0
O Circovirus Suíno tipo 2 (PCV2) foi identificado como o agente etiológico responsável pelo síndrome de falta de crescimento multissistémico pós-desmame (PMWS) - uma das doenças mais importantes e prejudiciais para os porcos a nível mundial. É interessante constatar que a presença de vírus por si só não é suficiente para desencadear os sinais clínicos, mas é necessária uma complexa interacção entre o vírus, o ambiente, as práticas de maneio e outros agentes patogénicos. Como consequência disso, a gravidade da doença é altamente variável e o diagnóstico difícil. A complexidade é ainda maior com a existência de infecções subclínicas por PCV2 (PCV2SI), com porcos infectados pelo vírus que não apresentam sinais clínicos, à excepção de um crescimento reduzido. Estes porcos podem apresentar também maior susceptibilidade a outros agentes patogénicos e às doenças correspondentes.
Perante esta situação, como determinar o impacto económico do PMWS e das infecções subclínicas devidas ao PCV2 numa exploração e que medida de controlo é a mais rentável? Estas, com efeito, são perguntas muito difíceis de responder e que são abordadas no nosso estudo.
Em primeiro lugar é necessário determinar a gravidade da doença na exploração. Obviamente, o impacto económico da doença e a rentabilidade de uma medida de controlo serão diferentes dependendo da gravidade na afectação da exploração. Num inquérito realizado sobre 147 explorações suínas do Reino Unido foi identificada uma correlação entre três parâmetros: a mortalidade pós-desmame, a morbilidade do PMWS (quantidade observada de animais com PMWS) e a percentagem de porcos infectados pelo PCV2 numa exploração. Foi criada uma "pontuação de gravidade do PMWS" de 0 a 10 através da combinação destes três parâmetros, indicando se a exploração se encontrava afectada pela doença de forma leve (<4,5), moderada ou alta (> 6).
Em segunda instância, para calcular o custo da PMWS e da PCV2SI é importante identificar quais são os custos e benefícios extras gerados por estas doenças. São definidos diferentes tipos de porcos doentes: porcos com sinais clínicos de PMWS que morrem (PMWS-D), porcos com sinais clínicos de PMWS que se recuperam (PMWS-R), porcos infectados que apresentam unicamente crescimento lento (chamados aqui como porcos com infecção subclínica que sobrevivem - Sub-S) e porcos que morrem devido a outras doenças ou síndromes potenciados pela infecção sub-clínica por PCV2 (Sub-D). Utilizando os dados de referência do Reino Unido e os parâmetros de doença obtidos de um estudo experimental sobre a PMWS, foi calculado que o custo médio de cada porco foi de: 84£ para os PMWS-D, 25£ para os PMWS-R, 83£ para os Sub-D e de 8£ para os Sub-S. Sabendo quantos destes porcos com diferentes pontuações de gravidade para o PMWS estão presentes numa exploração, foi estimado que o custo total da PMWS e PCV2SI era de 21£/porca/ano, 108£/porca/ano e 245£/porca/ano para explorações afectadas de forma leve, moderada e alta, respectivamente. Por outro lado foi observado que, a nível de exploração, o custo agregado dos porcos com infecção subclínica foi maior que o custo agregado dos porcos com PMWS (Figura 1).
Figura 1. Custo da PMWS e PCV2SI para diferentes níveis de severidade da PMWS (Alarcon et al, 2013)
Uma vez estimado o custo das doenças, pode ser calculado o benefício de aplicar diferentes estratégias de controlo. As medidas de controlo têm como finalidade a eliminação dos factores de risco, como por exemplo corrigir medidas de biossegurança deficientes, alta densidade de animais, dietas pobres e co-infecções. A vacinação demonstrou também ser uma medida eficaz para o controlo do PMWS. O Royal Veterinary College desenvolveu um modelo que simula a produção de porcos numa exploração com uma determinada pontuação de gravidade de PMWS. Foi utilizado este modelo para avaliar qual seria o custo extra e os benefícios adicionais das seguintes medidas de controlo: 1) redução da densidade populacional, 2) melhoria das medidas de biosegurança, 3) melhoria das dietas, 4) despovoamento total e repovoamento, 5) vacinação contra o PCV2 e 6) qualquer combinação destas.
Os resultados do modelo mostram que, para as explorações afectadas de forma moderada, utilizar apenas a vacinação contra o PCV2 foi a estratégia mais rentável (um criador pode poupar em média 14.739/100£ porcas em 5 anos). No entanto, para explorações com afectação alta, a estratégia mais rentável foi, ou apenas a vacinação ou vacinação complementada com boas medidas de biossegurança (poupança de 57.648£/100 porcas em 5 anos). Apenas vacinar contra o PCV2 foi unicamente rentável para as explorações com uma pontuação de gravidade de PMWS superior a 4 (Figura 2). As explorações com uma pontuação de gravidade menor que 4 podem ver-se afectadas pelas doenças, mas a um nível em que não é rentável vacinar.
Figura 2. Valor actual liquído (VAL) da vacinação para PCV2 só para diferentes níveis de severidade do PMWS (Alarcon et al., 2013).
O modelo económico descrito aqui está disponível na rede. Foi criado com o objetivo de proporcionar uma ferramenta de apoio a criadores e veterinários para, mediante a introdução dos seus próprios dados, calcular a gravidade da PMWS na sua exploração, o custo da doença e qual seria a medida de controlo mais rentável. Os resultados devem ser discutidos com os veterinários.
Nota do Tradutos: cotação indicativa 1£ = 1,186€ (19/09/2013)
