Uma consulta bastante frequente por parte dos produtores refere-se a como alimentar a suas porcas gestantes, especialmente após a adaptação das instalações à lei do bem-estar.
A maioria das empresas de alimentação e de genética dão recomendações gerais que, embora possam estar basicamente correctas, devem ser entendidas como orientativas, devendo ser adaptadas às caracteristicas específicas das rações e da exploração.
Normalmente as rações são concebidas com uma determinada concentração de energia, e os outros nutrientes ajustam-se em função da mesma. Para determinar a quantidade de ração que deve ser fornecida a cada animal, deve-se calcular as necessidades energéticas desse animal, e depois dividir pela concentração energética da ração.
Por exemplo, se tivermos um lote de porcas alojadas em jaulas a 20ºC às quais se calcularam necessidades de 5.880 kcal/dia de Energia Líquida por porca, se for dada uma ração de 2.100 Kcal, precisamos de 2,8 kg de ração/dia. Se a ração fosse de 2.200 Kcal necessitariamos 2,67 kg/dia e 2,56 kg/dia para uma ração de 2.300 Kcal.
Se as porcas deste exemplo estivessem alojadas a 15ºC, necessitariam de consumir mais 0,44 kg de ração por dia para manutenção, mas se em vez de jaulas estivessem em grupo e à mesma temperatura, só necessitariam de 0,05 kg/dia.
Se estas mesmas porcas tivessem um nível de atividade física média-alta, por exemplo, 6 horas em pé por dia, necessitariam de mais 0,175 kg/dia de ração.
As necessidades individuais das porcas também podem ser muito diferentes dentro da mesma exploração, especialmente em função das necessidades de crescimento e recuperação da perda de peso que sofreram na lactação anterior. Por exemplo, uma porca multípara de 230 kg à cobrição e 255 kg ao parto que ganhe 3 mm em P2 na gestação, necessitaria de 0,47 kg de ração/dia, enquanto que uma primípara que ganhe o mesmo P2, coberta com 140 kg pesando 185 kg ao parto, necessitaria de 0,72 kg de ração/dia.
Como vemos o cálculo das necessidades das porcas gestantes é complexo e varia não só entre explorações, mas também entre os animais da mesma exploração.
O uso de modelos matemáticos
Para simplificar os cálculos e o maneio na exploração, podem ser utilizados modelos matemáticos, por exemplo, o NRC 2012, o INRA, etc. Estos modelos podem ser adaptados às condições específicas de cada exploração: - Genética da exploração; - O modelo tem as recomendações de peso e P2 à cobrição e parto nos diferentes ciclos das principais linhas genéticas.
- Maneio da exploração. Dias de gestação em que se mudam as porcas da nave de controlo de cobrição à gestação confirmada e daqui para a maternidade.
- Condições ambientais. São dadas pelo sistema de alojamento (individual ou grupos), o nível de actividade das porcas e as temperaturas em cada uma das naves.
- Características nutricionais dos alimentos usados em cada uma das naves.
- Total de leitões nascidos em nulíparas e multíparas.
A partir desta informação, o modelo elabora uma curva de alimentação. Na figura 1, podemos ver um exemplo de uma simulação. Na tabela superior estão os parâmetros que definiram a simulação. O gráfico da esquerda representa a entrada de energia necessária para que a porca tenha o crescimento em peso e P2 “normal” para essa linha genética, neste caso 24 kg de PV e 3 mm. Também é possível ver a partição de energia para as diferentes necessidades: crescimento maternal e fetal, manutenção, etc.
No gráfico da direita está a curva adaptada às porcas que cobriram com pior ou melhor condição que a “normal”. O produtor deveria atribuir a cada uma das porcas a curva de alimentação correspondente em função da sua condição corporal à cobrição.
O desenho da curva é feito de modo a que todas as porcas tenham a mesma condição corporal no momento da passagem à gestação confirmada. A partir desse momento há dois planos de alimentação: o normal para todas as porcas que atingiram o objetivo de CC, e um superior (vermelho) para aquelas que foram cobertas muito magras e não chegaram à CC objetivo.
Finalmente, nas 3 últimas semanas de gestação todas as porcas têm o mesmo consumo de ração. A redução da última semana deve-se à mudança da ração de gestação para a ração de lactação, mais concentrada.
Multíparas
Peso médio cobrição | 215-250 | P2 objetivo à cobrição | 12 a 14 | P2 objetivo parto | 16 | Nascidos totais | i14 | ||
Periodo de gestação | Dias | % energia média | Consumo kg/dia | Local | Sistema de alojamento | Temperatura ambiente | Atividade (minutos) | Ração | Ração €/Ton |
Pós-cobrição | 107 % | 2,9 | Cobrição total | Individual | 20 | Normal | A | 270 | |
Início | 28 | 107 % | 2,9 | ||||||
Metade | 65 | 92,8 % | 2,5 | Gestação | Grupo | 20 | Normal | A | 270 |
Final | 14 | 115 % | 3,1 | ||||||
6 | 115 % | 2,9 | Maternidade | Individual | 20 | Normal | S | 310 | |
Pré-parto | 1 | 75 % | 1,9 | ||||||
Total | 114 | 100 % | 310 |
Figura 1. Exemplo de uma simulação (OptifeedModel)
Como exemplo da variação que pode existir nas necessidades, se na simulação anterior pusermos as porcas a 16ºC e a mesma ração em pré-parto que na gestação, o resultado é a Figura 2.
Vemos como as necessidades de ração subiram de 310 para 321 kg. Aparece uma zona amarela no gráfico da esquerda que representa as necessidades de termo-regulação. Finalmente, na última semana de gestação não baixa a quantidade de ração necessária, uma vez que continua a ser a mesma ração.
Multíparas
Peso médio cobrição | 215-250 | P2 objetivo à cobrição | 12 a 14 | P2 objetivo parto | 16 | Nascidos totais | 14 | ||
Periodo de gestação | Dias | % energia média | Consumo kg/dia | Local | Sistema de alojamento | Temperatura ambiente | Atividade (minutos) | Ração | Ração €/Ton |
Pós-cobrição | 107 % | 3,0 | Cobrição total | Individual | 16 | Normal | A | 270 | |
Início | 28 | 107 % | 3,0 | ||||||
Metade | 65 | 92,8 % | 2,6 | Gestação | Grupo | 16 | Normal | A | 270 |
Final | 14 | 115 % | 3,2 | ||||||
6 | 115 % | 3,2 | Maternidade | Individual | 20 | Normal | S | 310 | |
Pré-parto | 1 | 75 % | 2,1 | ||||||
Total | 114 | 100 % | 321 |
Figura 2. Exemplo de uma simulação com uma temperatura ambiental inferior (OptifeedModel)
Conclusões
As necessidades das porcas gestantes são muito variáveis entre explorações e dentro destas entre porcas. Para facilidade de cálculo e para melhorar a precisão dos programas de alimentação a aplicar em cada exploração é conveniente a utilização de modelos matemáticos de simulação.