Descrição da Exploração
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A exploração foi crescendo à medida que as necessidades iam surgindo, pelo que não pode ter perfeitamente as condições de higiene e movimento dos animais, apesar de que os donos tenham tentado adaptar os lugares de alojamento a um programa higio-sanitário.
Na exploração já se têm dado casos de mortes súbitas por doenças de aparecimento esporádico, como clostridiose ou salmonelose.
Aparecimento do Caso
O responsável pela exploração avisa-nos porque começaram a aparecer porcas mortas sem sintomatologia aparente.
Visita à Exploração (dia 0)
No momento da visita encontramos um animal morto há umas 6 horas, sendo esta a terceira porca morta em 24 horas.
Realizamos a necroscopia da mesma, onde se constatam os seguintes sinais:
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Perguntamos ao tratador se o resto das porcas tinham morrido em situações similares, e com sintomas parecidos, ao que ele respondeu que não, que as outras duas porcas morreram na maternidade, antes do parto, sem sintomas aparentes, e sem ter relação com problemas ante-parto.
Como não temos os cadáveres, não se realiza a investigação.
Perguntando ao encarregado pelo resto dos animais da exploração, informa-nos que não há problemas específicos, salvo as tosses, ou as pequenas diarreias ocasionais de leitões desmamados, ou de recém-nascidos, mas que respondem perfeitamente aos tratamentos aplicados.
Medidas aplicadas
Dado o historial da exploração, onde todos os anos aparecem casos de mortes súbitas por clostridios, e a boa resposta aos tratamentos antibióticos aplicados, sugerimos o tratador que faça uma medicação na ração mediante antibioterapia adequada.
O mesmo tempo relembramos como se devem usar as vacinas coli-clostridium, que se aplicam correctamente (30 dias pré-parto), e apontamos para a possibilidade de vacinação das porcas, no caso de que os casos de mortes continuem a aparecer, apesar da medicação.
Nova chamada
Voltam a avisar-nos de novo, devido à morte de uma porca, apesar de estar a comer ração medicada.
Visita à Exploração (dia 18)
Vamos à exploração e observamos o cadáver do animal, que apresenta uma ligeira zona de petequias na zona inguinal e alguma espuma na boca, não no focinho.
Realizamos a necroscopia do animal e a única coisa que encontramos é um processo de pneumonia enzoótica, de grau 1, sem mais sinais, o que não nos dá nenhuma pista sobre a possível causa da morte, já que não existem indicios de que tenha sido um clostridium, como nos casos anteriores.
Dado que o cadáver não nos fornece mais dados, começamos a perguntar ao tratador sobre outras possíveis causas de morte. Este indica-nos que as mortes acontecem num local determinado (é a terceira porca que morre no mesmo sítio), e que, geralmente, as porcas da maternidade em questão estão sempre "alerta".
É curioso, indica, que as porcas de uma fila não param de se mexer, enquanto que as da fila em frente têem certas dificuldades na toma de alimentos, mas não de forma continua, e sempre com maior moderação que as porcas da outra fila.
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Quando o filho do dono quer aproximar-se de uma das porcas que permanecem de pé, sofre uma descarga eléctrica na mão, que o obriga a soltar a jaula.
Constatamos posteriormente que existem duas derivações de electricidade; a primeira, que afecta as jaulas da zona direita, onde a voltagem é quase igual à de trabalho (220 volts), sendo a da esquerda de menor intensidade, ainda que seguramente esta tensão variaria com as diferentes circunstâncias da exploração, afectando de maneira diferente os animais, não sendo assim na zona direita, onde a tensão se mantinha igual, e onde as caracteristicas de alojamento dos animais (depois da refeição, com solos mais ou menos molhados, etc), variariam a intensidade da corrente, produzindo as baixas descritas anteriormente.
Conclusões
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Por outro lado, ao encontrar os sinais de anatomia patológica que indicavam uma clostridiose na porca morta na gestação, não deu possibilidade de pensar noutro agente etiológico diferente, sobretudo dado o historial prévio da exploração.
Foi uma sorte que o problema que provocou as mortes súbitas das porcas não tivesse provocado um problema similar nos trabalhadores que tratavam dos animais.
Comentários
O caso que nos ocupa este mês apareceu numa exploração de ciclo fechado, com uns 20 anos de idade dedicada à produção de leitões para venda directa e engorda para matadouro, onde apareceram porcas mortas, em princípio sem sintomatologia aparente.
Após a visita constatou-se que os animais estavam a sofrer um choque eléctrico, consequência de uma instalação defeituosa que o próprio tratador que, em função das novas necessidades tinha ido construíndo novas zonas da exploração e instalando todo o material que necessitava, sem aplicar as medidas de protecção necessárias.
Em geral, as condições de maneabilidade das explorações, sobretudo na zona onde trabalhamos, foram-se deteriorando com o tempo e, possivelmente, com a evolução dos preços de mercado, que influenciam os suinicultores, fazendo com que estes tentem reduzir custos, muitas vezes nas zonas e locais onde menos devem de os reduzir.
As explorações com mais de 20 anos, e que foram acrescentando zonas de criação à medida das suas necessidades, na maioria dos casos são realizadas pelo mesmo tratador, que constrói as paredes, põe a canalização, e realiza as instalações eléctricas, sem demasiadas protecções.
Estas instalações não se isolam convenientemente, e dão lugar a fugas, especialmente após as lavagens, ou obras complementares que se acrescentam ao lado das já existentes.
Ainda que não seja demasiado frequente, as porcas podem sofrer um choque eléctrico, devido a que entram em contacto com fugas eléctricas produzidas por essas derivações, e que confundem os possíveis problemas infecciosos, dado que os sintomas próprios da electrocussão não são excessivamente evidentes.
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