objectivo do estudo foi estudar a influência da microbiota nos resultados clínicos e de produção depois de sofrer co-infecções virais no suíno.

Como se estuda?

A hipótese foi que, nos porcos, um aumento da diversidade da microbiota intestinal proporciona uma maior resistência às infecções virais respiratórias sub-clínicas. O estudo utilizou 50 porcos negativos a PRRSV de 3 semanas de idade, procedentes de uma exploração de reprodutoras positiva a PCV2. As amostras fecais recolhidas no início do ensaio foram enviadas para análise da microbiota. A diversidade da microbiota foi determinada através do cálculo do número de famílias e espécies detectadas em cada porco. Às 8 semanas de idade, após uma infecção experimental com PRRSV e PCV2, foram registados os resultados clínicos, a virémia e o peso. Para assegurar a análise das infecções sub-clínicas, todos os porcos que necessitaram intervenção veterinária foram excluídos do ensaio. Aos 35 dias após a infecção, foram pesados os 40 porcos restantes e classificados em dois grupos, taxa de crescimento alta e baixa, em função do seu GMD da inoculação até aos 35 dias pós-infecção. No dia 42 pós-infecção, todos os porcos foram pesados, abatidos e foi-lhes feito um exame detalhado post mortem. A avaliação macroscópica e microscópica das lesões pulmonares foi pontuada de 0 a 4. A avaliação microscópica da deplecção linfóide foi pontuada de 0 a 3. As pontuações mais elevadas reflectiram uma patologia mais grave.

Quais os resultados?

  1. O ganho de peso, depois da co-infecção, foi diferente nos grupos com GMD baixo (0,775 +0,075 kg) e GMD alto (0,903 +0,043 kg). Dos 50 porcos infectados com PRRS e PCV2, 10 necessitaram tratamento (20% de morbilidade). O peso final foi estatisticamente diferente entre ambos os grupos (52,5+5,3 kg contra 57,1+2,9 kg; p = 0,028).
  2. O grupo de alta taxa de crescimento teve uma menor replicação de PRRS, estatisticamente significativa, medida atreavés da área sob a curva aos 42 dias. Os dados de PCV2 mostraram uma grande variação, mas indicaram uma tendência para a redução da virémia no grupo de alta taxa de crescimento.
  3. Os porcos com alto índice de crescimento tinham lesões pulmonares de menor severidade.
  4. No total foram detectadas 29 famílias e 112 espécies microbianas. A microbiota dos porcos de alto crescimento teve uma maior diversidade, um ratio maior de Firmicutes:Bacteriodetes, mais Rumincoccaciae, Streptococcaceae e menos Methanobacteriaceae.

Que conclusões são extraídas deste trabalho?

A diversidade e a composição da microbiota, podem influenciar o resultado clínico e a productividade após as infecções com PRRSV e PCV2 em porcos.

O estudo confirma o impacto no crescimento das co-infecções por PRRS e PCV2 inclusive quando os porcos não mostram sinais clínicos evidentes.

<p>Enric marco</p>A visão a partir do campo por Enric Marco

É incrível ver de perto como evolui a ciência. Sempre acreditámos que manter a saúde intestinal era benéfico, mas nunca tínhamos imaginado o importante que pode ser. Com as técnicas de biologia molecular das que dispômos hoje em dia, é possível estudar a microbiota com mais pormenor e, portanto, estabelecer relações antes impossíveis. Os primeiros trabalhos que relacionavam alterações na microbiota com problemas de saúde, diferentes dos intestinais, aparece, em medicina humana, concretamente estudando alguns dos problemas que aparecem nos pacientes infectados pelo vírus da SIDA. Nestes doentes, encontrou-se uma relação entre certos perfis de microbiota e o desenvolvimento que ficou conhecido como envelhecimento precoce. Em medicina veterinária já tinham sido publicados artigos que relacionam a microbiota dos leitões de poucos dias de vida, com a predisposição para sofrer, ou não, de processos diarreicos no pós-desmame, mas o presente artigo, relaciona diferentes perfis de microbiota com a maior ou menor gravidade na clínica, lesões e carga viral numa infecção conjunta com os vírus do PRRS e PCV2, o que abre uma janela de oportunidades.

A possível manipulação da microbiota intestinal poderá ser um instrumento muito útil na clínica suína, especialmente nestes tempos em que a redução do uso dos antimicrobianos passou de ser objectivo de alguns para uma necessidade de todos. No entanto, e infelizmente, ainda não se sabe como manipular para que mude para um perfil concreto. Lembro-me de inúmeros métodos para testar:

Podem ser aplicados, em porcos, técnicas de trasplante fecal como as que são aplicadas nos humanos? O feed-back deveria ser feito de modo diferente ao que se faz hoje, ou seja, utilizando fezes de animais sãos e não doentes? Poderiamos manipular a microbiota de leitões mudando a das suas mães?

Recordo uma palestra de Fernando Fariñas em que enfatizava a importância do sistema imunitário intestinal e creio recordar que referiu que 70% das células do sistema imunitário se encontravam no intestino. À vista dos resultados do presente trabalho, parece que dependendo de que perfil de microbiota se tenha, a resposta imunitária será beneficiada ou não em presença de certos processos. E possivelmente, de futuro, saberemos se estes perfis de microbiota deverão ser diferentes para melhorar a resposta a diferentes processos, ou apenas com o conseguir um perfil concreto já melhoramos a resposta imunitária a tudo. Não tenho dúvidas de que este tipo de trabalhos nos apresentam um mundo de oportunidades que possivelmente veremos que se convertem em realidade nos próximos anos.

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